"Eu falei que era uma questão de tempo. E tudo ia mudar, e eu lutei. Vários me disseram que eu nunca ia chegar, duvidei... Prosperei com suor do meu trabalho."
Esses são trechos da música Muleque de Vila, do rapper paulista Projota, a canção escolhida pelo brasileiro Daniel Martins, 20 anos, para simbolizar a conquista da medalha de ouro na prova dos 400m da classe T20, para deficientes intelectuais.
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– Me identifico com essa música – resumiu o campeão, que mora desde a infância na periferia de Marília, interior de São Paulo.
Daniel começou no esporte há seis anos. Participava de um projeto na cidade destinado a crianças carentes. Jogou futebol e praticou capoeira até se encontrar no atletismo. O técnico desde os primórdios é o professor de educação física Esquilo, que se orgulha de ter treinado também Thiago Braz, campeão do salto com vara na Olimpíada do Rio, outro mariliense. Para Esquilo, o ouro deve abrir as portas para Daniel.
– Ele mora em uma casa pequena com o pai, a mãe e mais um monte de gente. Acho que a partir de agora a vida dele vai melhorar – enfatiza.
O “muleque” já havia sido campeão mundial em 2015 e batido o recorde mundial em uma competição preparatória, em maio, mas ser campeão paraolímpico tem um peso maior.
– É um sonho realizado – admite o guri de riso fácil e aparelho nos dentes.
Era pouco depois das 11h de sexta-feira, com pouco público ainda no Estádio Olímpico (Engenhão) , quando o paulista correu a passos firmes rumo à vitória, com direito a recorde mundial – 47s22. Nas arquibancadas, estavam o pai, um pintor, e a mãe, dona de casa.
– Passa um filme na cabeça, das coisas que passei. Foi bastante emocionante – disse na entrevista logo após cruzar a linha de chegada e comemorar enrolado na bandeira do Brasil.
A cada pergunta dos jornalistas sobre o que pretendia fazer nos próximos dias, de como degustaria a conquista, Daniel repetia a mesma palavra: descansar. Esse é o prêmio que ele quer. "E mais nada?", pergunta uma repórter:
– Se der, andar a cavalo, mas agora é descansar.