A bola voltou a rolar: a Bundesliga alemã se tornou neste sábado (16) a primeira grande liga europeia a retomar suas atividades, com cinco jogos em andamento, uma situação observada pelo mundo, mas com um silêncio perturbador nos estádios devido às arquibancadas vazias.
Sem cerimônia nem música, as equipes entraram em campo separadas. Não houve saudações entre jogadores, nem crianças por perto. Também não houve um aumento de adrenalina a cada ação de perigo. Em Leipzig, que recebe o Freiburg, alguns jogadores optaram por manter as máscaras de proteção até durante o aquecimento.
Estas mesmas cenas puderam ser vistas mais cedo, com quatro jogos da segunda divisão que começaram às 11h locais (7h, horário de Brasília) e respeitaram o mesmo rigoroso protocolo sanitário.
Em Dortmund, o ambiente da cidade não parece o de um dia de clássico, constatou um jornalista da AFP.
Várias viaturas da polícia estavam posicionadas, principalmente nos arredores das estações de trem, para evitar a aglomeração de torcedores dos dois clubes. A polícia fez um apelo público para que os torcedores permanecessem em casa durante o jogo.
— Mais vale jogos com portões fechados para frear a propagação da epidemia do que uma catástrofe sanitária — admitiu Nicole Bartelt, de 44 anos e torcedora do Borussia Dortmund, que verá o jogo de sua equipe na casa de amigos, respeitando as medidas de distanciamento exigidas pelas autoridades.
Exemplo para outros campeonatos
Pioneira na Europa entre as grandes ligas, a Bundesliga terá a responsabilidade de mostrar o caminho: o êxito ou fracasso de sua tentativa de retomar e terminar a competição pode ser determinante para os planos de outros países.
Se conseguir concluir as nove rodadas que faltam para encerrar a temporada, a Alemanha terá mostrado ao mundo que o esporte profissional de primeira linha pode sobreviver à covid-19, mas uma nova interrupção antes do fim transmitiria uma mensagem muito negativa.
Os jogadores e membros das comissões técnicas são submetidos a testes regularmente e tiverem que ficar concentrados e confinados por uma semana.
Dois técnicos de clubes da primeira divisão alemã não poderão estar à beira do campo neste fim de semana por terem violado as regras de confinamento: Heiko Herrlich (Augsburg), que saiu do hotel para comprar pasta de dente e um creme dermatológico, e Urs Fischer (Union Berlim), que optou por abandonar a concentração devido ao falecimento de um parente.
"O mundo inteiro está de olho"
"O mundo inteiro está de olho na gente", constatou na sexta-feira (15) o técnico do Bayern de Munique, Hansi Flick. "Pode ser um sinal para todas as outras ligas e pode permitir ao esporte voltar no mundo todo", continuou.
Especialmente atentos ao que acontece na Bundesliga estão Espanha, Inglaterra e Itália, as três principais ligas europeias que desejam reiniciar seus campeonatos, embora ainda busquem a autorização de seus respectivos governos. Outros, como França, Holanda e Bélgica, suspenderam definitivamente suas atividades.
A volta do futebol "é um bom sinal", destacou neste sábado o presidente da Uefa, Aleksander Ceferin. "Não é só futebol. As pessoas estão deprimidas pelo confinamento e pela incerteza. O futebol traz uma certa normalidade e energia positiva. É mais fácil ficar em casa quando se pode assistir esporte" na televisão, declarou o dirigente à emissora BeIn Sport.
Na Alemanha, porém, a opinião pública não é favorável à retomada do campeonato: 56% das pessoas questionadas por uma pesquisa se disseram contra a iniciativa.
— Temos uma responsabilidade gigantesca — reconheceu na sexta-feira o presidente do Borussia Dortmund, Hans-Joachim Watzke.
Sua equipe é a atual segunda colocada na tabela da Bundesliga e tentará evitar que o Bayern de Munique conquiste o título alemão pelo oitavo ano consecutivo.
Mas o principal objetivo para os dirigentes do futebol alemão é concluir o campeonato em 27 de junho, embora uma prolongação até julho não seja descartada caso o coronavírus voltar a alterar os planos.