Lembro que fui escalado para viajar a Chapecó em função da tragédia, porque tinha caído o avião, e os corpos seriam levados para a cidade. Cheguei lá e era impressionante o clima de comoção. Impressionante mesmo. As pessoas choravam nas ruas. Fui até o estádio para pegar informações e depois fiz a cobertura do velório. Havia mais de 50 corpos enfileirados em meio a uma chuva torrencial na Arena Condá.
Nós transmitimos pela Rádio Gaúcha praticamente toda a cerimônia, em tempo real. Fiquei muitas horas no ar. E cada vez que eu falava com algum familiar, sentia a dor que eles estavam sentindo. A cada palavra, era uma espécie de desabafo. Era um choro diferente a cada entrevista, fosse com familiar, um amigo ou um ex-colega.
Depois, chegaram ao local o então presidente da República, Michel Temer, e o presidente da Fifa, Gianni Infantino. Alguns ex-jogadores como Beletti e Puyol também foram à Arena Condá. Mas o que chamava mesmo a nossa atenção era a paixão que os torcedores da Chapecoense tinham por essa equipe. A cidade inteira mobilizada em função do time, um clima de comoção, de choro, de muita tristeza.
Consegui manter o equilíbrio no ar porque eu precisava transmitir tudo aquilo, mas foi muito difícil. Devo ter entrevistado, sem exagero, cerca de 100 pessoas naquele dia. Dessas, talvez umas 96 choravam ao falarem ao microfone. Era tudo muito doído.
Lembro até hoje que a mãe de uma das vítimas (Ilaídes Padilha, mãe do goleiro Danilo) chegou para um colega nosso da SporTV (Guido Nunes) e disse assim:
— Posso fazer uma pergunta?.
Ele disse que podia, e ela emendou:
— Como vocês da imprensa estão se sentindo tendo perdido tantos amigos queridos lá? Você pode me responder?
Ele balançou a cabeça dizendo que não. E ela completou:
— Não, né? Posso te dar um abraço em nome da imprensa?
Esse nosso colega desabou chorando ao vivo. A gente, que estava na volta, quase não conseguiu se conter, pelo clima de tristeza. Era uma história que estava sendo apagada, de uma equipe de futebol que teve de se reinventar depois de um terrível acidente.