O Gre-Nal deste sábado (10) colocará em lados opostos dois amigos, velhos companheiros de trabalho. Juntos, Luiz Felipe Scolari e Paulo Paixão conquistaram o mundo. Literalmente. Sob o comando técnico de Felipão e físico de Paixão, a Seleção Brasileira foi pentacampeã mundial em 2002, na Copa do Japão e da Coreia do Sul. Do outro lado do planeta, fortaleceram uma relação que já vinha desde os tempos de Grêmio, na década anterior. E que, neste fim de semana, terá um de cada lado, vestindo cores diferentes.
A parceria de sucesso começou com os inúmeros títulos no Grêmio alguns anos antes, mas foi coroada com a Copa do Mundo de 2002. Porém, logo após a conquista, a trajetória de dois dos personagens mais vitoriosos do futebol brasileiro tomou rumos diferentes. Felipão deixou o Brasil e foi alçar voos na Europa, assumindo o comando da seleção portuguesa em 2003. Paixão seguiu na equipe com Carlos Alberto Parreira e, depois, ao lado de Dunga. A relação deles, porém, seguiu intacta.
— Somos amigos, a relação continua. Trocamos mensagens volta e meia, mas o Felipe é um cara muito ocupado — brinca Paulo Paixão, que garante não ter conversado com o ex-companheiro de comissão técnica neste retorno a Porto Alegre.
Qualquer pessoa que tenha vivido o ambiente da Seleção de 2002 atesta essa relação de amizade. E não apenas entre eles, mas com toda a delegação que esteve nos países asiáticos para a disputa daquele Mundial.
— Eles são amigos. Aquele nosso convívio na Copa, e eles mais ainda porque já tinham uma relação, era de amizade. O grupo todo permaneceu muito amigo, continuamos nos falando na medida do possível. Certamente nesse reencontro eles vão conversar, se abraçar. Vai ser muito cordial, mesmo que estejam em lados opostos agora — relata Antônio Lopes, que era coordenador técnico da Seleção Brasileira na Copa de 2002.
A sintonia da dupla era notória também fora de campo. Campeões da América e do Brasil pelo Grêmio em 1995 e 1996, eram parceiros até nos momentos de folga. E tinham funções complementares não apenas como técnico e preparador físico, mas na parte emocional dos jogadores.
— O Felipão e o Paixão já traziam essa relação do Grêmio. Conheciam a maneira de trabalhar um do outro e mostravam essa amizade. O Paixão nunca foi só preparador físico, ele era líder, o cara da motivação também. Era comum ver os dois caminhando juntos em Ulsan, na Coreia do Sul, durante a Copa. Saíam cedo pra fazer exercício, tomavam mate juntos, às vezes até nos chamavam — conta David Coimbra, que cobriu a Copa de 2002 in loco pela Zero Hora.
O fim da parceria não se deu por desavença. Felipão quis alçar outros voos e foi para a seleção portuguesa, em que permaneceu por seis anos, levando a equipe do ainda menino Cristiano Ronaldo à primeira final de Eurocopa na história do país, em 2004, e ao quarto lugar na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha.
Em 2008, saiu para treinar o Chelsea, da Inglaterra. Não ficou muito tempo e seguiu para o Bunyodkor, do Uzbequistão. Nesta época, seu preparador físico era Darlan Schneider. O retorno ao Brasil ocorreu apenas em 2010, para o Palmeiras.
Enquanto isso, Paulo Paixão foi novamente campeão do mundo. Desta vez, de clubes. E com o Inter. Ele foi parceiro de Abel Braga nas conquistas da América e do Mundo pelo Colorado. Deixou o clube para uma experiência de três anos no CSKA, da Rússia. Voltou ao Brasil, justamente, para o rival Grêmio, onde trabalhou entre 2010 e 2012.
O caminho dos dois se cruzou novamente no fim de 2012. Felipão aceitou o convite da CBF para retornar à Seleção Brasileira. Ao lado do auxiliar Flávio Murtosa e do coordenador Carlos Alberto Parreira, decidiram que Paulo Paixão era o nome certo para acompanhá-los na área da preparação física.
— O Paixão é um dos grandes preparadores físicos que o Brasil tem. Ele é unanimidade. Espero que aceite trabalhar com a gente — disse Felipão em entrevista coletiva à época.
Dias depois, ao portal UOL, Paulo Paixão revelou que já havia conversado com o treinador e que seria uma honra representar novamente os preparadores físicos do país.
— Qualquer profissional que assume um cargo na Seleção Brasileira tem que entender que a responsabilidade é muito grande, pois terá que representar centenas e os melhores profissionais de educação física que existem no Brasil. Nunca vou me cansar de dizer que temos os melhores do mundo. Poder estar na Seleção e representa-los é uma responsabilidade muito grande, mas que nos dá prazer. Porque já estivemos lá, sabemos com as coisas funcionam e somente vamos reiniciar um trabalho junto à nova comissão técnica. Esperamos ter êxito ao final do projeto — disse Paixão em 29 de novembro de 2012.
A parceria rendeu à Seleção o título da Copa das Confederações de 2013, mas também o inesquecível 7 a 1 para a Alemanha na Copa de 2014, no Brasil. Novamente, o caminho dos dois seguiu outro rumo após o Mundial. Felipão retornou ao Grêmio, depois foi para o futebol chinês, no Guangzhou Evergrande, e ainda comandou Palmeiras e Cruzeiro. Paixão passou por Coritiba, Vasco, Sport, Atlético-MG e Bahia.
Agora, os dois serão rivais. Recém-chegados de volta à Dupla, terão um clássico como reencontro. Felipão se apresentou ao grupo de jogadores do Grêmio nesta sexta-feira. Paixão chegou ao Inter junto com Diego Aguirre, há três semanas, para o cargo de coordenador de preparação física.
Um de azul, outro de vermelho, desejarão sucesso ao amigo na caminhada. Mas só após o Gre-Nal, claro.