Jorge Ivo Amaral, 63 anos, pediu licença do cargo de auditor do Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O goleiro do Grêmio nos anos 1970 e 1980 foi alvo, nesta quarta-feira (30), de uma operação do Ministério Público Estadual (MP-RS) que apura o desvio de R$ 10 milhões das contas do Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul (Siapergs), entidade na qual o ex-jogador exercia o cargo de vice-presidente.
Segundo informou a GZH a assessoria de imprensa do STJD, Ivo Amaral havia solicitado o afastamento do Pleno no último dia 8. Na sessão desta quarta, o gaúcho já foi substituído pelo advogado Anderson Vieira de Freitas.
No dia 4 de agosto, Ivo Amaral foi afastado do cargo de vice-presidente do Sindicato dos Atletas do Rio Grande do Sul pela suspeita do desvio de R$ 10 milhões do caixa da entidade para contas pessoais. O MP gaúcho investiga os fatos e cumpriu na manhã desta quarta vários mandados de busca e apreensão. Conforme apurado por GZH, Ivo Amaral foi um dos alvos.
São investigados os crimes de lavagem de dinheiro, já que os valores supostamente desviados passavam por operações de dissimulação da origem, apropriação indébita qualificada e associação criminosa.
A suspeita do MP é de que dirigentes das entidades futebolísticas teriam usado para proveito pessoal parte dos recursos recebidos pelo direito de arena. Esse mecanismo é usado para definir um percentual das verbas de transmissão dos jogos que os clubes repassam aos sindicatos, os quais teriam o dever de transferir aos atletas de futebol, destinatários finais dos valores.
Procurado por GZH, Ivo Amaral não atendeu aos telefonemas e não respondeu às mensagens.
Entenda o caso
O Ministério Público estadual (MP-RS) investiga o desvio de mais de R$ 10 milhões do Sindicato dos Atletas do Rio Grande do Sul (Siapergs). Por conta das suspeitas de irregularidades, a direção da entidade determinou o afastamento do vice-presidente Ivo Amaral, goleiro do Grêmio nos anos 1970 e 1980.
A reportagem de GZH teve acesso à ata da reunião extraordinária da cúpula do Sindicato dos Atletas no dia 4 de agosto. Conforme o documento, foram encontrados depósitos realizados por Ivo Amaral do caixa da entidade para outras contas sem que as transferências bancárias fossem registradas pela contabilidade. Por essa razão, a direção determinou o afastamento do dirigente.
Amaral faz parte do sindicato da categoria desde os anos 1990. Já foi presidente do sindicato nacional dos atletas, a Fenapaf, e também desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Aos 63 anos, é também auditor do Pleno do STJD, a mais alta corte da Justiça desportiva brasileira. Em contato com GZH no dia 3 de setembro, o ex-dirigente afirmou que vai esclarecer os fatos para o MP.
— É uma situação política interna que nós estamos resolvendo, aguardando o que acontecer. Sou vice-presidente, não tenho participado muito. Estou aguardando me pronunciar junto ao MP para esclarecer tudo. Já tenho advogado constituído. Vamos aguardar. É uma situação política e até certo ponto financeira. Espero que seja esclarecido — disse Amaral na ocasião.
No dia seguinte à reunião que definiu o afastamento do vice-presidente, o então presidente do Sindicato dos Atletas, Paulo Mocellin, entregou uma carta à entidade pedindo licença do cargo por conta da sua relação familiar com o dirigente afastado. Mocellin é irmão da esposa de Amaral. No documento, o mandatário classificou o pedido de licença como "fundamental para evitar qualquer conflito, acusação ou comentário, conferindo a maior transparência e lisura possíveis à colaboração em curso com o Ministério Público".
Procurado por GZH, Paulo Mocelin confirmou que se licenciou da presidência do sindicato por conta do seu parentesco com Ivo Amaral e declarou que prefere aguardar a investigação do Ministério Público para se manifestar publicamente.
Após a licença de Mocellin e o afastamento de Amaral, assumiu a presidência do sindicato o ex-meia Gabriel Schacht, 39 anos, que ocupava anteriormente o cargo de secretário-geral. Com passagens por Caxias, Brasil-Pel e diversos outros clubes do interior gaúcho, do Brasil e do Exterior, o novo presidente promete colaborar com o MP na investigação.
— As situações estão sendo esclarecidas e apuradas. Tomamos a atitude que deveria ter sido tomada quando detectamos essa situação. Continuamos apurando em conjunto com o Ministério Público — assegura Schacht.
A nova direção do sindicato informa ainda que foi a própria entidade que acionou o MP ao suspeitar dos desvios.
— Assim que descobriu as irregularidades, o sindicato tomou a iniciativa de procurar as autoridades e encaminhou os seus levantamentos para o Ministério Público. Neste momento, a entidade aguarda os desdobramentos da apuração do MP — declara o advogado contratado pelo Sindicato dos Atletas, Rodrigo Oliveira.
Procurada por GZH, a assessoria de imprensa do MP informou que o órgão não se manifestará sobre o assunto.