A morte de Juan Izquierdo levantou questionamentos sobre os fatores que levam um atleta a sofrer uma morte súbita — normalmente causada por problemas cardiovasculares, principal causa de arritmia cardíaca. Para esclarecer pontos relacionados a condição que sofreu o zagueiro uruguaio, Zero Hora conversou com Rodrigo Bodanese, cardiologista do Hospital São Lucas, da PUCRS.
A morte súbita pode ocorrer mesmo se o atleta nunca tiver apresentado sintomas de problemas no coração?
É bem possível que a morte súbita seja a primeira manifestação da doença de base que o atleta tenha. (Depois de ser levado ao hospital, Izquierdo) acabou morrendo, em intercorrências relacionadas à parada cardíaca, com reanimação prolongada, algum dano neurológico pelo tempo prolongado da condição. Muitas vezes, o diagnóstico também é pós-morte, na autópsia, onde se busca entender o porquê do atleta ter a morte súbita.
Como funcionam os exames cardiovasculares ?
Com atletas, normalmente se faz uma anamnese (diálogo entre médico e paciente com o objetivo de relembrar situações e fatos que podem estar relacionados a doença). Também um exame físico, em busca de alguma inferioridade, e um eletrocardiograma de repouso. Este último, muitas vezes, pode nos dá alguns indícios que levariam a investigação de uma possível doença. Nos exames mais robustos, a gente pode colocar o paciente na esteira para ver como é que o coração se comporta num teste de esforço, ver se tem alguma arritmia, se tem alguma alteração isquêmica.
Como deve ser feita a preparação dos clubes e de entidades futebolísticas em caso de emergências médicas durante os jogos e treinos?
As pessoas das equipes, estádios, ginásios precisam ser treinadas para identificar uma parada cardíaca (arritmia pode levar à condição). Se for só um desmaio, a equipe de atendimento deve ver se o paciente está acordado, reagindo, palpar o pulso e, conforme for a situação, iniciar as medidas de reanimação. No caso de um jovem jogador, que cai no meio do campo, é preciso identificar o que houve o mais rápido possível para que os profissionais de saúde consigam agir da forma correta. Que os clubes e federações tenham protocolos bem definidos e sistemáticos de avaliação dos atletas. Além de pesquisa de doenças pré-existentes e sutilezas nos exames que podem nos ajudar a diagnosticar.
De quanto em quanto tempo são realizados testes cardiológicos em atletas de elite?
Geralmente são feitos de maneira anual. Ou em caso de algum sintoma novo, alguma mudança no quadro clínico, e se o atleta começa a ter alguma sensação de palpitação. Os principais sintomas são falta de ar desproporcional ao exercício que está sendo feito, tontura, sensação de desmaio ou até mesmo desmaio e dor no peito.
*Produção: Nikolas Mondadori