A adolescência pobre em Bondy, na periferia de Paris, não impediu Mbappé de sonhar. Antes de dormir, colocava a cabeça no travesseiro e olhava para as dezenas de pôsteres de Cristiano Ronaldo espalhados pelas paredes do seu quarto. Mas nem nos melhores sonhos o francês poderia prever que, aos 21 anos e oito meses, teria a chance de se tornar o jogador mais jovem da história a conquistar a Copa do Mundo, vencida em 2018, e a Liga dos Campeões. Atualmente o recorde pertence a Sergio Busquets, que conseguiu os feitos com 21 anos e 11 meses.
Alcançar façanhas ainda na juventude foi praticamente uma rotina para Kylian Mbappé, filho de Wilfried, ex-jogador de futebol de nível regional, e Fayza, ex-jogadora de handebol que atuou na Primeira Divisão da França. Até 2013, Mbappé jogava no AS Bondy, equipe em que seu pai era técnico. Perto do aniversário de 14 anos do filho, Wilfried recebeu uma ligação do Real Madrid, convidando Mbappé para sessões de treinamento no clube merengue.
— Na semana do meu aniversário, meu pai revelou a surpresa que iríamos para Madrid. Fiquei chocado, porque ele disse: “Zizou (Zidane) quer ver você”. Na Espanha, no estacionamento do CT,
Zidane perguntou se eu gostaria de uma carona. Era um carro bonito. Fiquei tão nervoso que perguntei se teria de tirar os tênis para entrar no carro — relembra Mbappé ao portal The Players Tribune.
Apesar da viagem para Madrid, Wilfried preferiu manter Mbappé perto da família na França. Em seguida, o prodígio entrou para as categorias de base do Monaco, enquanto tinha suas habilidades desenvolvidas no CT de Clairefontaine, a casa da Federação Francesa de Futebol.
— Em Clairefontaine, fui educado. Independentemente de perdermos ou não, tínhamos que respeitar o futebol. Eles colocaram isso em minhas veias — disse Thierry Henry, que também iniciou sua carreira no Monaco, sobre o CT da seleção francesa.
A partir de então, Mbappé passou a quebrar recordes. O primeiro foi o de jogador mais novo a estrear no Monaco, em dezembro de 2015, com 16 anos. Aos 18, levou o time do Principado à semifinal da Liga dos Campeões. Antes de completar 20, tornou-se o jogador mais jovem a balançar as redes em uma final de Copa do Mundo desde Pelé, em 1958.
— Eu e meus amigos não esperávamos nos tornar jogadores. Nós não planejávamos. Nós apenas sonhávamos. Essa é a diferença. Algumas crianças têm pôsteres de super-heróis no seu quarto. Nós tínhamos de jogadores. Tinha vários de Zidane e de Cristiano Ronaldo e até do Neymar, o que é engraçado — completou Mbappé ao Players Tribune, a um jogo de mais um recorde.