Na fila de entrada para o jogo de golbol em que o Brasil ganhou da Argélia por 12 a 2, neste domingo, pergunto para a autônoma Amanda de Arruda, 34 anos, se ela conhece o esporte que irá assistir. A resposta foi sincera:
– Olhei um pouco na internet, mas as regras eu não conheço – admitiu a moradora de Realengo, bairro da zona oeste do Rio.
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Amanda e outros 13 familiares acordaram às 6h para chegar a tempo na partida que começava às 9h, válida pela terceira rodada da chave masculina. A escolha pelo golbol não foi pelo esporte em si, mas porque os Arruda queriam conhecer o Parque Olímpico e torcer pelo Brasil.
Para a maioria do público presente na Arena do Futuro, a realidade era a mesma. Quase ninguém já havia assistido a um jogo de golbol. E, por isso, quase tudo era novidade.
Como acredito que muitos leitores também não tenham tido essa experiência, vou tentar explicar. A primeira questão interessante é que o golbol é o único dos 22 esportes dos Jogos Paraolímpicos que não precisou ser adaptado. Ele foi criado na década de 1940 para reabilitar e socializar combatentes que ficaram cegos na II Guerra Mundial. Foi apresentado nos Jogos de Toronto 1976.
Mas vamos ao jogo. Ele é disputado em uma quadra com as mesmas dimensões da cancha de vôlei. As equipes tem três jogadores cada, os alas e o central. Todos podem arremessar uma bola semelhante à de basquete e todos também tem o direito de defender. O objetivo é marcar gols em uma goleira baixa (1m30cm), mas que ocupa toda a extensão do fundo da quadra (9m).
Sempre vendados, os atletas costumam atuar agachados. A todo o momento, usam a goleira como referência e passam a mão nas linhas do chão, usadas como orientação. No momento do arremesso, normalmente, o jogador faz um giro para que a bola ganhe mais velocidade.
Quando a partida começa, o silêncio precisa ser total, pois os atletas necessitam ouvir o som da bola (que tem um guizo). Essa parte foi o grande desafio para a torcida no jogo deste domingo. Nos primeiros minutos, comissão técnica e até os jogadores tiveram que pedir para que não houvesse barulho.
Porém, para brasileiros acostumados ao futebol, torcer em silêncio é quase tortura. Assim, o jeito foi comemorar com entusiasmo no momento dos gols - e eles, normalmente, são muitos. A carência por se manifestar era tanta que até os arremessos para fora e os gols do adversário mereceram aplausos.
Na saída para o intervalo, com nossa seleção vencendo por 9 a 2, o público pôde soltar o grito de “Brasil, Brasil”. Na etapa final, outra surpresa para o público.
O jogo tem dois tempos de 12 minutos (cronometrados), mas pode acabar antes se uma equipe abrir 10 gols de vantagem. No segundo período, o Brasil fez 12 a 2 aos cinco minutos e liquidou a partida.
O engenheiro José Luiz Robaina, 35 anos, deixou a arena satisfeito com a experiência de ver de perto o golbol.
– Achei bem interessante, principalmente a estratégia das equipes para defender. É um jogo movimentado, dinâmico. Vou tentar comprar ingressos para vir nos outros dias – comentou.
Autor de seis gols, o brasileiro Leomon Moreno, 23 anos, foi destaque do jogo deste domingo. Morador de Brasília, ele vem de uma família dedicada ao golbol. Os outros dois irmãos, Leandro e Leonardo, também são deficientes visuais e praticam o esporte. Para Leomon, o golbol tem as ferramentas para se popularizar no país.
– O jogo é intenso, toda a hora tem risco de gol. E brasileiro gosta de bola na rede – brincou.
Com três vitórias em três jogos, o Brasil, atual campeão mundial e candidato ao ouro, está garantido nas quartas de final. Na terça-feira, encerra a participação na fase de grupos contra a Alemanha. Jogador mais experiente da seleção, o gaúcho Alex Celente enfatizou que a equipe está no caminho certo.
– Nossa ideia é ir degrau por degrau.Sobre o fato de jogar a Paraolímpiada em casa, apoiado por arena cheia, Alex confessou que a experiência está superando as expectativas.
– Estou vivendo um sonho – resumiu o camisa 3 da seleção.
O JOGO
Disputado entre duas equipes com três atletas. Eles têm a função de arremessar e defender. A bola deve tocar em determinadas áreas da quadra para que o lance seja considerado válido. O objetivo é marcar gols.
A QUADRA
Tem as mesmas dimensões da quadra de vôlei (9m de largura e 18m de comprimento). Em cada lado, há uma goleira 9m de largura e 1m30cm de altura. A linha do gol e algumas outras linhas importantes são marcadas por um barbante preso com fita adesiva, permitindo que os atletas possam senti-las.
A BOLA
É parecida com a de basquete. Pesa 1,25 kg e tem guizos em seu interior para que os jogadores saibam a sua direção.
O TEMPO
Uma partida tem dois tempos de 12 minutos. No entanto, o jogo pode ser encerrado a qualquer momento caso uma equipe alcance a diferença de dez gols no placar. Essa situação é chamada de game.
OS ATLETAS
É permitida a participação de atletas cegos ou com deficiência visual. Todos jogam vendados para ficar em igualdade.
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