Representar o Rio Grande do Sul em um grande torneio de futebol, a oportunidade de viajar de avião pela primeira vez e a expectativa de mudar de vida são sensações que estão na bagagem de 46 pessoas que embarcaram no Aeroporto Salgado Filho, nesta quarta-feira (6), com destino a São Paulo. Duas equipes se tornam a Seleção Gaúcha que vai disputar a fase nacional da Taça das Favelas 2023.
O clube Serranas, da Lomba do Pinheiro, na Capital, representará no feminino, enquanto o projeto Municipal, de Montenegro, é a equipe gaúcha no maior torneio entre favelas do Brasil. Os adversários serão conhecidos nesta quinta-feira (7), em sorteio na capital paulista, e a disputa do campeonato ocorrerá até o dia 17 de dezembro, quando serão conhecidos os finalistas do torneio.
Para chegar à final, no dia 13 de janeiro, em São Paulo, as equipes vão precisar ficar entre os dois primeiros na fase de grupos — com quatro times cada —, e depois passar nas quartas de final e semifinal. No total, são 16 participantes no feminino e 16 no masculino.
A Taça das Favelas existe desde 2012, mas somente em 2023 que o Rio Grande do Sul terá representantes. Por conta disso, os(as) atletas estão vivendo um momento único e que vão guardar para sempre na lembrança.
— Eles estão vivendo um momento mágico. Meninos que sonharam em viajar de avião e hoje estão tendo a possibilidade disso. É muito gratificante a gente ver o que está mudando na vida deles. Estão vendo que por meio do esforço e da fé deles, estão conseguindo buscar os objetivos que querem na vida — disse Alexandre Ladimir Gonçalves, conhecido como "Leleco", coordenador e treinador do Municipal.
Ele revelou que a equipe conta com meninos de bom nível, sendo alguns deles com chances de se profissionalizar caso se destaquem na competição. A Taça das Favelas é um torneio que ganha cada vez mais visibilidade, com as fases decisivas tendo transmissões das partidas em TV aberta, como foi realizada pela RBS TV nas finais do Estado, e no canal do YouTube da competição. A grande decisão, do feminino e do masculino, será mostrada pela TV Globo para todo o Brasil.
— Esse mês estamos vivendo um pouquinho da fama. Bastante gente está começando a nos reconhecer, por meio da competição, ganhando seguidores nas redes sociais, alguns patrocínios nos procurando para oferecer ajuda — contou Katiellen Rosa, atacante e capitã das Serranas.
Oportunidade de ouro para os atletas
Além de terem a chance de mostrar o seu talento dentro do gramado, os(as) atletas vão ter a oportunidade de vivenciar uma experiência única. A maioria deles(as) nunca viajou de avião e o frio na barriga era nítido por parte dos(as) atletas e dos familiares que acompanhavam o embarque.
Pais e mães comentaram que estavam com o "coração na mão", mas muito felizes pela chance que os filhos estão tendo.
— Primeira vez dela de avião, ela está nervosa. Me perguntava: "mãe, como que é? Faz muito barulho?" Eu tranquilizei ela falando que era melhor estar viajando de avião do que de ônibus — disse Elisângela Lemes, mãe da zagueira Emili Gabrielly.
A viagem de ida e volta, assim como hotel três estrelas, com quatro refeições por dia, durante todo o período do torneio só está sendo possível por conta do trabalho da Central Única das Favelas (Cufa), realizadora do campeonato.
— São 40 jovens que vão andar de avião, vão ficar em uma estrutura de qualidade, terão jogos de uniformes e tudo isso proporcionado pelos nossos parceiros que acreditam no projeto — contou Roberto Torres, diretor financeiro da Cufa no Rio Grande do Sul, que estava auxiliando no embarque de todos.