Em uma decisão surpreendente, a (CBF) anunciou Fernando Diniz como o novo técnico da Seleção Brasileira na noite de terça (4). No entanto, o treinador seguirá no Fluminense, gerando uma série de dilemas éticos e questionamentos sobre a conciliação dos cargos.
Em sua apresentação na Seleção, Diniz teve que responder perguntas neste sentido. "Como será a rotina para dividir os trabalhos?", "Vai convocar o Ganso?" e "Pode chamar jogadores rivais do Fluminense em jogos próximos das Datas Fifa?" foram algumas delas.
— Meu critério subjetivo vai se basear na minha ética. Vou procurar aquilo que é melhor pra CBF e olhar o cenário do futebol brasileiro e tomar a melhor decisão possível. Existirão questionamentos, mas não pode ser na falta de ética. Eu jamais sairia do Fluminense para abraçar a CBF. A maioria vai saber entender o que está acontecendo. Me sinto à vontade para fazer o meu trabalho — explicou Diniz em determinado momento.
Para o jornalista Juca Kfouri, do Uol, a CBF arrumou mais dúvidas do que uma solução. Chamar Rogério Ceni, que deixou o São Paulo em abril, seria mais adequado. Ele também questionou quais seriam as reações de jogadores do Fluminense ao não serem convocados por Diniz.
— É um claro conflito de interesses, que expõe Diniz a ser criticado pela torcida brasileira, principalmente do próprio Fluminense. Como Ganso e Keno vão reagir se não forem chamados? Espero que ele não cometa a heresia de chamar o Felipe Melo — destacou Kfouri.
Um dos dilemas é a convocação de jogadores que atuam no futebol brasileiro. Embora o calendário seja paralisado nas Datas Fifa, a rodada seguinte nem sempre permite que todos os jogadores estejam à disposição — seja por desgaste físico ou tempo hábil para retornar ao país dos jogos no Exterior. Neste caso, um jogador do Fluminense poderia ser preservado? E um rival da equipe carioca na rodada seguinte?
— Não é questão de ética ou honestidade, como a coletiva apontou. É a incompatibilidade de funções. O calendário impõe desequilíbrio, joga-se um dia após a Seleção. Como times perderão jogadores e outros não, não é razoável que a decisão esteja nas mãos de um técnico que dispute o campeonato — diz Carlos Eduardo Mansur, comentarista do SporTV.
Além disso, há dúvidas sobre a possibilidade de conciliar efetivamente as responsabilidades de técnico da Seleção Brasileira e do Fluminense. Ambas as posições requerem um alto nível de dedicação, tempo e concentração.
Mansur recorda que, a partir da gestão de Tite, a comissão técnica da CBF estabeleceu uma rotina diária de monitoramento de jogadores e eventuais viagens para diálogos com treinadores de equipes do Exterior. No caso de Diniz, não seria possível.
— Um treinador trabalha em um clube de oito a 10 horas por dia, ou até mais. Além dos treinamentos, são muitos dados para analisar, observação dos adversários, preleções e outras reuniões. Que horas ele assistirá aos jogos dos brasileiros nas ligas europeias ou conversará com outros treinadores? Não dá tempo, alguma das funções será sacrificada — apontou Mansur, que complementou:
— Supondo que Fluminense e Flamengo se enfrentem perto de uma data de convocação. Não tem como o Diniz ligar para o Sampaoli e perguntar sobre a condição física do Pedro para ser chamado.
A gestão dessas demandas foi um dos fatores que fizeram Luxemburgo abrir mão do Corinthians, em 1998, após ser Campeão Brasileiro. Por seis meses, ele treinou os paulistas e o Brasil ao mesmo tempo. Na época, ele comentou que teve um grande desgaste emocional e chegou a perder 9 kg.