A última rodada do Campeonato Argentino foi emocionante. Calhou de ter, no domingo final da competição, um cenário improvável. E que fala muito sobre a rivalidade.
O Boca Juniors entrou na rodada um ponto à frente do Racing. O adversário do Boca seria o Independiente, maior rival do Racing. O adversário do Racing era o River Plate, maior rival do Boca. Pois nem o Independiente nem muito menos o River facilitaram. Pelo contrário: o goleiro Armani, do River, chegou a defender um pênalti aos 45 minutos do segundo tempo e impediu a virada do Racing. Logo depois, Borja fez o gol da vitória. Fim de jogos: Boca 2 x 2 Independiente, Racing 1 x 2 River Plate.
As partidas geraram polêmica e reações entre os torcedores argentinos. E respingaram no Rio Grande do Sul. Os gaúchos já viveram momentos em que a rivalidade pesou e houve pedido de entrega para prejudicar o rival. Os casos mais lembrados foram o Grêmio em 2009, que perdeu para o Flamengo e isso garantiu o título brasileiro aos cariocas e o vice ao Inter, e também o Caxias em 2022, que ganhou um jogo e salvou o Juventude do rebaixamento.
GZH perguntou a torcedores de clubes daqui o que fariam se estivessem vivendo as situações do argentinos no domingo. A seguir, veja algumas respostas.
Gremistas
Douglas Henrique, 28 anos, personal trainer, Massaranduba-SC
"Mesma coisa de 2009 (quando o Grêmio foi derrotado na rodada final para o Flamengo, que ficou com o título deixando o Inter em segundo), simples. Não existe a menor possibilidade de eu pensar do Grêmio ajudando o Inter. O adversário do meu rival é meu amigo! E, por favor, jamais compararem a a rivalidade Gre-Nal com qualquer outra depois desse episódio."
Gabriel Rambo, 31 anos, empresário, Lajeado
"Os pontos corridos pregam essas peças de vez em quando. O campeonato do Boca não passou só pelo jogo do último domingo, então a resposta seria "sim". O time tem que pensar em si mesmo, pontuar sempre o máximo possível, buscando a melhor colocação indiferente de onde o rival está. Claro que ninguém quer ver o rival brilhando, mas vejo que essa história de entregar o jogo para prejudicar mancha mais a instituição do que ajuda. Cada um tem que fazer o seu durante todo o campeonato e o resto é consequência."
Daniel Nunes, 26 anos, radialista, Camaquã
"Se eu gostasse que o Grêmio ajudasse o Inter? Jamais! Em hipótese alguma. O Inter é o maior rival do Grêmio, e eu, como torcedor fanático, não gosto de ver as conquistas/vitórias/títulos do Internacional. Em uma situação, como ocorreu domingo, o Grêmio teria o obrigação de perder o jogo. Na minha visão, essa seria a melhor decisão. Mesmo que uma vitória valesse uma vaga em outra competição. Se fosse ao contrário, eu tenho certeza que o Inter teria perdido o jogo. Faz parte do riscado."
Eduardo da Cruz, 31 anos, zootecnicista, Capitão Leônidas Marques-PR
"Não gostaria, vide 2009. Acho que esse é um dos muitos pontos negativos dos pontos corridos. No mata-mata, o time apenas depende de si para ser campeão, e nos pontos corridos essa regra se aplica apenas para o líder, o que não deixa de ser justo para quem tem a melhor campanha. Não acho que ajudar um rival a ser campeão (ainda mais em grandes rivalidades como Gre-Nal e Boca x River) seja legal. Se meu time colaborasse para o rival ser campeão eu ficaria p... (ou extremamente decepcionado, para ser mais culto)."
Olavo Schneider, 24 anos, nutricionista, Pelotas
"Jamais gostaria que meu time ajudasse o rival, ainda mais se tratando de um título nacional. Em 2009, quando o Grêmio foi com os guris jogar contra o Flamengo, acho que ainda fez muito esforço para ganhar. Mas felizmente o Flamengo acabou ganhando o título. Se ainda tivesse a desculpa de que a vitória pudesse ajudar o meu time, o que não foi o caso do River domingo, poderia até entrar em discussão se valeria a pena ou não. Se o Gabriel Grando ou Brenno tivessem pegado um pênalti no finalzinho do jogo favorecendo o Inter, provavelmente, a estadia deles no Rio Grande do Sul ficaria bem conturbada. As torcidas de Grêmio e Inter preferem muito mais ver o rival perder do que o time ganhar algo. Infelizmente é essa a verdade."
Colorados
Christian Vicente, 25 anos, assistente jurídico, Alvorada
"Não gostaria que ajudasse, e vou utilizar o exemplo de 2009. O Grêmio levou o "sub-15" para jogar contra o Flamengo, e mesmo assim foi ganhando para o intervalo, quando um dirigente enlouqueceu que o time dele estaria dando o título para o rival. Dito e feito, o Grêmio voltou e perdeu para o Flamengo, que levou o título. Claro, se o Inter tivesse feito seu trabalho, não dependeríamos do rival, mas o sentimento é que se o Grêmio dependesse do Inter para ganhar um título (ou escapar de um rebaixamento), eu ficaria contente e extremamente satisfeito em perder e não ajudar o rival. Rivalidade (com respeito) acima de tudo."
