Precisava entrar em campo e jogar. Era isso que faltava para o Atlético-MG se sagrar bicampeão da Copa do Brasil. Depois de vencer o Athletico-PR por 4 a 0 no último domingo, em Belo Horizonte, o time mineiro voltou a ganhar dos paranaenses, dessa vez por 2 a 1 e levou mais uma taça para Minas Gerais na temporada — no começo do mês havia quebrado um jejum histórico de 50 anos e vencido o Brasileirão também pela segunda vez em sua história.
Keno, no primeiro tempo, e Hulk, artilheiro da Copa do Brasil e do Brasileirão, na etapa final, marcaram os gols atleticanos na partida desta quarta-feira, na Arena da Baixada, em Curitiba. Jaderson, já no final do jogo, diminuiu. Como o Atlético conquistou o torneio de pontos corridos e o de mata-mata, a Supercopa do Brasil será decidida entre os mineiros e o Flamengo, vice-campeão brasileiro. Além do título, o time chegou à 52ª vitória no ano, alcançando o recorde brasileiro na estatística.
O título da Copa do Brasil coroa um ano de 2021 praticamente perfeito do Galo. Com o insucesso na Copa Libertadores, quando perdeu para o Palmeiras na semifinal, o time mineiro voltou suas forças para os dois campeonatos restantes e os arrebatou para a sua galeria de títulos. A equipe de Cuca já havia vencido a competição de mata-mata em 2014, quando derrotou o Cruzeiro na decisão. O treinador, com as duas taças deste ano, firmou ainda mais o seu nome no hall de maiores técnicos do clube — ele já havia vencido a Libertadores de 2013.
Os troféus da temporada premiam uma temporada em que o Atlético-MG foi às compras. A equipe foi ainda mais forte ao mercado e trouxe grandes reforços como Nacho, Hulk e Diego Costa. E, apesar de os dois atacantes terem chegado à custo-zero, pois estavam livres no mercado, o Atlético pagou cerca de R$ 32 milhões pelo argentino, além de mais R$ 14 milhões para contratar Arana, em definitivo, junto ao Sevilla, após o término do empréstimo. Tudo isso, somado a outras contratações como a de Keno, que custou cerca de R$ 12 milhões, mais salários e outros investimentos, representa, segundo o próprio Atlético, um gasto de R$ 102 milhões com o elenco no ano de 2021.
Tudo isso passou diretamente pelos 4 R’s do clube mineiro. Rubens Menin (dono da construtora MRV, do Banco Inter, da CNN Brasil), Rafael Menin (herdeiro de Rubens), Ricardo Guimarães (dono do BMG) e Renato Salvador (bilionário dono de rede de hotéis) foram os responsáveis pelo crescimento (em campo e financeiro) do Galo. Os engravatados não marcaram gols, mas assumiram o protagonismo. São eles os mecenas que fazem, como em passe de mágica, um clube com dívida de R$ 1,3 bilhão se tornar o dono do Brasil.
Os mineiros entraram com quase a mesma equipe que venceu no Mineirão, no primeiro jogo da final. Diego Costa, que saiu lesionado no começo da partida em Minas Gerais, deu lugar ao chileno Eduardo Vargas, que marcou duas vezes no domingo passado. Do outro lado, sem Thiago Heleno e Nikão, o técnico Alberto Valentim optou por mudar o esquema tático. Do 3-5-2 foi para o 4-5-1, com a entrada de Zé Ivaldo na zaga e Pedro Rocha no meio de campo. A outra mudança foi a substituição do zagueiro Hernández pelo meio-campista Christian.
Com uma situação confortável para o Atlético-MG, a equipe paranaense começou mais tensa, reclamando bastante da arbitragem do gaúcho Anderson Daronco. No entanto, foi dos mineiros a primeira oportunidade que assustou o gol adversário. Em uma enfiada nas costas da defesa, Hulk dividiu com o goleiro Santos e quase levou a melhor.
