Matheus quer virar torcedor de um clube de Série B. Giuliano quer treinar jogadores de um clube de Série B. Dona Dalva quer trabalhar na área social de um clube de Série B. Janina Pio quer administrar o funcionamento de jogos da Série B. Fabiano quer ser porteiro de um clube de Série B. Quem mora nas imediações do número 1.200 da Assis Brasil quer ser vizinho de um clube de Série B. Afora um punhado de clubes que formam a aristocracia do futebol brasileiros, jogar a Segunda Divisão do futebol brasileiros é mais um privilégio do que um fardo.
É a chance de ter todos os seus jogos transmitidos. É a oportunidade de aparecer em rede nacional. É ter calendário cheio. É jogar mais de 50 partidas no ano. É ter cota de televisão. É mudar de patamar.
É por tudo isso que Matheus Borges embarcará rumo a Santa Catarina para apoiar o São José. Sim, o São José tem torcedor. Junto com ele, mais uns 40 irão de ônibus apoiar o time da Capital na partida mais importante da sua história. Às 16h de domingo, o a equipe disputa a chance de subir para a Série B do Brasileirão. A missão não é simples. Tem de vencer o Brusque e torcer para o São Bernardo perder para o Operário-PR, em duelo no mesmo horário — se der empate o Zeca precisa vencer por três gols.
— Comecei a torcer por causa do meu irmão. Meu primeiro jogo foi num dia chuvoso contra o Brusque em 2010. Gostei do agito, da experiência do estádio que tem um estilo raiz. Agora, passa um filme de tudo isso. Me emociona, é algo que marca — explica o designer gráfico que foi picado pelo “zecavírus” aos oito anos.
Marca mesmo, Matheus. Dona Dalva Mello que o diga. São 43 anos dedicados ao Zequinha. Parte deles vividos como gerente de futebol. Ela é uma espécie de "Zequinhapedia". Sabe todas as informações, histórias, detalhes e causos do São José. Os jogos são citados com data, placar e árbitros de jogos históricos.
Como ela se incomodou com os homens do apito. Era daqueles dirigentes bravos, uma figura carimbada nos julgamentos do TJD. Ela não se intimidava. Invadia o campo e colocava o dedo na cara do juiz quando se achava prejudicada. Foi assim naquele jogo contra o Passo Fundo que valia o acesso ao Gauchão. Era 1985. Dalva entrou para reclamar da arbitragem, em gol sofrido de uma falta, segundo ela, não existente. É a partida mais memorável desse tempo todo. A de domingo também deve ir para o coração.
— Amo isso aqui. Sou apaixonada. Quando cheguei, nunca esperei que fosse chegar tão longe. O estádio era todo diferente. Melhoramos muito. Fico feliz com o que está acontecendo — vibra a funcionária, hoje, da área social do clube.
Giuliano Moreira lembra de um tempo em que não existia o polêmico gramado sintético no Passo D'Areia.
— Era um terrão de um gol ao outro com três tipos diferentes de grama. Era uma outra realidade — lembra o ex-jogador do Zeca nos anos 1990 e hoje coordenador das escolinhas.
Enche-lhe de alegria ver o crescimento nesse tempo todo. Apesar do crescimento, a essência do clube incrustrado na zona norte de Porto Alegre não mudou.
— É uma família. Todos que saem, falam que não tem ambiente como aqui. Somos o clube mais simpático do Estado. Não tem ambiente igual — enfatiza.
Janina Pio, responsável pela área administrativa do futebol, sabe que em caso de acesso nem se ampliar seus tentáculos de polvo conseguirá dar conta da nova demanda. Se a combinação necessária se concretizar, o clube começará a inflar. Novos jogadores chegarão. O quadro de funcionários crescerá. O Passo D'Areia se adaptará. E Fabiano, o porteiro, terá mais movimento para controlar.
6ª rodada
- Domingo — 16h
- Operário-PR x São Bernardo
- Brusque x São José
Classificação
- 1°) Brusque: 12 pontos
- 2°) São Bernardo: 7 pontos
- 3°) São José: 5 pontos
- 4°) Operário-PR: 4 pontos