Vítor Bierhals, 21 anos, professor, Novo Hamburgo
"Não devia ajudar! A vitória do River não agregou nada de significativo ao próprio River e só ajudou o rival histórico deles! Assim como Grêmio entregou pro Flamengo em 2009 para não sermos campeões, o Inter deve entregar qualquer partida para prejudicar o Grêmio."
Douglas Nascimento, 27 anos, social media, Carazinho
"Com certeza não! A rivalidade aqui no Sul é tão grande a ponto da gente torcer, às vezes, mais pro insucesso do rival do que propriamente o sucesso do nosso time. Se um goleiro do Inter defende uma penalidade que dá o título ao grêmio, no outro dia ele pode passar no RH que a camisa colorada ele não veste mais."
Cassiano Silva, 32 anos, vendedor de veículos, Cachoeirinha
"Nunca ajudaria. Sou colorado, e se acontecesse algo semelhante aqui, é coisa de demitir todo time no dia seguinte. Caiu aí o mito de maior clássico do mundo, Gre-Nal é Gre-Nal! Aqui não tem isso."
Guilherme Peixoto, 18 anos, estagiário, São Lourenço do Sul
"Se fosse no caso do Inter, deveria entregar o jogo para prejudicar o Grêmio. O charme da rivalidade é jamais dar a oportunidade para o rival alcançar a glória."
Caxias
Bruna Cipolatto, 29 anos, chef de cozinha, Caxias do Sul
"Desde que o Caxias caiu para a Divisão de Acesso, passamos um baita trabalho para voltar e nos reconstruirmos. É um baque muito grande, um custo enorme. Ouvimos muito dos rivais. Tivemos em mãos que o Juventude passasse por isso. A queda no Gauchão traria consequência para o Brasileirão. Seriam duas quedas no ano. Naquele dia, disseram que valia a vaga para a Série D do ano que vem, mas o certo seria ter subido. Teve textão para falar em ética, e até concordo, mas a verdade é que o rival não ganhar dá um consolo após tantos sofrimentos e tantas tentativas."
Ottavio Frizzo, 27 anos, advogado, Caxias do Sul
"Absolutamente, não! O jogador deve sim honrar a camisa que veste, mas mais ainda o seu torcedor. E esse comemora, depois da vitória do próprio time, a derrota do rival."
Juventude
Octavio Rizzotto, 20 anos, metalúrgico, Caxias do Sul
"Definitivamente, não. Não deveríamos ajudar o rival, pois a palavra em si já diz tudo: rival. A única exceção seria meu time precisar da vitória. Até ajudaria o rival indiretamente, mas seria mais importante para meu time. Tivemos esse exemplo no Gauchão, quando o Caxias que precisava da vitória pra garantir vaga na Série D. Porém, se perdesse, rebaixaria o Juventude."
Victor Varela, 28 anos, empresário, Caxias do Sul
"Não, porque ter o rival sendo campeão com ajuda do meu time seria uma corneta que iria ficar por muito tempo. Seria zoado o ano inteiro. Então preferia que o time entregasse o jogo e não desse o título ao rival."
Brasil-Pel
Alice Silveira, 26 anos, estudante de Psicologia, Pelotas
"Sempre acho essa questão curiosa, pois nós, torcedores, com o nosso lado emocional, sempre pensamos diferente do atleta, obviamente. No que diz respeito à rivalidade Bra-Pel, pode ser campeonato de botão, eu quero sempre acima de tudo que o rival perca. Então não gostaria que o Brasil ajudasse, não."
Pedro Marques, 32 anos, advogado, Pelotas
"Quero que o Brasil vença sempre! Ainda falaria eternamente que só foram campeões com a nossa ajuda. E eles devem estar sentindo falta de alguma alegria, né?"
Pelotas
Aline Souza, 20 anos, estudante de Jornalismo, Pelotas
"Se fosse o Pelotas nessa situação, eu não gostaria que ajudasse o Brasil a ser campeão. Claro, tendo em vista que a derrota não fosse prejudicar o próprio Pelotas. A rivalidade por aqui é muito grande, tenho plena certeza que pelo menos 95% de ambas as torcidas responderia a mesma coisa."
Guilherme Farias, 36 anos, veterinário, Pelotas
"Se não tivesse lutando por mais nada, como uma vaga ou algo assim, iria pedir para o treinador escalar o sub-15. Ou até a escolinha, para não correr qualquer risco."
São Paulo-RG
João Carlos Soares, 37 anos, bancário, Rio Grande
"Não tem que ajudar! Na rivalidade vale quase tudo, inclusive não ganhar um jogo, desde que não esteja valendo nada para meu time."
Rodrigo Tavares, 30 anos, auxiliar de Direito, Porto Alegre
"Não gostaria de ver o São Paulo ajudando. Coloca time da reserva, dá folga para o plantel, qualquer coisa. Deixa rolar aquela derrota marota só pra ver o gostinho do rival não levar o título e a gente ter essa brincadeira por um bom tempo."
Guarany-Ba
Jairton Marques, 35 anos, desenhista gráfico, Caxias do Sul
"Não gostaria, pois futebol é paixão, emoção, razão, magia e lúdico também. Vencer sempre é o objetivo, mas não fazer força para ganhar sempre existiu, e se isso for para que o rival não seja campeão, também é válido."