O novo técnico da Seleção — e adversário do Inter neste domingo (9)— é o mesmo Fernando Diniz de 14 anos atrás, quando deixou o campo e passou a trabalhar na casamata. Claro, mais experiente, mais famoso, mais badalado. Mas ainda com o estilo simples e com a filosofia bem definida sobre esporte e relação humana.
Ao menos é o que garantem as pessoas que conhecem Diniz há tanto tempo. Goste ou não da forma como ele vê futebol, uma situação é unânime: sua maior virtude é extrair o máximo dos atletas. Nem sempre com os melhores métodos, mas nunca por falta de trabalho.
O meia-atacante que, se não foi brilhante, no mínimo conseguiu se manter mais de uma década na elite do futebol brasileiro — e até teve uma passagem frustrada no futebol gaúcho (foram três meses e nenhum jogo pelo Juventude) —, tornou-se um técnico admirado. E já desde os primeiros dias.
Quem garante é o ex-zagueiro Beto Cavalcante, um dos primeiros reforços do Votoraty, time do interior paulista que abriu as portas para Diniz comandar uma equipe. Ao lembrar do time que foi campeão da Copa Paulista daquele ano, fala:
— A personalidade era a mesma. Acreditava naquilo que entendia como proposta de jogo. Ele consegue te convencer de que é o melhor jogador possível para fazer o que ele quer.
Essa preocupação de Diniz com o aspecto humano é pública. Como é bem conhecida a busca do técnico por conhecimento, tendo cursado Psicologia na agora extinta Faculdade São Marcos, em São Paulo. O aluno Diniz foi ajudado pelo colega de faculdade Leonardo Simões dos Santos.
Os dois se conheceram no primeiro dia de aula da disciplina de Vocação Profissional. Em uma sala cheia, o único lugar vazio era ao lado de Leonardo. Diniz, que havia chegado atrasado, sentou-se ao lado do estudante. Ao final do período, abriu uma barra de chocolate e ofereceu ao colega. Ao mesmo tempo, pediu que emprestasse o caderno para se atualizar do que tinha perdido nas outras matérias.
Foi ali que começou uma amizade que perdurou durante todos os anos do curso. E que, inclusive, formou a dupla que escreveu o Trabalho de Conclusão do Curso.
— Nosso TCC foi interessante, eu queria ser psicólogo, ele queria usar os conhecimentos da psicologia para ser técnico. Bem diferente do que pensava. Ficamos em um impasse, mas sabia que ele ia vencer. Mas fomos bem orientados e fizemos um trabalho bom.
O tema acabou sendo: "A importância da liderança do técnico em uma equipe de futebol". O trabalho foi aprovado em 2012 com nota 10 e elogios da banca examinadora.
Leonardo e Diniz mantiveram amizade. Que, como costuma ocorrer no final da faculdade, reduz a frequência de contatos. O colega ficou sabendo pela TV que o amigo assumiria a Seleção.
Mas o sucesso de Diniz já era esperado pelo psicólogo que enveredou pelo lado da teologia. E que muito conversou com o técnico sobre religião. Leonardo queria Diniz em voos altos:
— Quando conheci o Fernando, sabia que ele seria técnico de times grandes. Queria que ele treinasse o meu time, o Corinthians, mas quando vi seu trabalho no São Paulo, percebi que poderia ir para a Seleção. Ele extrai o melhor de seus jogadores.
"Ele extrai o melhor de seus jogadores". Exatamente o que havia dito Beto, que hoje é técnico do sub-20 do Metropolitanos FC, um clube de base de Jundiaí, interior de São Paulo. É bem semelhante ao que discursou Felipe Melo, em vídeo publicado em suas redes sociais:
— Fernando Diniz mudou o patamar do Fluminense. Nos ajuda todos os dias a sair do nosso ciclo de comodidade. Ele nos faz treinar, treinar e treinar em busca do sonho de conquistar títulos.
Treinar. Diniz treina muito, mesmo. Não tem quem não diga que o time dele não treina. E cobra. Nem sempre acerta, é verdade. Seu episódio com Tchê Tchê, ainda no São Paulo, no qual seus xingamentos acabaram vazando e prejudicaram o andamento do jogador e da temporada, deixaram uma mancha em sua carreira. Está aprendendo a controlar a fúria. Beto brinca:
— Quando chegávamos no treino e o Diniz estava correndo em volta do campo, sabíamos que precisavámos manter distância. Ele estava furioso.
É que custaram a entender que o técnico nem sempre valoriza apenas o resultado. Diniz não se importa que os jogadores errem, desde que estejam fazendo o que treinaram.
— Ele não está se importado só com o resultado. Mas sim em fazer o que o time treina. A gente sabe o que tem de fazer dentro de campo. Assim, as vitórias chegam, é um prazer jogar no time dele — disse o volante André ao TNT Sports.
Essas são as razões pelas quais Diniz foi um pedido dos atletas. Ele coleciona elogios, de Ederson a Neymar. Agora, a missão envolve o país inteiro. O dinizismo vai vestir a amarelinha. Isso significa que não vai faltar treino nem cobrança.