O principal desafio dos atletas profissionais de beach tennis é conciliar os treinos e as competições com outras atividades. Como os patrocínios e as premiações ainda são insuficientes para bancar os custos com viagens e treinamento, a grande maioria complementa a renda dando aulas da modalidade para alunos de todos os níveis. Número 7 do Brasil e número 20 do mundo, o santista Allan Oliveira, 27 anos, chega a dar de oito a 10 horas de aula por dia na capital paulista, onde reside.
— Temos que treinar bastante, pois o esporte evoluiu tecnicamente e fisicamente. Às vezes, essa quantidade de aulas destrói a gente, mas é uma questão de necessidade. Damos aula porque precisamos. E ser professor é uma profissão difícil porque lidamos com pessoas. Para aprender a didática, me formei em educação física, pois, além da prática, a ciência também é importante — opina Allan, que estará em Porto Alegre neste fim de semana para a disputa da Sul Especial Cup, etapa do circuito mundial.
A qualidade do ensino do beach tennis é uma das preocupações dos atletas diante do crescimento astronômico da modalidade no Brasil. Segundo a paranaense Marcela Vita, 32 anos, número 3 do Brasil e 9 do mundo, muitas pessoas sem a capacitação adequada aproveitam a febre do esporte para dar aulas, o que pode ser prejudicial para o aprendizado dos alunos iniciantes.
— É um problema que estamos enfrentando. Muita gente, da noite para o dia, acha que já pode dar aula. Acredito que a profissão de professor deve ser mais fiscalizada e profissionalizada — alerta.
Número 1 do Brasil e número 7 do mundo, o catarinense André Baran, 30 anos, sonha em chegar ao topo do ranking mundial. Com 1m93cm de altura e estilo bastante agressivo, o ex-tenista reduziu recentemente a quantidade de aulas para se dedicar aos treinos, mas ainda não consegue viver apenas de patrocínios e premiações.
— Estou neste processo. Estou batalhando para que ano que vem eu esteja 100% vivendo do beach tennis. Os gastos são bem grandes para as viagens, mas esta é a minha próxima etapa. Noto que o Mundial do Rio de Janeiro (realizado em outubro e vencido pelo Brasil) foi um divisor de águas para gente. A competição despertou o interesse das grandes empresas e muitos patrocinadores estão nos procurando querendo investir. O sonho de todos os jogadores é poder viver do esporte e ter uma carreira profissional — relata Baran.
O catarinense encerrou recentemente uma vitoriosa parceria com o carioca Vinícius Font, 35 anos, ex-número 1 do mundo, com quem ganhou dois títulos mundiais pela seleção brasileira, além da primeira edição da Sul Special Cup, em 2020. Neste ano, Baran formará, em Porto Alegre com o espanhol Antomi Ramos, 28 anos, número 4 do mundo, a dupla favorita do torneio.
— O Antomi viu que eu estava sem parceiro, me disse que gostaria de jogar este torneio em Porto Alegre e me convidou para jogar. Ele é muito técnico e habilidoso. Iremos treinar nesta quinta (25), quando ele chegar, e vamos pegando entrosamento ao longo do torneio — explica Baran.
Ex-número 1 do mundo, Antomi Ramos busca pontos para voltar ao topo do ranking e decidiu jogar uma série de torneios neste final de ano no Brasil, país onde o esporte mais se desenvolve no planeta.
— Me impressiona como o beach tennis pegou no Brasil. Na Espanha, o esporte está crescendo aos poucos, especialmente em Barcelona, em Melilla (território espanhol na costa norte da África) e na minha terra, na Gran Canaria (ilha espanhola no nordeste da África), mas não está no nível do Brasil. Hoje, em nenhum lugar do mundo há tanta gente jogando como no Brasil — reconhece o espanhol.