Entre a casa no bairro de Tatuapé e o CT do Parque São Jorge, em São Paulo, Andressinha leva menos de 20 minutos de carro, mesmo com tráfego pesado. O trânsito na capital do tricampeão brasileiro feminino Corinthians toma o tempo de descanso da meia da Seleção Brasileira, mas não se compara às viagens de quase 600 quilômetros que ela enfrentava semanalmente para ir da cidade natal Roque Gonzales, na fronteira noroeste do Rio Grande do Sul, até Pelotas, onde disputou o Gauchão de 2009 ainda com 13 anos de idade.
— No Pelotas não tinha treino toda semana, ia só no final de semana para o Gauchão. Durante a semana jogava com os meninos na escola, em Roque. Antes, desde os seis anos, meu pai tinha um carrinho de cachorro-quente e eu acompanhava ele todos os dias, para ir jogar na praça onde ele vendia — relembra Andressinha, meia do Corinthians e da Seleção.
Aos 13 anos, ela ficou sabendo de uma peneira sub-17 com olheiros da seleção brasileira em Nova Esperança do Sul, a duas horas de Roque. Andressa e o pai decidiram tentar a sorte entre as meninas maiores e mais velhas. Mesmo com quatro anos a menos, o futebol da guria se destacou. Ela foi a única selecionada daquela cidade e acabou convocada para a seleção, mesmo sem ter contrato com nenhum time.
— Não sabiam que eu não tinha time. Me convocaram para a seleção e depois me convidaram para jogar no Pelotas — explica Andressa.
— Ela (Andressa) apresentava fundamentos técnicos elevados para alguém daquela idade. Observei meninas em Porto Alegre e de outras três cidades do interior, e ela foi a melhor jogadora que encontrei naqueles meses. Daquelas observações ainda surgiram a Shashá, que está no Inter, passou por Pelotas e Grêmio, a Jucinara Paz, que está na Espanha hoje, e outras que também já passaram por seleções — conta Marcos Planela, então auxiliar técnico da Seleção sub-17 e coordenador do Pelotas, que levou a meia para jogar na zona sul do Estado.
Do Gauchão de 2009 com o Pelotas, Andressinha foi para o Kindermann, em Caçador, região central de Santa Catarina, treinada pelo técnico Edvaldo Erlacher, que também comandava a seleção sub-17. Mais uma vez, em um time 600 quilômetros distante da terra natal da jogadora, no novo clube as viagens reduziram, pois Andressa tinha acomodação e escola incluídos no projeto da base.
No Kindermann ela fez cinco anos de categoria de base, sempre sendo convocada para as seleções. Em 2015 o projeto da Seleção Permanente manteve as atletas treinando antes de atuarem por clubes na reta final de times no Brasileirão Feminino. Andressa foi emprestada para o Tiradentes, do Piauí, de onde diz ter ótimas lembranças de carinho e crescimento nos três meses que passou por lá. Na temporada seguinte, a primeira experiência internacional, pelo Houston Dash, nos Estados Unidos.
— A gente fica com um pouco de receio, fui para ter um primeiro contato com essa outra realidade. Tive ajuda das brasileiras que já estavam lá. Depois que se entende a diferença no jogo e o inglês dentro de campo, a adaptação ficou mais tranquila também. Foi uma experiência muito boa, pude jogar com atletas da seleção americana, que são referência mundial — comenta a jogadora.
De volta para a elite nacional
Seu retorno ao futebol brasileiro foi para o Corinthians, em 2020. No multicampeão, ela encontrou a maior estrutura da modalidade no país, ainda que entenda que falta engajamento das torcidas e investimento para os outros clubes brasileiros quando comparamos aos times norte-americanos. Ela também percebe uma diferença entre o comportamento do público paulista para o gaúcho em relação ao futebol feminino:
— Grêmio e Inter estão crescendo, com projetos mais recentes, então as pessoas ainda não tem a mesma animação que a gente vê com o Corinthians, ou já teve no Amazonas com o Iranduba, por exemplo — ressalta, ansiosa por ver os torcedores na arquibancada da Arena Corinthians, sem esconder a pressão que sofre da família e de amigos gaúchos para jogar no Rio Grande do Sul:
— O pessoal pede, eu entendo. As meninas certamente vão chegar na briga por títulos em breve, mas, por enquanto, meu lugar ainda é no Corinthians.