Em meio a um jogo bastante truncado, o primeiro chute a gol foi do Athletico-PR, aos 17 minutos. Terans ajeitou a bola na entrada da área e arrematou em direção a goleira defendida por Everson, mas o goleiro mineiro fez a defesa. O arremate fez bem para o time do Paraná. Aos 19 minutos, Pedro Rocha repetiu o que já havia feito em 2016, quando marcou na final da Copa do Brasil pelo Grêmio contra o Atlético-MG, mas dessa vez o gol foi anulado. O camisa 32 dominou o cruzamento de Léo Cittadini com a mão antes de marcar e o VAR revisou a jogada
Mas o que já era complicado ficou ainda pior. Em um contra-ataque fulminante do Atlético-MG depois de um erro do lateral-direito Marcinho, Vargas achou Zaracho na ponta direita. O argentino cruzou rasteiro para Keno, que teve o trabalho de apenas empurrar para o gol do goleiro Santos, abrindo o placar na Arena da Baixada e ampliando a vantagem mineira para cinco gols.
Aos 29, Hulk quase fez mais um para o Galo. Zaracho o deixou na cara do gol, mas o camisa 7 atleticano bateu, de cavadinha, ao lado da trave. O Athletico-PR tentou responder aos 37 em um chute do zagueiro Zé Ivaldo de fora da área, mas a bola passou muito longe do travessão do gol defendido por Everson.
Sem Nikão, lesionado, os paranaenses perderam mais um jogador quase no final do primeiro tempo. Renato Kayzer, que já havia desfalcado a equipe recentemente, voltou a sentir dores no tornozelo esquerdo e teve que deixar o campo para a entrada de Vinicius Mingotti.
Aos 43, o Athletico-PR chegou próximo do empate. Terans desviou a bola após cruzamento, mas Everson fez a defesa no centro do gol. No final da etapa inicial, Keno recebeu nas costas da marcação, ficou cara a cara com Santos, mas parou no goleiro paranaense. O lance chegou a gerar confusão entre os jogadores, mas o árbitro Anderson Daronco administrou com dois cartões amarelos, um para cada lado — Léo Cittadini para os donos da casa e Vargas nos visitantes.
Com o final encaminhado, o treinador Alberto Valentim fez duas mudanças no intervalo. O técnico campeão da Copa Sul-Americana tirou Léo Cittadini e Christian e botou Fernando Canesin e Jader. O primeiro foi responsável, inclusive, pelo lance de perigo logo no minuto inicial da etapa final. Ele obrigou Everson a botar a bola para escanteio depois do chute de fora da área.
O camisa 55 voltou a assustar o time mineiro. Pedro Rocha passou por três marcadores e escorou para Canesin, que parou mais uma vez no goleiro atleticano. Os paranaenses voltaram a balançar a rede, dessa vez com Vinicius Mingotti, mas foi marcado o impedimento, o que anulou mais um gol. A pressão seguiu sendo toda do Athletico-PR. Marcinho arriscou de fora da área e Everson, em mais uma defesa estranha, mandou a bola pela linha de fundo.
O time de Minas Gerais, com o título praticamente garantido, aproveitava-se dos erros dos adversários para matar o jogo. Khellven, que havia acabado de entrar na lateral-direita, errou no campo de defesa, Arana roubou, mas o cruzamento parou nas mãos de Santos. No minuto seguinte, Allan soltou uma bomba de fora da área e mais uma vez o goleiro do time paranaense salvou.
E não podia faltar o gol do melhor jogador do país na temporada de 2021. Parecia replay de inúmeros gols atleticanos no ano. Aos 30, Savarino achou um passe nas costas da defesa, Hulk correu, chegou na frente do goleiro e, com toda a tranquilidade do mundo, tocou por cima do goleiro Santos.
O Athletico-PR tentava diminuir o placar e conseguiu. Aos 41 minutos, em um cruzamento dentro da área, Jaderson, que havia entrado aos 25 da etapa final, apareceu na segunda trave e tocou de cabeça para minimizar a desvantagem dos paranaenses. Apesar disso, o título já estava decidido e não existia mais chances de fazer qualquer outra coisa que não esperar o tempo passar.