Colorados, gremistas e torcedores de outros rincões gaúchos se uniram para torcer pela Seleção Gaúcha na tarde de 17 de junho de 1972. O adversário era a Seleção Brasileira, tricampeã mundial. Para celebrar aquele empate em 3 a 3, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) lançou uma versão retrô da camisa utilizada pelos gaúchos há 52 anos.
A ideia surgiu em 2022, que marcou os 50 anos daquela partida histórica, junto com uma exposição em homenagem a Everaldo, peça-central daquele jogo. O protótipo do uniforme não atingiu o padrão desejado e o projeto foi arquivado. Mas saiu da gaveta em 2024.
— Aquele jogo demonstra que, apesar das rivalidades clubísticas e entre países da América do Sul, o povo gaúcho, quando se sente injustiçado, demonstra sua indignação e sua força — avalia Luciano Hocsman, presidente da FGF.
O jogo
Em 1972, o Brasil comemorava o sesquicentenário (150 anos) da Independência do Brasil. A CBD, antiga CBF, organizou o Torneio da Independência, vulgo MiniCopa. Técnico da Seleção, Zagallo convocou todos os jogadores brasileiros tricampeões que estavam disponíveis. Menos Everaldo.
O lateral-esquerdo gremista ficou de fora da lista. Os torcedores gaúchos se indignaram com a exclusão.
— Foi uma revolução Farroupilha de chuteiras — sentencia o jornalista Cleber Grabauska, coautor do audiodocumentário Um Gol do Brasil Quase Mudou Tudo, que relata em cinco episódios os pormenores da partida.
Presidente da FGF à época, Ruben Hoffmeister convenceu a CBD a fazer o amistoso contra a Seleção Gaúcha dias antes da estreia do Brasil na MiniCopa. Inicialmente, a partida era para ser contra o Hamburgo. Os alemães jogaram contra a seleção olímpica, de Falcão.
O que se viu foi um clima de guerra. Faixas contra João Havelange, presidente da CBD, foram expostas no Beira-Rio. As 106.554 pessoas que foram ao estádio colorado constituíram o maior público da história do esporte gaúcho.
A postura gaúcha casou revolta entre os brasileiros. Como gente nascida aqui poderia apoiar um time que contava com gringos como Ancheta, um uruguaio, Figueroa, um chileno, e Oberti, um argentino, questionavam os brasileiros.
A escalação gaúcha teve: Schneider; Espinosa, Figueroa, Ancheta e Everaldo; Carbone, Tovar e Torino; Valdomiro, Claudiomiro e Oberti.
O Brasil teve: Leão; Zé Maria, Brito, Vantuir e Marco Antônio; Clodoaldo, Piazza e Rivelino; Jairzinho, Leivinha e Paulo César Caju.
No fim, venceu o futebol. O 3 a 3 teve gols de Tovar, Jairzinho, Carbone, Paulo Cezar Caju, Claudiomiro e Rivellino.
— Todo mundo se juntou pela causa do Everaldo. O empate teve sabor de vitória. O Everaldo saiu muito por cima desse episódio — acredita Grabauska.
A Seleção Gaúcha
Embora a FGF tenha sido fundada em 1918, historiadores encontraram partidas de selecionados com jogadores do Rio Grande do Sul desde 1916.
Entre 1922 e 1987, de maneira intercalada, foi disputado o Campeonato Brasileiro de Seleções, formado por equipes estaduais. O melhor resultado do RS foi o vice em 1936. Rio de Janeiro, com 15, e São Paulo, com 13, são os maiores vencedores. Minas Gerais e Bahia ganharam o torneio uma vez cada.
A Seleção Gaúcha voltou a enfrentar o Brasil outras duas vezes. Em 1978, empatou em 2 a 2. Em 1983, foi goleada por 4 a 1. Os jogos sempre no Beira-Rio.
A camisa
A camisa retrô da Seleção Gaúcha está à venda em fgf.com.br/selecaogaucha. O custo é R$ 279. O que for arrecadado será doado a instituições de caridade.