Além de zagueiro do São José, Tiago Pedra, 34 anos, é aluno de Educação Física na Sogipa. Foi essa condição que permitiu ao jogador participar de alguns dos momentos mais emocionantes de sua vida em Porto Alegre, cidade que adotou há sete anos. O fluminense de Macaé foi um dos tantos resgatistas da Capital durante as enchentes.
Quando a água começou a subir na Zona Norte, o grupo de WhatsApp da faculdade iniciou mobilização de ajuda. Ligou para um dos voluntários para buscar informações sobre doações e, ao chegar ao local, teve real dimensão do que a cidade vivia.
— Era uma catástrofe, Porto Alegre e Canoas estavam destruídas. A faculdade cancelou as atividades e aí nos engajamos mais — conta.
Foi quando a cheia chegou ao Menino Deus. Seus vizinhos passaram a ficar ilhados. Então, entrou na água.
— Vi cada cena que nunca vou esquecer. Tirei uma senhora com nove cachorros, colocamos em uma caçamba. Entrei na casa dela e estava tudo boiando, eletrodomésticos, móveis. Os animais ficaram em um veterinário. Ela chorando abraçada nos cachorros me cortou o coração. Conseguimos salvar alguns mantimentos — recorda.
Ficou uma semana e meia sem luz. Conseguia apenas carregar o celular para saber onde ir como voluntário a cada dia. Passou de barco pela Avenida Cairu, um de seus destinos mais frequentes. Buscou um bote em Belém Novo, lugar totalmente inexplorado para ele, que costumava ir de casa para o Passo D'Areia e de lá para a Sogipa. Soube de colegas que foram atingidos pela enchente. E sua família também se assustou:
— Minha mãe está preocupada comigo. Quem entra na água corre risco, até de saúde. Mas precisamos ajudar o próximo. Temos de ter empatia e solidariedade com outras pessoas.
Mesmo com os sustos e com a tensão, Tiago Pedra encontra uma forma de se divertir. Há pouco mais de um ano, ele sofreu uma lesão grave, fraturando a tíbia em um jogo contra o Inter. Por isso, constata, bem-humorado:
— Do jeito que descarregamos caminhão, vejo que estou 100% recuperado.