Participar de um campeonato mundial de qualquer esporte, seja ele tradicional ou eletrônico, é sonho para muitas crianças. Fazer isso, no seu país, é algo impensável para muitos. Entretanto, os cinco jogadores de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) da Furia estão vivendo de uma forma intensa no Intel Extreme Masters Major Rio. A Copa do Mundo de CS:GO, uma das principais competições de eSports do planeta, está acontecendo no Rio de Janeiro e os brasileiros estão na fase final da competição.
Para buscar o título mundial de CS:GO para o Brasil, algo que não acontece desde 2016, a Furia será apoiada por quase 20 mil pessoas na Jeunesse Arena, sem contar todo o apoio dos presentes na Fan Fest, que ocorre ao lado do ginásio e dos torcedores que assistirão ao Major pela internet. Mas se dúvida, o principal apoio estará nas áreas VIP's da Jeunesse: o dos familiares. Desde o início da competição, os jogadores tem tido contato com seus parentes que estão no Rio de Janeiro acompanhando todo o evento.
Calmo quando criança, ousado no CS
A mãe de Andrei "Art" Piovezan, Ângela Piovezan comentou que o apoio do torcedor para a Furia tem sido algo impressionante. Acompanhando o filho pela terceira vez em uma competição, ela ressalta que é a primeira vez que ela assiste presencialmente a participação do filho em um Major, e também pela primeira vez está presente em uma competição no Brasil.
— Eu o acompanhei em umas duas competições. Mas no Brasil e em Major é a primeira. Está sendo uma emoção indescritível. Ainda mais com a torcida brasileira apoiando. Está sendo de arrepiar. Eu fico gritando, cantando e pulando, de vez em quando mando umas energias de vibração pros guris — comentou Ângela Piovezan em entrevista à GZH.
Natural de Canoas, Art tem um estilo agressivo de jogar. Tanto que é apelidado de cachorro. Em alguns momentos no Riocentro, quando o jogador aprontava uma de suas jogadas ousadas, os gritos de "ruf ruf ruf" ecoaram nas arquibancadas. Ângela comenta que, apesar do nick (apelido do jogador no jogo), Andrei Piovezan nunca foi de aprontar na infância.
— Pelo contrário, sempre foi muito quieto e comportado. Deveria estar guardando as cachorradas para o CS — brincou.
Ângela conta sempre apoiou o sonho do filho de ser jogador profissional de CS. Aliás, ressalta que Art iria cursar medicina, mas desistiu por conta da carreira no esporte eletrônico. O que importa para a mãe do capitão da Furia é que o Andrei esteja feliz.
— Desde o começo, eu sempre dei apoio. Sempre foi assim com os meus três filhos. Eu só pergunto se eles estão felizes. Se a resposta for sim, toca ficha. Sofri várias críticas por deixar ele jogar, mas nunca me importei. Inclusive, o Art ia estudar medicina, mas optou por jogar. E está tudo perfeito. Prezo muito que ele esteja contente no que faz. Aliás, os jogos eletrônicos estão em crescente — finalizou
Talento de família
Destaque da Furia, Kaique "Kscerato" Cerato é a principal esperança brasileira quando uma situação de clutch está acontecendo (a situação de aperto ocorre quando um jogador do time está sozinho contra um ou mais adversários no round). Irmão mais novo de outro jogador profissional de CS:GO, o jogador brasileiro já falou em mais de uma oportunidade que ele vive o sonho de jogar o Major no Brasil por ele e pelo irmão.
Kauan "Kncerato" Cerato, atualmente está sem time, mas segue na busca de uma organização. Aproveitando o Major no Brasil, o jogador está sempre que possível próximo do irmão depois dos jogos. Após as vitórias da Furia no torneio, Kscerato sempre procura o irmão para o primeiro abraço.
— Está sendo surreal acompanhar meu irmão em um major no Brasil. Lembro que acordávamos às 5h da manhã, antes de irmos para escola, para assistir um jogo dos antigos Majors. Ver ele hoje representando a mim, nossa família e o Brasil está sendo muito gratificante — comentou Kncerato à GZH.
