Mavys Álvarez Rego, uma cubana menor de idade quando teve uma relação afetiva com Diego Maradona, afirmou nesta segunda-feira (22) que sofre ao ver a idolatria provocada na Argentina pelo homem que ela acusa de maus-tratos, abusos e de tê-la introduzido ao consumo de drogas.
— É difícil estar em seu país (de Maradona), ver que ele está em toda parte, que é um ídolo e, ao mesmo tempo, o me lembro dele como pessoa parece ruim — disse Álvarez em entrevista coletiva à imprensa internacional em um hotel em Buenos Aires, a três dias do primeiro aniversário da morte do eterno camisa 10 argentino.
Álvarez, 37, que mora em Miami desde 2014 e é mãe de dois filhos, prestou depoimento na quinta-feira passada perante a Justiça argentina, que investiga se ela foi vítima de tráfico de pessoas quando, na adolescência, viajou com Maradona a Buenos Aires para participar da homenagem ao astro no estádio La Bombonera, em 2001.
Durante sua estada de dois meses em Buenos Aires, Álvarez foi submetida a uma cirurgia plástica nos seios que lhe provocou um pós-operatório doloroso. Ela teria sido mantida trancada e sem os devidos cuidados, segundo seu relato.
"Roubaram minha inocência"
— Deixei de ser menina, tive de queimar etapas da vida. Você passa de menina a mulher rapidamente. Toda aquela inocência que eu tinha foi roubada de mim. Eu tinha 16 anos e já bebia, me drogava — revelou.
A relação entre eles durou "entre quatro e cinco anos" durante grande parte da estada de Maradona em Cuba, entre 2000 e 2005, para se reabilitar de seus vícios depois de estar à beira da morte.
Ao conhecê-lo "fiquei deslumbrada, ele me conquistou com flores (...). Mas, depois de dois meses, tudo começou a mudar. Eu o amava, mas também o odiava, cheguei a pensar em suicídio — afirmou.
Maradona lhe ofereceu cocaína com insistência até que ela concordou em usar, se tornando viciada na droga.
Álvarez acusou Maradona de tê-la estuprado em uma ocasião. Ela também disse ter sido vítima de episódios de violência, como uma vez em que ela atendeu o celular enquanto o ex-jogador dormia.
— Ele ficou muito bravo. Pegou o celular, jogou contra a parede, me deu um tapa e me empurrou contra a cama. Houve muitos momentos assim — disse.
À espera da Justiça
Álvarez decidiu contar sua verdade depois que "deturpações" sobre sua vida foram publicadas para o lançamento de uma série biográfica sobre Maradona.
— Acho que já fiz minha parte, agora está nas mãos da Justiça. Falei o que aconteceu comigo para evitar que aconteça com outras e para que as outras meninas se sintam com força e coragem para falar — afirmou.
A Fundação para a Paz e Mudança Climática, que a representa em Buenos Aires, pediu à Justiça que investigue os integrantes do círculo próximo de Maradona na época por suposto tráfico de pessoas, privação ilegítima de liberdade, iniciação ao uso de drogas e lesões graves. Os advogados dos réus rejeitaram as acusações.
Guillermo Cóppola, ex-representante de Maradona, afirmou que sente por Álvarez "se ela realmente viveu a provação que afirma ter vivido", mas negou envolvimento em um crime e denunciou por calúnia e difamação o diretor da Fundação que o acusa.