Conciliar a rotina de fisiculturista com muitas horas de trabalho e treinos, e poucas de sono é um desafio para a maior parte dos atletas que vão disputar o Campeonato Gaúcho de fisiculturismo no próximo domingo (28), na PUCRS, em Porto Alegre. Dois casos em especial se destacam por conseguir dar conta do cotidiano regrado e pelas conquistas no esporte.
Trata-se de um casal que se conheceu na competição realizada em 2023. Eles viram que tinham muitas coisas em comum e estão junto desde novembro, dividindo a rotina e se apoiando nos treinos diários que realizam.
Rafael Prado, 38 anos, é o atual heaxacampeão gaúcho consecutivo na Mens Physique — categoria destinada a homens que realizam o treinamento com pesos a fim de manter a forma, e que praticam uma dieta saudável e equilibrada, visando ter um físico com aspecto atlético e esteticamente agradável. Natural de Porto Alegre, ele está no fisiculturismo há oito anos, mas precisa conciliar o esporte com sua carreira de especialista em finanças em uma empresa de tecnologia da informação.
Sua companheira é Jessica Ribeiro, 32 anos, que começou na modalidade há um ano e meio, porém, já é um dos grandes nomes da sua categoria. Ela compete na Wellness, que se destina a mulheres com físico sem separação muscular, estética agradável e com maior massa corporal nos membros inferiores. Apesar de pouco tempo no cenário, ela é a atual campeã gaúcha e brasileira nas competições organizadas pela Federação de Bodybuilding e Fitness do RS (IFBB-RS).
— Nunca tinha pensando em competir e não esperava ganhar o primeiro campeonato — conta a gaúcha natural de São Leopoldo. Jessica costumava treinar na academia, mas não conhecia muito sobre o fisiculturismo.
Contudo, desde sua estreia, foram seis campeonatos e seis títulos conquistados. E ela não pretende parar por aí:
— Não espero nada menos do que o título, a expectativa é alta e vou ser bicampeã gaúcha — afirma a fisiculturista sobre o campeonato do final de semana.
Preparação diária
O casal se prepara de forma parecida. Cada um tem uma dieta e um plano de treinos, mas precisam enfrentar os desafios de não viverem apenas do esporte. Sem patrocínios, ambos trabalham no mínimo oito horas por dia e precisam de pelo menos duas horas para fazer as seis alimentações diárias.
A rotina de treinos é intensa. De musculação, são pelo menos duas horas por dia, de segunda a sábado. Além disso, são mais três horas todos os dias de treino aeróbico, que Rafael costuma fazer na esteira, enquanto Jessica intercala com a bicicleta.
Em uma soma básica, já foram 16 horas de um dia. No entanto, ainda é preciso viver, dedicar tempo à família e aos problemas que aparecem.
— Dormimos umas cinco horas por dia, quando conseguimos seis é um luxo. Mas é o que escolhemos, abrimos mão de algumas coisas. Eu prefiro a vida que eu tenho hoje do que ficar em uma balada até 5h — conta Prado.
A semana antes do campeonato
Com a proximidade do campeonato, o casal faz algumas mudanças na sua preparação. Ambos seguem a dieta e o plano de treinos durante a semana. Porém, o consumo de água é uma das principais alterações. Os fisiculturistas começam a semana tomando 12 litros em um dia e vão cortando drasticamente o consumo, chegando na reta final sem ingerir nenhuma gota.
Além disso, cortam o sal da alimentação e a ingestão de carboidratos aumenta. Um dia antes do torneio, não há treino e existe a necessidade de comer ainda mais comidas ricas na substância.
— Após a pesagem, nós precisamos comer muito carboidrato para inchar e preencher a pele que está fina — explica de uma maneira didática o fisiculturista.
E tudo precisa ser seguido a risca, uma vez que qualquer deslize pode colocar em risco o físico do atleta.
— Fomos competir em Belém recentemente e por conta do tempo de viagem e mudança de temperatura tive que mudar minha alimentação e treino. Cada corpo reage de um jeito e por isso é importante ter o acompanhamento de perto do treinador — relata Jessica.
O Campeonato Gaúcho de fisiculturismo
A competição é organizada pela IFBB, que é vinculada ao comitê olímpico. Por conta disso, é proibido o uso de anabolizantes. A diferença é visível entre competidores que usam hormônios e os que não utilizam.
— Minha categoria é dividida por altura e a partir disso preciso preencher meu corpo de uma maneira que fique estético. Em competições as quais são permitidos anabolizantes, por exemplo, há fisiculturistas do mesmo tamanho que o meu, mas pesam 20 quilos a mais. É uma diferença gritante — explica Prado.
O Campeonato Gaúcho começa às 9h e vai até o início da noite. Pela manhã, os fisiculturista do bodybuilding sobem no palco para realizar as apresentações. Mais tarde, os competidores das categorias fitness — que Rafael e Jessica fazem parte.
— As categorias fitness são do corpo que todo mundo quer ter e é a mais fácil de entrar no fisiculturismo. Na bodybuilding, a preparação é ainda mais hardcore e o tamanho vale mais do que a estética — exemplifica o hexacampeão gaúcho.