A patinadora artística russa Kamila Valieva, cujo teste de doping positivo sacudiu os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022, foi suspensa por quatro anos, a contar a partir de 25 de dezembro de 2021, anunciou o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) nesta segunda-feira (29).
Os resultados da competição da jovem de 17 anos, que a princípio não foi punida pela Agência Russa Antidoping (Rusada) por considerar que ela não havia cometido "nenhuma infração ou negligência", não contarão a partir da data em que a suspensão passa a vigorar, acrescentou o TAS, principal jurisdição do esporte mundial.
O caso não se centrava em saber se Valieva tinha ou não violado o código antidoping, dado que a patinadora nunca contestou seu teste positivo no final de 2021 para trimetazidina, uma substância que melhora a circulação sanguínea e que a Agência Mundial Antidoping (AMA) incluiu em sua lista de produtos proibidos em 2014.
Esta substância foi detectada no corpo de Valieva em quantidade ínfima e a patinadora, que então tinha 15 anos, alegou uma "contaminação através dos recipientes" compartilhados com seu avô, que faz tratamento com trimetazidina desde que recebeu um coração artificial e a acompanha nos treinos diários.
O TAS, ao término de uma audiência a portas fechadas que começou em setembro e foi retomada em novembro, considerou que Valieva "não foi capaz de estabelecer" com provas suficientemente convincentes que não se dopou "intencionalmente".
Logo após o anúncio da suspensão, a AMA comemorou o veredicto do TAS e qualificou de "imperdoável" o doping em crianças.
Kremlin vê decisão como "política"
"Os médicos, treinadores e outros membros da equipe de apoio reconhecidos como culpados de administrar substâncias que melhoram o rendimento de menores devem enfrentar a maior severidade do Código Mundial Antidoping", pediu a AMA.
A Rússia, por sua vez, qualificou a sentença do TAS como uma decisão "política".
"Não concordamos... Do meu ponto de vista, trata-se, com certeza, de uma decisão política", declarou às agências de notícias russas o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.
O caso, no entanto, não terminou, já que Valieva tem 30 dias para recorrer da suspensão em um Tribunal Federal Suíço, mas unicamente por motivos jurídicos.
O TAS ainda não decidiu sobre as consequências da desclassificação da patinadora com efeito retroativo. Valieva, antes de seu teste positivo vir à tona, ganhou a medalha de ouro olímpica na prova por equipes.
Cerca de dois anos depois, a cerimônia de entrega de medalhas ainda não foi realizada.
* AFP