O Comitê Olímpico do Brasil (COB) enviará uma delegação de cerca de 200 atletas, divididos em grupos, de julho a dezembro, para treinamentos na Europa. A medida faz parte do Programa Emergencial de Apoio ao Sistema Olímpico. A missão deverá incluir atletas e oficiais de diversas modalidades que disputarão os Jogos de Tóquio 2020. O COB arcará com passagem, hospedagem e alimentação da delegação ao longo de seis meses.
Em entrevista ao programa Gaúcha2020, da Rádio Gaúcha, neste sábado (13), o diretor de esportes do COB, Jorge Bichara, falou sobre esta ação e outras ações que vem sendo realizadas durante este período de pandemia do novo coronavírus.
O que ocorre agora pode ser tratado de que forma, já que foi necessária uma mudança de planos com o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio ?
— É um momento de reprogramação. Em virtude do adiantamento, todo processo tem que ser refeito e isso não envolve apenas a logística de uma viagem, mas principalmente o aspecto emocional. Todos já estavam preparados e programados. Os Jogos são momentos de definição na vida e isso impacta todos os envolvidos no mundo olímpico, não só os atletas.
Como o COB se organizou para buscar alternativas para o retorno da preparação olímpica ?
— O COB buscou junto às confederações, soluções que possibilitassem uma forma de voltar ao período de preparação esportiva. Ainda estamos num momento de falar muito sobre doença, morte e isso é péssimo, mas é uma realidade mundial e especialmente do Brasil. A nossa visão é que também temos que falar em saúde, preparação e desempenho e buscar um planejamento dentro de um cenário de muitas incertezas.
Como se chegou a definição de que enviar uma Missão para a Europa seria o ideal ?
— A saída para a Europa, para algumas modalidades é uma opção interessante. Buscamos países que estejam num melhor estágio de controle da covid-19 e Portugal se apresentou como uma dessas nações. Conversamos com o Comitê Olímpico Português e começamos os trâmites. Estamos avançando num planejamento que permita uma retomada gradual e progressiva da preparação, inicialmente física dos atletas, inicialmente entre julho e dezembro.
A escolha por Portugal também passou pelo fato de que o país servirá como principal base de aclimatação da delegação brasileira para os Jogos de Paris 2024 ?
— Esse plano já estava em andamento e alguns dos equipamentos que nós vamos enviar ou que já estão no Japão, o retorno deles seria direto para Portugal, onde vamos fazer nossa base de preparação para Paris 2024. Nesse aspecto casa bem um plano com outro e a condição de controle do novo coronavírus está bem avançada e eles tem um processo de flexibilização bem estabelecido e que é avaliado a cada 15 dias. Então definimos um protocolo rígido, com avaliação dos atletas antes de sair do Brasil e logo após chegar em Portugal, assim como procedimentos de segurança relacionados à movimentação no local e também quanto aos treinamentos.
A União Europeia anunciou recentemente que vai estabelecer restrições para a entrada de viajantes “não essenciais” de países onde a covid-19 não está controlada. De que forma isso poderá atrapalhar os planos do COB ?
— É um risco que já estava previsto desde o começo. Quando começamos a tratar com o Comitê Olímpico de Portugal e com os locais de treinamento tínhamos este risco identificado. Todas as informações indicam a possibilidade da ida dos atletas brasileiros e esse cenário é avaliado a cada 15 dias. Nós recebemos essa informação de um impedimento proposto pela União Europeia e vamos aguardar esse posicionamento e entender em que nível eles podem impactar a ida dos atletas nesse momento e buscar contatos com os órgãos públicos de Portugal e as entidades que estão nos ajudando nesse processo de preparação e cumprir as determinações que forem apresentadas em relação à viagem segura dos atletas. Se não for possível nesse momento, temos que entender tudo que possa ser feito e organizar de uma forma positiva para ambos os países, para que nós não venhamos a levar risco para Portugal e ao mesmo que os atletas brasileiros tenham segurança para realizar seus treinamentos. Se for possível nós vamos conforme planejado, senão vamos aguardar e ir mais à frente.
Todas as informações indicam a possibilidade da ida dos atletas brasileiros
JORGE BICHARA SOBRE PROIBIÇÃO DA UE DO INGRESSO DE BRASILEIROS NO CONTINENTE
O COB lançou na sexta-feira, o Guia para a Prática de Esportes Olímpicos no Cenário da covid-19. De que forma ele foi elaborado ?
— É um documento denso, com informações relevantes para todos que estão envolvidos na preparação de atletas, com informações úteis para o replanejamento da programação esportiva. Envolve vários itens que compõe o treinamento de alto rendimento, como preparação mental, artigos científicos, disponibilizamos 70 protocolos produzidos por comitês, federações internacionais, para servir como material de consulta. Temos um produzido pelo Grêmio Náutico União, como o retorno da esgrima, que foi aprovado pela Confederação Brasileira da modalidade.
O lançamento deste Guia está diretamente ligado a retomada gradual das atividades no Centro de Treinamento Time Brasil, no Rio de Janeiro ?
— Nós seguimos todas as determinações dos governos municipal e estadual e mesmo quando acontecer a liberação, a nossa intenção ainda será a de aguardar um tempo para observar os impactos dentro do ambiente e do entorno do Centro de Treinamento. O nosso Guia está sendo avaliado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeira e pela Secretaria Estadual de Saúde e se for necessário faremos ajustes. Mas confiamos que é um documento de alta qualidade e que poderá ser muito útil.
Muitos atletas se sentiram frustrados com o adiamento dos Jogos. De que forma o COB trata esta situação e trabalha para que eles não sofram uma perda muito grande dentro do ciclo olímpico ?
— Um cenário difícil quando se precisa de informações para tomar decisões e não as temos. Não existem dados precisos para tomar decisões nem a média prazo. Então buscamos segurança e em planos de curto prazo, mesmo enfrentando algumas incertezas no caminho. Um replanejamento mental é fundamental para que o atleta encontre estímulo e motivação para manter um nível de desempenho nos treinamentos e encontrar sua melhor condição durante a principal competição. Eles passaram por momentos de frustração, a grande maioria, porque já tinham esse plano na frente. Outros que estavam mais atrasados a preparação até ficaram felizes com o adiamento. Mas o importante é ser objetivo e reorganizar o processo de preparação dentro do que é possível fazer no momento.
A reprogramação para Tóquio já está em andamento. E de que forma está o planejamento para Paris 2024 ?
— Esse processo para Paris já está em andamento. Os aspectos logísticos, nós temos que prever com antecedência até porque será um contingente enorme de pessoas do mundo inteiro, num mesmo lugar durante os Jogos. Então existe uma concorrência mundial pelas melhores locais de adaptação. O Brasil leva uma equipe grande, cerca de 600 pessoas, com atletas, corpo técnico e médico e isso necessita de um grande suporte logístico. Já fizemos duas visitas de inspeção a Paris, tivemos duas reuniões com o comitê técnico do Comitê Organizador local e já estabelecemos alguns acordos. com algumas bases de treinamento, como Portugal. Estamos confiantes que será uma preparação adequada.