O episódio de agressão contra o árbitro na partida entre Guarani-VA e São Paulo-RG pela Divisão de Acesso do Gauchão é tratado como um exemplo de conduta que se avoluma e deve ser coibida pelas autoridades dentro e fora de campo. Em entrevista à Rádio Gaúcha na madrugada desta terça-feira (5), o delegado Vinícius Lourenço de Assunção, titular da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Venâncio Aires, detalhou o caso após conduzir as primeiras medidas contra o jogador William Ribeiro.
Os dois times se enfrentavam pela 12ª rodada da primeira fase da Série A2 do Gauchão, na noite desta segunda-feira (4), quando atleta agrediu o árbitro Rodrigo Crivellaro Dias. Aos 14 minutos do segundo tempo da partida, o camisa 10 do time de Rio Grande ficou contrariado com um cartão amarelo e acertou um soco no árbitro Rodrigo Crivellaro, que caiu no chão e recebeu um chute do jogador. A chuteira acertou a nuca do juiz, que desmaiou em campo. A cena foi flagrada pelas câmeras da FGF TV.
— Assim que tomei conhecimento do fato, procurei o local e tomei ciência de que o caso era grave, que ele (o árbitro) corria risco e que (a agressão) podia ser fatal. A partir das informações que colhi, com mais dois indivíduos, um árbitro auxiliar e um delegado da partida, todos rumaram para a gravidade da agressão. Um chute na cabeça, além de um soco. Imagina a potência que um atleta desse possui na perna? —afirmou o delegado, em durante o programa Esporte & Cia.
— Cheguei a conclusão que devia ser o caso de ser um crime por um homicídio tentado e a qualificadora por um motivo fútil, que levou o indivíduo a tentar contra a vida de outra. Mesmo que seja uma partida de futebol, nada justifica a agressão, ainda mas contra a autoridade máxima em campo, que é o árbitro — completou.
Crivellaro foi levado para atendimento no Hospital São Sebastião Mártir, de Venâncio Aires, onde aguarda resultado de exames. Ele recobrou a consciência, mas segundo o que os médicos relataram ao delegado, apresenta um discurso ainda confuso. Havia risco de lesões na coluna cervical e na cabeça. Ele ficará em observação pelas próximas 24 horas.
Preso em flagrante, o jogador foi levado à Penitenciária Estadual de Venâncio Aires após prestar depoimento na DPPA e fazer exames de corpo de delito. Segundo o delegado Lourenço, ele optou por ficar em silêncio durante oitiva, sem a presença de advogados. William tem ao menos três antecedentes criminais por lesão corporal, um por ameaça e dois por provocação de tumulto.
O atleta, de 30 anos, foi autuado por tentativa de homicídio doloso qualificado. A pena para o tipo de crime é de 12 a 30 anos, mas por ser tentado, há uma redução de um a dois terços na pena, conforme a proximidade da consumação. A pena final vai depender da evolução do processo. O expediente policial vai ser encaminhado à Defensoria Pública e ao poder judicial nas próximas horas.
O delegado responsável pelo caso acredita que não há elementos que justifiquem prisão preventiva do atleta. Ele ficará preso pelas próximas 24 horas e deve responder em liberdade.
— Apesar do ato ser gravoso e repugnante, não há um risco à soltura dele. Ele não parece causar risco à ordem pública, apesar de termos um clamor social. Me parece que o juiz vai acabar promovendo a soltura do flagrado. Eu autuei em flagrante pela gravidade do fato, mas não me parece que tenha requisitos que tenha uma segregação cautelar.
— É um caso triste que a gente tem que estar tratando, um assunto criminal na seara esportiva, mas é importante que tenhamos essa decisão, que coube a mim, para que coloquemos um basta a esse tipo de agressão. Temos visto esse tipo de agressão se avolumando, precisamos colocar um freio. Os atletas têm que ter noção do seu papel diante da sociedade, e nesse caso não tivemos. Esperamos que esse caso sirva de lição e exemplo a outros atletas, que não desafiem a justiça e pratiquem o esporte dentro das regras.
O Tribunal de Justiça Desportiva (TJDRS) irá averiguar os fatos e tratar das respectivas sanções. A partida foi suspensa, e mais informações sobre a sua continuidade serão divulgadas em breve. O Sport Club São Paulo informou que o contrato com o atleta foi rescindido.
Confira a nota oficial emitida pelo Sport Club São Paulo:
Lamentável. Lamentável e acima de tudo, revoltante.
No exato dia em que toda a família rubro-verde reuniu-se para comemorar mais um aniversário - 113 anos de Sport Club São Paulo -, nosso Clube se deparou com um dos episódios mais tristes de sua história, uma fatídica cena que chocou todas as pessoas que amam não só o futebol gaúcho, mas todas aquelas que simplesmente amam o esporte de modo geral.
Podem ter certeza, lamentamos e nos envergonhamos profundamente de todo o ocorrido, todo nós em absoluto, toda a nossa nação rubro-verde: Direção, torcida, demais jogadores, etc. Pedimos todas as desculpas do mundo ao profissional agredido e sua família, assim como pedimos desculpas ao público, de modo geral, pela cena lamentável vista hoje.
O contrato com o atleta agressor está sumariamente rescindido. Ademais, todas as medidas possíveis e legais em relação ao fato serão tomadas.
Deivid Goulart Pereira
Presidente do Sport Club São Paulo