Fomos privilegiados nas últimas três edições dos Jogos. De Pequim 2008 ao Rio 2016, testemunhamos os dois maiores mitos das Olimpíadas dividirem os holofotes – um deles, aliás, já havia feito "voo solo" em Atenas 2004. Na primeira semana, Michael Phelps colecionava medalhas e recordes. Na última semana do evento, era a vez de Usain Bolt dar show, dentro e fora das pistas.
Pois, todos sabem, o maior campeão olímpico de todos os tempos e o mais rápido velocista da história deram adeus aos Jogos. Tóquio 2020 deverá consagrar novos heróis do esporte. Mas não na mesma dimensão alcançada pelo nadador americano e pelo corredor jamaicano.
E como serão distribuídas as peças do tabuleiro nas provas dominadas por Phelps e Bolt? Caso os resultados desta temporada sejam reproduzidos no Japão, o protagonismo será compartilhado por diferentes atletas. Nas duas disputas mais rápidas do atletismo, uma dupla promete retomar a hegemonia americana.
No recente Mundial de Doha, Christian Coleman venceu os 100m, e Noah Lyles não deu chances nos 200m. Desde já favoritos ao ouro, ambos terão o desafio adicional de superar os recordes do jamaicano, intactos há uma década. Para o ex-velocista Robson Caetano, ainda hoje recordista sul-americano nos 100m (10s), em especial o tempo de 9s58 de Bolt dificilmente será batido. Mas não fecha a porta para surpresas.
— Tudo é possível. Quando Michael Jonhson fez 19s32 nos 200m (em Atlanta 1996), diziam que o recorde iria durar até 2025, 2030. Até que surgiu Bolt... — diz o medalhista de bronze nos 200m em Seul 1988 e no revezamento 4x100m em Atlanta 1996.
Na natação, Phelps apresenta um leque maior para deixar de herança. Ao longo da carreira, o nadador foi especialmente hegemônico nos 100m e 200m borboleta e nos 200m e 400m medley. Dessas, apenas a prova mais curta da combinação dos quatro estilos ainda não apresenta candidato óbvio para 2020.
— Os 200m medley estão em aberto. As marcas da temporada foram muita fracas até aqui. Olha, não é de duvidar que Ryan Lochte (recordista da distância, de volta após 14 meses de suspensão por doping), possa entrar nessa briga, mesmo quase aos 36 anos — avalia Alexandre Pussieldi, treinador de natação e comentarista do SporTV.
Resta esperar 2020 para descobrir quem colocará no peito as medalhas antes reservadas a Phelps e Bolt.
OS SUCESSORES DE PHELPS
100m borboleta
Na prova em que o ex-nadador tem três ouros nos Jogos, Caeleb Dressel desponta como franco favorito. Aos 23 anos, o americano é o atual bicampeão mundial da distância. De quebra, com 49s50, bateu nesta temporada o recorde que era de Phelps desde 2009.
200m borboleta
Anote esse nome: Kristof Milak. Assim como Dressel, o prodígio húngaro desbancou neste ano outro recorde de uma década de Phelps. Com 1min50s73, o nadador de 19 anos foi campeão mundial na prova em que o americano também colecionou três ouros olímpicos.
200m medley
Prova sem favorito. Daiya Seto (JAP) foi campeão mundial sem empolgar. Líder do ranking, Mitchell Larkin (AUS) não decidiu se competirá nessa distância nos Jogos, já que é forte nos 200m costas (foi prata em 2016), programada para o mesmo dia dos 200m medley em Tóquio.
400m medley
Na distância mais longa dos quatro estilos combinados, Daiya Seto é o favorito. O japonês de 25 anos foi campeão em três dos últimos quatro Mundiais. Mas sua melhor marca (4min07s95) está longe de ameaçar o único recorde ainda em posse de Phelps (4min03s84).
E os revezamentos?
Com Phelps no time, os EUA foram imbatíveis no 4x200m livre e sempre "medalharam" nos 4x100m livre e nos 4x100m medley em Olimpíadas. Nos dois últimos Mundiais, a equipe americana foi superada nos 4x200m por Grã-Bretanha (2017) e Austrália (2019). Nos outros revezamentos, venceu nos 4x100m livre e foi bronze no medley neste ano.
Os feitos do nadador americano
– Maior campeão olímpico da história, com 23 ouros (13 em provas individuais)
– No total, conquistou 28 medalhas, recorde nos Jogos
– Único atleta a conquistar oito ouros em uma mesma Olimpíada (2008)
– Único tetracampeão olímpico na natação (200m medley)
OS SUCESSORES DE USAIN BOLT
100m
Com os 9s76 que lhe valeram o título no Mundial de Doha, Christian Coleman tornou-se o sexto velocista mais rápido da história. Essa marca, por sinal, garantiria ao americano de 23 anos o ouro na Olimpíada de 2016, cinco centésimos mais rápido do que o tempo de Bolt no Rio.
200m
Noah Lyles, 22 anos, também comemorou o primeiro título mundial há 10 dias. Além dos feitos nas provas de velocidade, o americano tenta ocupar o espaço deixado por Bolt como "showman" das pistas. Sua melhor marca, 19s50, o coloca em quarto lugar no ranking histórico da distância.
E o 4x100m?
Bicampeã olímpica, a Jamaica sentiu a dificuldade que terá sem Bolt. Em Doha, nem chegou à final. E ainda viu o time americano ficar a menos de três décimos do recorde estabelecido em 2012 (36s84).
Os feitos de Bolt
- Oito ouros em três edições dos Jogos
- Único tricampeão olímpico dos 100m e dos 200m
- É dono de dois recordes mundiais, ambos de 2009:
100m: 9s58
200m: 19s19