O futsal do Rio Grande do Sul se movimenta para tentar retomar as competições no segundo semestre deste ano. Mais do que os eventos esportivos, superar as dificuldades econômicas provocadas pelo novo coronavírus pode garantir que clubes continuem exercendo importante papel social no Estado.
Presente em quase um quarto dos municípios gaúchos de forma estruturada, o futsal chega a pequenas cidades que não contam, por exemplo, com clubes de futebol. Por meio de ações de leis de incentivo que proporcionam parcerias com as prefeituras e até o governo federal, ou por apoio de empresários locais, as equipes da modalidade promovem ações em diversas regiões do Estado.
Um exemplo de ação social de sucesso ocorre em Lagoa Vermelha, município com pouco menos de 30 mil habitantes a 260 quilômetros de Porto Alegre. Em 2019, o Lagoa Esporte Clube atendeu a quase 600 crianças e adolescentes que praticam esportes do sub-7 até o sub-20. Além do futsal, eles também treinam vôlei e futebol e contam com assistências de dentista, nutricionista e psicólogo contratados pelo clube.
A equipe foi criado em 2014 a partir da junção dos tradicionais Milan e Lagoense ainda com o nome de Lagoa Futsal. Em 2018, virou Lagoa Esporte Clube quando também passou a trabalhar com sua base no futebol e no vôlei. No ano passado, o clube garantiu vaga na elite do futsal gaúcho ao conquistar o título da Liga 2. A ideia para 2020 era aproveitar a chegada à Liga 1 para ampliar os projetos sociais, que acabaram interrompidos em razão da pandemia.
— O projeto social é o nosso carro-chefe. É o que nos mantém sempre dispostos e motivados a trabalhar. A gestão do Lagoa é composta por empresários da região, que não são remunerados. Todos têm suas profissões fora do futsal e buscam colaborar para manter o clube ativo — afirma o presidente do clube, Edeivison Vigo.
Guarany, de Espumoso, e AMF, de Marau, também possuem grandes projetos que chegam a atender, cada um, mais de 200 crianças carentes por ano. A Sase, do pequeno município de Selbach, com pouco mais de quatro mil habitantes, encontrou outra forma de colaborar. O clube aproveita os jogos de maior público em seu ginásio na temporada para doar metade de suas rendas para entidades.
— A gente usa esses jogos que lotam o nosso ginásio para fazer essas ações. Ano passado aproveitamos os jogos contra a ACBF e o nosso clássico contra a ASIF, de Ibirubá. Separamos 50% do que arrecadamos com bilheteria e copa para doações. O dinheiro que temos para investir no clube vem de patrocínios locais. Essa é uma forma de retribuir para a cidade — explica o presidente da Sase, André Luís Wendling.
A própria organização da Liga Gaúcha lançou uma ação solidária para ajudar pessoas que têm sofrido com a pandemia. O plano "Futsal Solidário" visa arrecadar fundos junto a torcedores que serão revertidos em doações de cestas básicas. A ACBF, o Passo Fundo Futsal e o Guarani, de Frederico Westphalen, também têm desenvolvidos projetos próprios de ajuda em suas regiões.
Da ação solidária ao time profissional
Desde o começo da década passada, a ALAF desenvolve projetos sociais para moradores dos bairros mais pobres de Lajeado. Em 2019, 243 crianças e adolescentes foram atendidos na ação social. Eles participam de atividades no clube de duas a três vezes na semana, onde, além de treinos, recebem alimentação.
Foi através do projeto social que Matheus Andrigo, o Teteu, chegou à ALAF aos 12 anos de idade. Motivado pela possibilidade de praticar o futsal, o garoto do bairro Conservas, um dos mais pobres da cidade, ganhou a oportunidade de transformar a atividade em profissão. Em 2017, aos 17 anos, ele se tornou jogador do time principal de Lajeado.
— Meu primo começou a jogar no projeto e me convidou para ir junto. Para a gente que mora em bairros com a criminalidade alta, esse projeto servia para tirar as crianças da rua. Saímos das ruas, daquele pensamento de quem ficava ali parado nas esquinas. Eles forneciam lanche, o que para a gente já era uma grande ajuda — recorda Teteu, que seguiu na ALAF até o ano passado.
As atividades do projeto social estão paradas em razão da pandemia. O diretor financeiro da ALAF, Alexandre Heisler, no entanto, revela que o clube busca uma forma de voltar a atender as crianças no momento de distanciamento social.
— A gente tem conversado com o município. As crianças não podem treinar, mas podemos ajudá-los de alguma forma — ressalta.
Teteu torce para que as ações possam retornar o mais rápido possível.
— Digo porque frequento os bairros pobres. As crianças não estão ficando em isolamento, elas seguem nas ruas. Vejo criança na rua jogando bola, todo mundo junto. Se voltar o projeto, pelo menos elas estarão melhor cuidadas — afirma.
Data para a Liga Gaúcha
Os 12 clubes que disputam a Liga 1, a divisão de elite da Liga Gaúcha, chegaram a um acordo para que a competição tenha início em 29 de agosto em reunião realizada por videoconferência durante a semana. A confirmação da realização do torneio, no entanto, ainda dependerá de aprovação dos órgãos de saúde municipais e estadual. Já a Série Ouro, organizada pela Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS), projeta início para 5 de setembro.