A dupla Gre-Nal entrou em campo no meio do Carnaval neste calendário de 2024. Mas nem sempre foi assim. Folia e bola, até um tempo atrás, não se misturavam. Ao menos em campo. Grêmio e Inter usavam a data para promover grandes festas, inclusive com a presença de jogadores e convidados VIPs. Isso quando não eram homenageados por escolas de samba e se juntavam à multidão na avenida.
Uma das maiores autoridades em Carnaval, o jornalista Cláudio Brito, explica:
— Carnaval e futebol caminham juntos. Em Porto Alegre, Everaldo e Airton, ídolos tricolores, sempre foram dos Bambas da Orgia. Escurinho foi da direção e fez parte da ala de compositores da Imperadores do Samba. Sem contar os bailes e desfiles.
GZH recorda algumas dessas histórias. Como os bailes Tricolor e Colorado de 40 anos atrás, com os então campeões mundiais Renato, Valdir Espinosa e De Leon, no Petrópole, e um Gigantinho com 10 mil pessoas, entre elas a colorada Xuxa. Também os desfiles de Bambas e Imperadores que contaram os centenários da Dupla. O herói folião do Gre-Nal do Século. E o bruxo superstar na Avenida com a (e o) Tinga.
Imperadores e o centenário do Inter
O centenário colorado coincidiu com o cinquentenário da Imperadores. A escola, então, contou os 150 anos das duas entidades. E conquistou o título do Carnaval.
Xuxa no Carnaval do Inter
O Baile Vermelho e Branco de 1984 foi um dos maiores da história de Porto Alegre. Segundo a edição de Zero Hora daquele ano, mais de 11 mil pessoas foram ao Gigantinho para celebrar a festa. Jogadores como Ruben Paz, André Luiz, Milton Cruz e o técnico Cláudio Duarte foram ao ginásio. Eles tinham um camarote, mas pularam também com os outros foliões.
Entre as presenças VIP, a mais tietada foi Xuxa. Colorada assumida, a Rainha dos Baixinhos participou do baile, tirou fotos e conversou bastante com a então Rainha das Piscinas de Porto Alegre, Deise Nunes (que dois anos depois seria coroada Miss Brasil).
Falcão no desfile da Imperadores
A Imperadores do Samba homenageou, em 1988, um Rei. De Roma. Paulo Roberto Falcão foi o enredo da escola. Segundo ele, um dos momentos mais emocionantes de sua trajetória. Ele conta uma história curiosa:
— Foi tudo lindo desde a chegada. Porque teve quem achasse que eu não viria, morava em Roma na época. No aeroporto, fui recebido com festa por integrantes da escola. No desfile, eu entraria em um carro que imitava o Coliseu. Na curva antes de entrar na avenida, quebrou. Desci e fui a pé, correndo, o que é curioso porque foi o que fiz na vida, né? (risos) Demos sorte que foi poucos metros antes da parte que contava pontos.
A Imperadores foi campeã do Carnaval, em mais um título para Falcão.
Nilson e o Gre-Nal do Século
Pergunte a um colorado de 40 anos ou mais o que ocorreu em 12 de fevereiro de 1989. É impossível que não fale no nome de Nilson. O herói do Gre-Nal do Século, porém, esteve em outro lugar, perto do Beira-Rio, poucos dias antes.
No Carnaval, em 5 de fevereiro, o centroavante curtiu a folia no baile do Grêmio Náutico Gaúcho. E uma semana depois, botou o Inter na final do Brasileirão, marcando dois gols sobre o maior rival.
Ao ge.globo, em 2020, Nilson disse:
— Estava no camarote e bati foto com duas loiras. Só que tinha um fotógrafo do (jornal) Zero Hora. Aí você sabe. Caso não ganhássemos, eu estava fora. Mas fiz os dois gols, um para cada loira.
Renato e De Leon no baile de Carnaval
O Baile Tricolor de 1984 foi especial. No Petrópole, uma multidão foi pular Carnaval e seria brindada com uma atração especial. O grupo do Grêmio, que havia sido campeão mundial poucos meses antes, estaria no evento. E todos souberam aproveitar. Claro que o mais badalado era Renato Portaluppi. Mas o capitão De Leon também foi bastante requisitado. O uruguaio recorda:
— Ficávamos em um camarote reservado para nossas famílias, mas descemos para dançar com o povo. E também convidávamos amigos para subir lá. Era um momento muito divertido, de reconhecimento.
O desfile da Império da Zona Norte
A Império da Zona Norte sempre teve ligação com o futebol. E com o Grêmio em especial. Foram eles que recepcionaram os campeões mundiais em 1983, na festa da chegada. E, no Carnaval seguinte, prestaram uma homenagem. Uma ala da escola receberia Espinosa, De Leon, China, Baidek e, claro, Renato.
O desfile foi um sucesso. Os jogadores compraram a ideia e interagiram com a plateia, fizeram um desfile especial, entusiasmado e alegre. Mas um pequeno detalhe foi esquecido, como conta a atual porta-bandeira da escola, Ana Marilda Bellos:
— Os jogadores usariam uma fantasia de sheik, com turbante, colete, uma calça esvoaçante. E um sapato tipo Aladim. Todos usaram esse sapato, menos um, que foi de tênis. Adivinha quem? Renato! (risos) A escola perdeu pontos em fantasia, por causa desse detalhe bem importante. Mas foi um desfile memorável da Império da Zona Norte.
Ronaldinho e Tinga no desfile da Restinga
No Carnaval de 2000, a Estado Maior da Restinga levou um de seus filhos mais ilustres. Paulo Cesar Tinga foi à Passarela do Samba e levou consigo um amigo: Ronaldo de Assis Moreira. Então jogador do Grêmio, Ronaldinho aproveitou a festa e desfilou já com o sol brilhando. A dupla ficou com o vice do concurso porto-alegrense.
Bambas da Orgia e o centenário do Grêmio
O centenário do Grêmio foi tema do desfile dos bambas de 2003. A escola levou para o Porto Seco o tema "No caminho, uma bola. Dentro da bola, o sonho azul de um Grêmio vencedor". A dobradinha deu certo: a escola teve a maior pontuação do ano e conquistou o título do Carnaval de Porto Alegre.