Se o torcedor brasileiro lamentou a eliminação de Beatriz Haddad Maia na semifinal de Roland Garros, poderá encontrar em Karolína Muchová uma referência para torcer e até simpatizar na final deste sábado, às 10 horas (de Brasília). E não será por acaso. A tenista da República Tcheca tem trajetória parecida com a da brasileira, com semelhanças que vão muito além da grande campanha em Paris, dos cabelos loiros e da tentativa de derrubar a número 1 do mundo, a polonesa Iga Swiatek, no saibro.
Bia tem 27 anos, enquanto Muchova alcançará a mesma idade em agosto. A tcheca tem como melhor ranking o 19º posto, embora seja a atual 43ª. Bia já figurou em 12º e, curiosamente, deve torcer contra Muchová no sábado - se a tcheca for campeã, a brasileira não entrará no Top 10 pela primeira vez na carreira.
Em termos de títulos, Muchová tem apenas um título, enquanto Bia já soma dois. Mas a tenista europeia já tem bom histórico em torneios de Grand Slam. Por isso, apresenta maior premiação: pouco mais de US$ 4 milhões, contra US$ 3,3 milhões da brasileira.
Mas o que mais aproxima as duas tenistas são as trajetórias desde a adolescência e a campanha em Roland Garros. Muchová e Bia são consideradas promessas desde os primeiros anos de juvenil. Mas demoraram a engrenar pelo mesmo motivo: problemas físicos. A brasileira já passou por diversas cirurgias, em diferentes partes do corpo. Até um tumor no dedo da mão ela precisou tratar nos últimos anos.
Assim como Bia, a finalista de Roland Garros começou a enfrentar dificuldades ainda na adolescência. Seu rápido crescimento (tem 1,80m de altura) trouxe consequências para as costas e para os joelhos. Muchová acabou "perdendo tempo" em sua carreira, sem conseguir acompanhar outras grandes tenistas de sua geração, como Petra Kvitová, Barbora Krejčíková (ambas campeãs de Grand Slam) e Karolina Plíšková, ex-número 1 do mundo.
Em 2019, parecia que Muchová começaria a conquistar seus primeiros grandes resultados. Em Wimbledon, chegou às quartas de finais. Porém, as lesões seguiam rondando a tenista, reconhecida desde cedo pelo grande repertório de golpes, com capacidade de fazer grandes jogos em qualquer superfície, da velocidade da grama à lentidão do saibro.
Dois anos depois, a checa apresentou outro forte lampejo de tênis brilhante. Foi semifinalista do Aberto da Austrália. Para tanto, derrubou a então líder do ranking, a australiana Ashleigh Barty, de quem arrancou diversos elogios. O embalo foi interrompido mais uma vez pelas dificuldades do corpo. Desta vez, uma lesão no tornozelo freou sua ascensão justamente em Roland Garros. Então 19ª do mundo, despencou para o longínquo 235º posto do ranking.
— Foram muitos momentos ruins, de uma lesão para a outra. Alguns médicos me falaram que eu poderia nunca mais jogar — revelou a tenista, na quinta-feira, após eliminar a belarussa Aryna Sabalenka.
E, assim como Bia, Muchova precisou adotar uma mentalidade mais positiva para enfrentar os obstáculos físicos e seguir firme no circuito. A estratégia vem dando certo. Após eliminar a número dois do mundo na semifinal, ela quer derrubar a número 1, neste sábado.
A DISCRETA IGA
Mais jovem que Muchova e Bia, Iga Świątek joga como veterana. Já tem três títulos de Grand Slam e exibe o status de número 1 do mundo desde abril do ano passado. Aos 22 anos, completados na semana passada, a tenista nascida em Varsóvia já exibe 13 troféus no circuito e mostra potencial para quebrar recordes no futuro.
Świątek (lê-se "Ixvionték") vem exibindo mais recursos e versatilidade a cada temporada. Se antes era conhecida como a especialista em saibro, no ano passado levantou o troféu do US Open para mostrar que também podia brilhar na quadra rápida. Em quadra, a polonesa exibe uma inteligência acima da média, com disciplina tática e muito esforço.
Foi assim que já foi campeã duas vezes em Roland Garros, a última vez no ano passado. Fã declarada de Rafael Nadal, assim como Muchová, a polonesa alcança todos os cantos da quadra, corre para todas as bolas e dificilmente desiste de uma jogada. Sua capacidade de se defender foi escancarada diante de Bia, na semifinal. Ao mesmo tempo, esbanjou precisão, com seguidas bolas na linha.
Toda essa performance é realizada em silêncio e com discrição. Świątek não costuma soltar gritos em quadra, discutir com árbitros ou brigar com a torcida. Sua timidez a coloca distante de outras que já ocuparam o posto mais nobre do ranking. Ela está longe de ter o carisma de Serena Williams ou os holofotes de Maria Sharapova, por exemplo.
Mas, quando está diante dos microfones, exibe a mesma precisão dos golpes em quadra. A tenista foi uma das primeiras a cuidar da saúde mental ao contratar uma psicóloga para acompanhá-la no circuito desde a estreia entre os profissionais. Também defendeu a valorização do circuito feminino e a Ucrânia, na guerra contra a Rússia.
Com seu jeito introspectivo, Świątek já admitiu que gosta de Lego, numa estratégia para se divertir e também se livrar da tensão do circuito. Em 2021, diante das restrições do Aberto da Austrália, em razão da pandemia, levou duas grandes caixas do brinquedo para montar em seu quarto de hotel. Ela também é fã de literatura e de rock 'n roll. Suas bandas favoritas são AC/DC e Pink Floyd.