Como forma de boicote após a organização do evento permitir a inscrição de atletas russos e belarussos, judocas ucranianos não irão participar do Mundial de Judô do Catar, evento mais importante da categoria após os Jogos Olímpicos. A decisão foi anunciada no domingo (30) pela Federação Ucraniana de Judô e está relacionada a uma política oficial do governo da Ucrânia, válida desde o final de março, que impede seus atletas de participarem de competições que tenham representantes da Rússia ou de Belarus.
Atletas dos dois países aliados foram banidos de competições desde o início da invasão da Rússia, apoiada por Belarus, à Ucrânia, em fevereiro do ano passado. Em março deste ano, contudo, o Comitê Olímpico Internacional (COI) recomendou às federações e associações esportivas internacionais que permitam a participação de atletas de ambas as nações como competidores neutros, desde que eles não apoiem a guerra, não exibam de símbolos nacionais e não tenham ligação com organizações militares.
A Federação Internacional de Judô (IJF) acatou a recomendação do COI e abriu as inscrições para atletas das nações banidas. Ao anunciar o boicote, a Federação Ucraniana de Judô alegou que há militares ativos entre os inscritos de Rússia e Belarus no Mundial.
—Não vemos aqui neutralidade, igualdade de condições e uma "ponte para a paz", como afirma a Resolução da IJF. Vemos aqui uma decisão que contradiz as últimas recomendações do Comitê Olímpico Internacional... Estamos desapontados com a decisão, portanto decidimos não participar do Campeonato Mundial em Doha — completa.
Alguns dos principais judocas ucranianos se manifestaram oficialmente pelas redes sociais. Daria Bilodid, medalhista de bronze nos Jogos de Tóquio e bicampeã mundial nos 48kg, mostrou-se indignada e reforçou o apontamento da federação ucraniana de que há militares entre os inscritos.
— Estava bem claro quais atletas da Federação Russa não podem participar em competições como atletas: são aqueles que têm contrato nas forças armadas e no Ministério dos Assuntos Internos da Rússia ou de Belarus. Mas todas aquelas pessoas que vão atuar no Mundial são militares. Isso é um absurdo. Acho inaceitável permitir que militares de um país terrorista que todos os dias matam ucranianos participem em competições internacionais. Isto não tem nada a ver com os valores desportivos — afirmou.
Bogdan Iadov, atual sexto colocado do ranking dos 66kg, também se manifestou.
— O Mundial sempre foi o meu sonho e está cada vez mais longe...Hoje a IJF aceitou atletas da Rússia e de Belarus. Não vou escrever sobre justiça, percebi há muito tempo que ela não existe, mas por que no último dia os 3 meses em que dei todas as minhas forças e me preparei para realizar o meu sonho? Como podeM mostrar tanta falta de respeito com os nossos judocas? Talvez tenha medo da reação do mundo, então é ainda mais uma vergonha— escreveu.
Quando anunciou o plano de permitir a participação de russos e belarussos no Mundial do Catar, a IJF afirmou que faria uma "verificação de antecedentes" dos atleta e examinaria as redes sociais de cada um para saber se estariam fazendo "propaganda de guerra".
De acordo com a agência de notícias Associated Press, vinte atletas de Rússia e Belarus estavam na lista de inscritos no domingo, incluindo cinco que foram listados como parte do Clube Esportivo Central do Exército em um comunicado no site do Ministério da Defesa da Rússia, depois de ganharem medalhas em competição no ano passado. Quatro foram listados como tendo o posto de sargento.
RÚSSIA INSATISFEITA
A forma com foi encaminhada liberação de atletas não agradou nem mesmo a Rússia. O critério de não permitir a participação de atletas vinculados a instituições militares foi duramente criticada pelo ministro dos Esportes, Oleg Matytsin, que reconheceu que a maior parte dos atletas do país têm algum tipo de vínculo militar. Em entrevista à agência de notícias russa Tass, no sábado, ele chamou o status neutro proposto como "discriminação"
O judô é o esporte favorito do presidente russo, Vladimir Putin, tanto que ele chegou a ser "presidente honorário e embaixador" da IJF. Após o início da guerra na Ucrânia, a entidade retirou o título.