O tênis ainda não tem previsão de retorno. Sem jogos desde março, em função da pandemia do novo coronavírus, os circuitos da ATP e WTA já cancelaram diversos torneios e a indefinição quanto ao retorno começa a causar prejuízos técnicos, físicos e financeiros, especialmente para aqueles que não estão no grupo que regularmente disputa os grandes campeonatos.
Número 48 do ranking mundial de duplas da ATP, Marcelo Demoliner relata como tem sido a rotina neste período de quarentena.
— Mudou muito da nossa rotina. A gente está em quarentena, em casa, e treinando muito pouco. Nessa parada de mais de um mês, eu consegui jogar umas cinco vezes. Todo mundo está nessa, mas quando a gente souber quando vai voltar a jogar os torneios, em até seis semanas, consegue ficar em forma. Até lá é tentar manter a forma física - contou Demoliner ao programa Gaúcha 2020, da Rádio Gaúcha.
Apesar de vários prejuízos, a parada pode ajudar o gaúcho a cumprir um de seus objetivos, defender o Brasil em uma Olimpíada.
— Eu tenho um pouco mais de chances com adiamento. Eu tenho uma boa chance de participar. Se mantivesse (os Jogos de Tóquio) esse ano, eu estaria fora — observa sobre a disputa para ser um dos duplistas brasileiros nos Jogos de Tóquio.
Com três títulos do circuito da ATP, todos na série 250, o jogador gaúcho relata que está buscando tirar proveito do período em casa.
— Estou tentando ver de forma positiva, já que desde os 14 anos, quando saí de Caxias do Sul, eu ficava no máximo um mês em casa. Então estou tentando ficar o máximo com a família, a namorada. Essas coisas são positivas, mas claro que prejudica o financeiro até porque "no momento estou desempregado", já que não temos salário fixo e ganhamos a cada torneio. Eu ainda tenho patrocínios, mas outros não tem isso e "plantam pela manhã para colher à noite — afirma em tom de preocupação com colegas de profissão que já enfrentam dificuldades.
Sem jogos, sem rotina e com muitas preocupações sobre o futuro, o aspecto psicológico não pode ser descuidado neste momento.
— O aspecto psicológico eu venho procurando melhorar com pessoas da equipe (Instituto Tennis Route) e eu faço esse trabalho via skype. É importante manter essa conexão mental, para quando voltar não ter uma perda tão grande por causa da parada — relata o tenista que tem no currículo duas semi de duplas mistas em Grand Slam - Aberto da Austrália de 2018 e Wimbledon em 2017.
Para Demoliner, a longa paralisação poderá gerar algumas surpresas, assim que as competições forem reiniciadas.
— Eu acho que todo mundo está no mesmo barco, treinando pouco, restrito à muitas coisas. Claro que os top tem quadra em casa, uma estrutura melhor e podem treinar e ter benefícios. Mas são poucos. Eu acredito que a volta vai ser muito nivelada e pode ter surpresas, sim — analisa o jogador que tem três partidas de Copa Davis e 100% de aproveitamento.
Sem jogar desde a semifinal do Aberto da Austrália deste ano, o suíço Roger Federer passou por uma artroscopia no joelho direito, em fevereiro. Para Demoliner, o momento de exceção poderá auxiliar no retorno do maior vencedor de Grand Slam às quadras.
— Para o Federer a parada foi boa, já que ele fez a cirurgia no joelho e só ia voltar na temporada de grama (junho). Mas para o Djokovic e o Nadal não sei se foi legal. O Nadal chegou a dizer que não tem treinado nada e aproveitado pra descansar. A gente viaja bastante, eu, por exemplo umas 40 semanas por ano e é muito desgastante. O Nadal ainda mais — avalia o tenista gaúcho, que este ano ergueu o troféu do ATP 250 de Córdoba, na Argentina, ao lado do holandês Matwé Middelkoop.
Com a incerteza do retorno do circuito internacional neste ano, Marcelo Demolier relata que os jogadores brasileiros estão se organizando para realizar competições nacionais. Em conversa com a Confederação Brasileira de Tênis (CBT), eles estão buscando montar um circuito nacional para ajudar os atletas e isso será definido depois de a ATP informar o que irá fazer.
— Se o recomeço (do circuito mundial) ficar para novembro poderemos ter um circuito nacional. A ideia é fazer de duas a três semanas de pré-temporada com os jogadores brasileiros em Florianópolis. E depois deste período, um circuito de seis a oito etapas com quatro a cinco dias, com jogos de simples e duplas. O World Team Tennis, que acontece nos Estados Unidos, é um modelo pra isso. São jogos de simples, duplas, duplas mistas e os jogos poderão ser televisionados, já que devem acontecer de portões fechados — projeta o campeão de 18 torneios Challengers e 16 Futures nos circuitos da ATP e ITF (Federação Internacional de Tênis).
Marcelo Demoliner diz que a ideia surgiu porque os atletas acreditam que o tênis deve ser uma das últimas, senão a última, das modalidades a ter o retorno de seus torneios.
— Dificilmente o tênis vai voltar esse ano. É um esporte muito global, pelas restrições de cada país e deve ser um dos últimos a voltar à normalidade, exatamente por restrições de entrada e saída de cada país —diz o jogador de 31 anos.