Extraterrestre. Michael Phelps mereceu o adjetivo muitas vezes, mas nunca chegou a uma Olimpíada tão "humano" como nesta. Nas piscinas, o atleta mais vitorioso da história dos Jogos terá de suar muito para vencer suas provas. Fora delas, os últimos quatro anos escancararam como a lenda é feita de carne e osso.
O último ciclo olímpico foi uma jornada e tanto. Londres fora a despedida das competições e, antes de 2012, já havia sinais de desgaste do multicampeão. Encontrar motivação para os treinos repetitivos era tarefa árdua após a consagração absoluta em Pequim, onde superou o feito de Mark Spitz em 1972 e conquistou oito ouros.
Longe do esporte, Phelps se perdeu, algo que o mundo soube em 2014. Preso por dirigir bêbado, foi condenado a se internar em uma clínica de reabilitação. Foi ao fundo do poço, mas lá havia uma mola. O caminho de volta à natação foi o mesmo que o recuperou como pessoa.
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Motivado, Phelps disse ao seu técnico, Bob Bowman, que queria retomar o regime de treinos diários sete vezes por semana, incluindo os domingos. Nos primeiros dois domingos, Bowman não apareceu, apenas mandou uma mensagem por telefone indicando o que o pupilo tinha de fazer. Era simbólico: o treinador só confiou no retorno de Phelps a partir do terceiro domingo. Daí em diante, viu que tinha a sua frente outro nadador.
Maduro pela experiência traumática e com sede de treinar, Phelps voltou com tudo para fazer o que classifica como a melhor preparação olímpica de sua carreira. No fim do ano passado, pediu em casamento a modelo Nicole Johnson, miss Califórnia em 2010. Em maio deste ano, nasceu Boomer, o primogênito dos noivos, que ainda não têm data marcada para o casório. De cabeça fresca e família feita, recuperou-se dos fantasmas do passado recente. O que não significa que seja, hoje, mais nadador do que foi em seu auge.
– A única diferença é que preciso prestar mais atenção à minha recuperação. Faço mais trabalho fora da piscina, entro mais na banheira de gelo depois do esforço, recebo mais massagens, cuido mais dos estiramentos. Não me recupero como antes. O corpo dói muito mais. Me canso muito mais. Tenho que estar mais atento às mensagens que o corpo me envia. Agora só como alimentos saudáveis. Sou muito mais saudável do que era – contou Phelps ao jornal espanhol El País.
A lenda deu uma espécie de aviso ao mundo de que estava de volta em meio ao Mundial do ano passado, em que não participou por conta da suspensão imposta pela Federação Americana, ainda em consequência de sua prisão. Enquanto os principais adversários estavam na Rússia, Phelps disputava uma competição nacional, e lá ele cravou tempos melhores do que os registrados no Mundial no 100m e 200m borboleta.
Imaginava-se, então, que o velho Phelps dominante estava definitivamente de volta. Mas não é bem assim.
– Ele está muito bem treinado, em ótima forma física, mas ele vai ter muita dificuldade no 100m e no 200m borboleta. Não vai ser fácil ganhar do (húngaro) Laszlo Cseh e do (sul-africano) Chad Le Clos – avalia o comentarista de natação do SporTV, Alexandre Pussieldi.
– Assisti à seletiva norte-americana e não gostei do que vi. Ele não nadou bem – completa.
"Não nadou bem" é uma frase que poucas vezes descreveu um desempenho de Michael Phelps. Mas há alguns anos, "comprometido e pai de família" também não eram rótulos que o acompanhavam. O veterano de 30 anos já não é mais o superhomem que conquistou 22 medalhas olímpicas, mas se engordar ainda mais sua coleção depois de tudo que passou, terá encontrado mais uma forma de escrever a história.
AS PROVAS DE PHELPS
Domingo
4x100m livre
Segunda-feira
200m borboleta - preliminares e semifinais
Terça-feira
200m borboleta- final
revezamento 4x200m livre
Quarta-feira
200m medley- preliminares e semifinais
Quinta-feira
100m borboleta- preliminares e semifinais
200m medley- final
Sexta-feira
100m borboleta
Sábado
4x100m medley