Kauan ressalta que o relacionamento entre os dois é igual ao de qualquer irmão. Mas, quando o assunto é CS, os dois se ajudam e conversam sobre estratégias e estilos de jogo.
— A nossa relação é como a de qualquer irmão. Brigamos e nos amamos (risos), mas no geral, a gente conversa muito sobre CS, sempre ajudo ele em algumas coisas e ele, com certeza, me ajuda em muitas outras. Ele é um ídolo me passando conhecimento e conversando sobre o jogo — explicou.
No Major disputado em Estocolmo, na Suécia, em 2021. Kscerato fez uma surpresa para o irmão. Todo o jogador classificado para o mundial recebe um adesivo com a sua assinatura no jogo. Quem quiser, pode comprar o adesivo e aplicar em suas armas de jogo. Na oportunidade, Kscerato fez uma homenagem para o irmão. Em sua assinatura, ele deitou a letra S para parecer um N e, dessa forma, colocar o adesivo do irmão dentro do jogo que o irmão lhe apresentou na infância.
— Ele me pegou de surpresa porque foi bem no major da Suécia, lugar onde sempre sonhamos em ir. Lá tem a famosa lan house “Inferno Online”. Ele me mandou o adesivo e fiquei muito feliz. Até brinco com a galera que sou um dos unicos que tem sticker e não jogou um Major — brincou.
Kauan também ressalta a participação dos pais na formação de ambos como jogadores profissionais. Naturais do Jardim Helena, zona leste de São Paulo, o CS foi a alternativa para que eles ficassem em casa.
— Nossa família sempre apoiou nós jogarmos. Com isso, gerava uma tranquilidade neles para que não ficássemos na rua. A gente sempre comentava que iriámos virar profissionais e ganhar dinheiro com isso. Dessa forma, sempre tinham os comentários de pais mesmo: só acredito vendo. Mas sempre nos apoiaram— finalizou.
O caçula abençoado
André "Drop" Abreu, de 18 anos, é o caçula do time da Furia. O jogador tem tido um papel importantíssimo no Major do Rio. Contra a Spirit, o jogador consegui um ace (quando elimina os cinco jogadores adversários), que mudou o rumo da partida que parecia perdida. Na oportunidade, o jogo estava 10 a 1 para os russos contra os brasileiros. Ao fim do jogo, a Furia venceu por 16 a 13.
A mãe de Drop, Sandra Cassiaguerra, revelou como tem sido viver esse momento com o filho. Durante os jogos, ela aparece sempre ao lado dos outras familiares rezando durante as partidas. Principalmente quando as imagens de seu filho jogando aparecem no telão.
— É uma experiencia única e são muitas emoções. É um orgulho imenso. São muitas batalhas dele e agora chegou o reconhecimento. Muito feliz de ver ele conquistando o seu sonho, parece que o meu coração vai sair pela boca durante os jogos — comentou em entrevista à GZH.
Questionada se ela tem alguma superstição antes das partidas, Sandra ressalta que apenas reza pedindo proteção ao seu filho. Além disso, mesmo sem poder conversar com Drop antes dos jogos, ela envia uma mensagem de incentivo para o filho.
— Eu não consigo falar com ele antes dos jogos. Mas antes de cada partida, eu mando uma mensagem de incentivo para ele. E no mais, eu rezo. Peço para Deus o abençoar e iluminar. Que dê tudo certo e que ele faça uma boa partida.
Sobre ver o seu filho se tornar um jogador profissional de jogos eletrônicos, ela afirmou que apoiou o sonho de Drop desde o início. Entretanto, impôs uma condição: terminar os estudos. Com essa fase concluída, agora ela se sente satisfeita de ver o seu filho realizando o seu sonho.
— No início, foi complicado. O André é filho único e nós tivemos uma vida difícil. Mas logo que eu vi que era isso que ele queria fazer e isso o deixaria feliz, eu o apoiei. Eu só impus uma condição: que ele terminasse os estudos. Que conciliasse os estudos com o trabalho dele e isso foi feito. Estou realizada de estar com ele aqui nesse momento tão importante para a vida dele — finalizou.