Três meses depois de ter sido adiada, em virtude da enchente que assolou o Rio Grande do Sul, a 39ª edição da Maratona Internacional de Porto Alegre será realizada neste domingo (29) também como símbolo da retomada da cidade como polo do esporte no Estado.
O trajeto dos 42,195km da prova contempla passagens por pontos turísticos da Capital e por trechos que conviveram com alagamentos durante os meses de maio e junho (a primeira data para a competição). Os metros inundados pela chuva na Orla do Guaíba e no Mercado Público servirão como plano de fundo da história de quase 5,5 mil atletas que irão em busca de contarem suas trajetórias particulares, sejam elas em sua primeira ou 10ª maratona na vida.
Em uma época diferente da habitual, uma das provas mais rápidas do país terá que conviver com uma temperatura mais alta que a de junho, o que deve dificultar a quebra de recordes no masculino e no feminino.
— A realização da Maratona Internacional de Porto Alegre, em 2024, demonstra a capacidade de regeneração da cidade também por meio do esporte. Atividades dessa natureza são cruciais para impulsionar a economia local. Os quase 20 mil inscritos comprovam não apenas a credibilidade da iniciativa, mas também o amor pela nossa cidade nesse momento significativo de reconstrução — afirma Ana Paula Bastos, secretária de Esporte, Lazer e Juventude da Prefeitura de Porto Alegre.
Benefícios à cidade
A economia se movimenta principalmente nos hotéis de Porto Alegre. Conforme levantamento do Sindicato dos Hotéis de Porto Alegre (SHPOA), 85% dos estabelecimentos pesquisados tiveram reserva de hóspedes para a Maratona Internacional.
Para o período do evento da Maratona a ocupação média esperada é de 65%, 13 pontos percentuais a mais que a média da ocupação da 1ª quinzena de setembro/24, segundo o Programa Realidade Hoteleira do SHPOA (PRH).
A enchente de maio não mudou apenas a rotina da cidade de Porto Alegre, mas também de grande parte dos moradores da Capital.
Enfrentamento à enchente e expectativa de correr
Vivian Leal, jornalista de 27 anos, se preparava para sua primeira maratona quando a enchente de maio atingiu o Estado. Habituada com os alagamentos na região onde morava em Porto Alegre, preferiu se mudar temporariamente para a casa de sua madrinha em uma área mais alta da cidade.
Com o volume de chuva, teve que mudar de casa novamente. Foi para o bairro Rio Branco ser abrigada por um casal de amigos. Só que o período fora de casa resultou em gastos fora do planejamento. Dias depois, sua mãe e sua irmã foram resgatadas de barco no apartamento onde moravam no bairro Praia de Belas.
Agora que chegou eu só quero cruzar a linha, pegar minha medalha e celebrar
VIVIAN LEAL, JORNALISTA
— Não tinha um clima para correr durante maio. Eu sabia que, enquanto eu praticava o meu exercício, tinha gente que estava em abrigo porque perdeu a casa, dependendo de alimentação e doação. Eu não me sentia emocionalmente disposta a isso — explica a jornalista.
Ainda no mês da chuva, Vivian trocou de empresa e, também, de Estado. Para competir em sua primeira maratona, veio de Florianópolis, em Santa Catarina, para enfim encerrar o ciclo de treinamento.
— Foi quase o ano inteiro com um ciclo de maratona que não chegava nunca. Agora que chegou eu só quero cruzar a linha, pegar minha medalha e celebrar.
A situação vivida por Juliana Vaz, 32 anos, foi similar a da colega (quase) maratonista. A bióloga estava na reta final do ciclo de preparação para a sua primeira maratona (já tinha treinado 10 das 16 semanas), mas nos primeiros dias de maio teve que deixar o seu apartamento no Centro Histórico conforme a água ia avançando pelas primeiras ruas de Porto Alegre.
— Meu prédio estava na rua limite até onde a água chegou. Então, eu não tive acesso à casa. Não tinha luz, não tinha água, não tinha nada. Além de tudo, eu ainda tinha que estar trabalhando, e foi bem complicado isso. Era uma maneira de me distrair, mas eu não conseguia render tanto. Fiz alguns voluntariados, e doações por ter carro. Mas, com relação à corrida, eu praticamente não corri nem um dia — explica.
Com o ciclo interrompido depois de quase um mês sem treinar, Juliana teve que retomar o caminho até a maratona deste final de semana em junho. Em meio à rotina de trabalho e de mãe solteira, voltou a treinar cinco vezes por semana.
— Minha maior dificuldade com o adiantamento da prova com relação à enchente foi esse cansaço de lidar com um ciclo que pareceu ser muito maior. Um cansaço mental mesmo de ter que pensar onde é que eu vou correr, que horas eu vou correr, como que eu vou conseguir fazer para correr com relação ao meu trabalho e minha filha — finaliza a bióloga.