Basta chegar ao Colosso da Lagoa, procurar o túnel de acesso ao gramado e descer alguns poucos degraus. Lá está o rosto de Luizinho Vieira, em destaque na foto que estampa o orgulho do Ypiranga pelo vice-campeonato no Gauchão 2022. Nos idos de março de 2023, o quadro afixado na parede do estádio é ao mesmo tempo simbólico e desatualizado.
Desde então, o técnico coleciona mais motivos para pendurar no Colosso da Lagoa: o Canarinho é de novo semifinalista do Estadual e acaba de conquistar uma vaga à terceira fase da Copa do Brasil com vitória por 3 a 1 sobre o Bragantino — um time de Série A. Com tanto do que se orgulhar, ele precisa de poucas palavras para resumir um ano e quatro meses de trabalho em Erechim:
— É muito simples. A primeira contratação é o modelo de jogo.
Um dia após a classificação na Copa do Brasil, o técnico de 51 anos recebeu a reportagem de RBS TV e GZH nas arquibancadas que aprendeu a chamar de casa. O treinador projetou o duelo com o Grêmio neste domingo, às 16h, pelo jogo de ida da semifinal do Gauchão. De fala tranquila, conversa agradável, é também irredutível: seu modelo de jogo é inegociável. Foi assim que fez o Ypiranga chegar aonde chegou. E é assim que pretende fazer mais.
Não tem como não falar das lágrimas que o senhor derramou após classificação sobre o Bragantino.
Estou muito feliz em relação a tudo o que a gente vem construindo aqui. A primeira coisa que a gente estabeleceu no Ypiranga foi um modelo de jogo. Ano passado, funcionou bem, a gente conseguiu chegar na final do Gauchão. Esse ano é de confirmação, de estabelecer conceitos dentro do que a gente vem trabalhando. Estou cada vez acreditando mais no objetivo maior do clube: chegar à Série B. A Copa do Brasil dá uma saúde financeira para a gente galgar metas, acreditar. E principalmente poder se reforçar. Essa é a vitória maior. A gente fez confronto de equipe de Série C contra Série A num parâmetro de muito equilíbrio. E com a sinergia do torcedor, não tem como não se emocionar.
Como vê esta evolução de patamar do clube?
Desde o primeiro contato com o Adilson (Stankiewicz, presidente), falei que ele não ia trazer só um técnico, ia trazer um cara que ia aplicar um modelo ambicioso. E ele disse que era isto que procurava. Além do resultado, o Ypiranga tem um plano de jogo. Plasticamente é um futebol alegre, de procurar atacar o tempo inteiro. Hoje é um time que transita na Série C, mas ele não é dessa divisão.
No Interior, geralmente se faz um futebol com linha mais baixa, esperando o erro do adversário. Mas o Ypiranga parte do princípio de não esperar. Não vou esperar o Grêmio vir, o Inter vir, o Bragantino vir. Seja quem for o adversário.
LUIZINHO VIEIRA
Sobre o modelo de jogo do Ypiranga
Como é possível manter esse padrão de jogo de um ano para o outro, mesmo mudando peças?
É muito simples. A primeira contratação é o modelo de jogo. Até porque o Ypiranga não tem essa grana toda para fazer investimento alto. Tem de estar atento ao mercado e às características dos atletas. No Interior, geralmente se faz um futebol com linha mais baixa, esperando o erro do adversário. Mas o Ypiranga parte do princípio de não esperar. Não vou esperar o Grêmio vir, o Inter vir, o Bragantino vir. Seja quem for o adversário. Claro que tem alguns jogos de estratégia específica, mudança ou outra. Mas da execução a gente não abre mão. Cobro muito dos atletas para ter uma execução cada vez melhor.
É possível repetir esse enfrentamento contra o Grêmio?
Essa é a missão. Quando você tem muito dinheiro, que é o caso do Grêmio, você vai atrás de atletas com muita qualidade. Mas não passa só por isso. Passa por um conceito de jogo que a gente tem que ter, pela qualidade física. Mas passa muito pela mentalidade do jogo. De você confrontar as ideias, de se colocar dentro dos momentos no campo do adversário e colocar situações que você possa controlar o jogo sem a bola. Eu gosto muito disso. Para mim, esse é o segredo.
Ter que enfrentar o Suárez muda algo na estratégia para o jogo?
É um jogador que tem um cognitivo muito acima da média. É óbvio que tem que ter cuidado com ele, o jeito que o Grêmio joga de aproximar o pessoal do meio-campo, de criar jogadas com os laterais pelas beiradas, é um modelo que me atrai também. A gente procura fazer muito próximo, neutralizar jogadas para não chegar no Suárez. Temos até domingo para montar uma boa estratégia para fazer um jogo com intensidade, conceito e procurar construir uma vitória dentro da nossa casa.
É possível conseguir mais um feito como o da última quarta-feira e agora vencer o Grêmio?
São confrontos de ideias. Dentro disso, se analisar a parte financeira, é absurda a diferença. Mas acredito muito no meu grupo, tem qualidade e disciplina tática. São dois jogos. É importante construir vantagem aqui e depois ver o que acontece na Arena.
A gente viu alguns exemplos de zebras no Paulista.
É óbvio que tem que ter cuidado com ele (Suárez), o jeito que o Grêmio joga de aproximar o pessoal do meio-campo, de criar jogadas com os laterais pelas beiradas, é um modelo que me atrai também.
LUIZINHO VIEIRA
Sobre encarar o Grêmio de Suárez
Para o futebol do Interior, seria fantástico o Ypiranga realizar mais esse feito. Dois anos seguidos na final de uma competição que é uma das mais difíceis do Brasil. Mostra que o Interior vem crescendo muito. Gosto muito do trabalho do Thiago no Caxias. É um trabalho organizado, você consegue ver toda a construção dos momentos do jogo.
Qual o tamanho da ajuda que a premiação da Copa do Brasil traz para a disputa da Série C? Já foram R$ 3,75 milhões...
A gente já monitorou algumas peças visando à Série C. No nosso grupo cabem mais quatro ou cinco peças. O objetivo maior é subir para a Série B. Aí coloca o time em outro patamar, até na parte financeira. O desafio é esse: ser inteligente, se reforçar com qualidade dentro do modelo de jogo para adentrar o Brasileiro e ficar muito mais fortalecido.