Em 2022, o Brasil liderou o ranking mundial de países com o maior número de alertas para casos suspeitos de manipulação de resultados. De acordo com o relatório elaborado pela empresa Sportradar, foram 152 ações, superando em muito Rússia (92) e República Tcheca (56), que aparecem logo atrás.
Os números foram apresentados nesta quinta-feira (11), durante a Cúpula da Integridade Esportiva, em Brasília, por Paulo Schmitt, presidente do Comitê de Defesa do Jogo Limpo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e Comitê da Integridade da Federação Paulista de Futebol.
— A coisa foi para o ventilador e não conseguimos desligar o ventilador sem tomar um choque tremendo de realidade. Isso que está acontecendo agora é um conjunto de omissões das autoridades do país. Agora está todo mundo correndo para oferecer denúncia, mas isso já devia estar acontecendo há muito tempo — explanou ele.
Responsável por um dos discursos mais inflamados do evento realizado na sede do Tribunal Superior do Trabalho (TST), na Capital Federal, Schmitt apresentou o que acredita ser as principais causas para a alta incidência em território brasileiro: elevado número de partidas de futebol, salários baixos em sua grande maioria, baixo suporte em programas de integridade e mercado de apostas não regulado.
Por outro lado, também expôs uma série de ações que poderiam diminuir as ações criminosas: endurecer regulamentos com proibições de apostas de atletas com penas rigorosas, aprimorar protocolos de monitoramento e criar plataforma nacional que una autoridades policiais, judiciárias e tribunais desportivos, além de ampliar campanhas educativas, inclusive, às categorias de base.
— A gente precisa dizer de uma vez por todas neste país que é proibido o atleta apostar. Ele e todo o seu entorno. Isso não quer dizer que precisamos excluir as casas de apostas. Temos que criar estruturas mais especializadas para enfrentar este problema que não é novo e que é uma crônica da morte anunciada do esporte no mundo. Daqui a pouco, o torcedor, por mais apaixonado que seja, vai perder a crença na imprevisibilidade do esporte — sentenciou.
Na sequência do seminário, por conta da eloquência e experiência no tema, durante manifestação do assessor especial da secretaria executiva do Ministério da Fazenda, Paulo Schmitt foi convidado a integrar o grupo de trabalho que implementará as ações do Governo Federal a partir da publicação da Medida Provisória que regulamentará as apostas esportivas.