Crissiumal é um pequeno município do noroeste gaúcho, com aproximadamente 14 mil habitantes. Se percebe a calmaria ao caminhar pelo centro da cidade — mesmo na rótula da Avenida Palmeiras, ponto de maior movimento. Na rotatória fica o monumento O Pioneiro, uma arte feita de ferro e moldada a partir de sucatas pelo escultor Paulo de Siqueira em 1984, de forma manual. A obra representa uma família chegando às novas terras na época da colonização.
Emancipada de Três Passos em 1954, Crissiumal teve como primeiros habitantes os índios tupis-guaranis, muito antes da fundação. Em homenagem, foi criado em 1949 o Tupi Futebol Clube, que disputa a Divisão de Acesso do Rio Grande do Sul.
O estádio do Tupi é chamado de Rubro-Negro Hinterholz. Uma referência às cores do time e uma homenagem para a família Hinterholz, cujos membros realizaram grandes feitos pelo futebol local. Lauro Roque Hinterholz é o maior artilheiro da história do clube. Arno Egon Hinterholz já foi zagueiro, treinador e presidente. Elbio Alcides Hinterholz, o Borbolha, foi zagueiro e pai do ex-goleiro Danrlei, ídolo do Grêmio e também natural de Crissiumal. Antes dele, porém, as traves da família eram defendidas por Roberto Gilmar, o Beto, revelado pelo Tupi aos 16 anos e campeão mundial pelo Tricolor em 1983.
— Era reserva do Mazarópi. Quando ele chegou, eu estava jogando. Mas, com 22 anos, fui para o banco. O Paulo Sant'Anna colocou na coluna que eu era uma joia que ia para o cofre, e o Mazarópi ia pra vitrine. Até hoje eu não sei do cofre (risos) — brinca Beto, atualmente preparador de goleiros do Tupi.
A cidade é bastante conhecida por revelar goleiros. Além de Beto e o sobrinho Danrlei, Cláudio André Taffarel também deu seus primeiros passos no mundo da bola por lá. Natural de Santa Rosa, mudou-se para Crissiumal aos quatro anos. Através de Beto, o tetracampeão do mundo com a Seleção Brasileira fez seu primeiro teste no Grêmio. O destino, no entanto, lhe encaminhou para o Inter.
Aos 62 anos, Beto também defendeu o gol do Juventude e do Mogi Mirim-SP. Está há nove anos como preparador de goleiros do Tupi. Prometeu que, quando não tiver mais condições físicas de atuar na função, vai seguir no clube como roupeiro. Entende que é caprichoso no trato com os uniformes. Sua vida é no mundo da bola. Tem família em Porto Alegre, mas gosta mesmo é da tranquilidade do interior.
— A cidade é aconchegante, muito boa de morar. Eu não tenho saudade nenhuma de Porto Alegre. Tem um pessoal que gosta muito de futebol, a gente gosta de ajudar. Consegui subir e manter o Tupi na Segundona, agora estamos aí lutando de novo — comentou.
Na última rodada, o Tupi assegurou a permanência na Divisão de Acesso pelo saldo de gols, embora tenha sido derrotado pelo Gaúcho, em Passo Fundo. A manutenção por um detalhe, sem dúvida, teve influência de Augusto, o Boi, torcedor símbolo do clube.
Aos 58 anos, é fanático pelo time e mora embaixo das arquibancadas. Não perde um jogo da equipe. Tem paralisia cerebral desde que nasceu e enfrenta dificuldades na fala, mas se comunica com todo mundo. A maioria das pessoas entende o que ele quer dizer, e ele compreende tudo. Ajuda a comissão técnica e jogadores durante os treinamentos, buscando água, chuteiras e outros materiais. O clube não existe sem seu grito:
— Tupi!