Sem bola rolando, a falta de receitas impacta jogadores, clubes, federações e todos os que lidam com o futebol. Há o temor de que o cenário pós-pandemia seja ainda mais nebuloso. Mas nada disso abala o otimismo do copresidente e CEO da agência Africa, Márcio Santoro, entrevistado desta sexta-feira (15) da série Futebol do Futuro.
A África trabalha com grandes anunciantes do esporte brasileiro, como Ambev, Itaú e Vivo, entre outras. Santoro vê no retorno do futebol, mesmo com portões fechados, uma grande oportunidade de negócio.
O futuro do futebol depende da manutenção da receita financeira. Como está o mercado publicitário nessa crise do coronavírus?
Tudo o que falamos pode mudar em dois ou três dias. Temos uma mudança de cenário praticamente diária. É difícil projetar o que vai acontecer em qualquer atividade, seja na publicidade, no futebol ou na atividade industrial. O que dá para fazer é olhar um pouco para países que estão um mês na nossa frente e tentar entender o que está acontecendo lá para fazer algum tipo de projeção aqui. O Campeonato Alemão está voltando. Aqui no Brasil, quando esta curva começar a cair (casos de covid-19), não sabemos quando, mas em algum momento vai acontecer, teremos esta possibilidade. É uma luz de que o futebol voltará. Acho que no Brasil ainda neste ano. O que provavelmente vai acontecer é que teremos um “stop and go”. De tudo que eu vejo, não percebo um momento de final de processo do coronavírus. Existem ondas. Quando vier uma segunda onda, será preciso parar de novo. Até o processo se estabilizar.
Os principais patrocinadores do futebol brasileiro poderão fazer cortes nos anúncios em publicidade?
Acho que não. Ainda é muito cedo, estamos em maio. É cedo para tentar dizer este tipo de coisa. Por enquanto, não. Está todo mundo em compasso de espera, para entender o que vai acontecer.
Eles não passaram nenhuma informação?
Veja bem, o que está acontecendo é que a TV aberta, e até a TV a cabo e toda a mídia no geral, incluindo sites, estão com uma audiência que talvez nunca tiveram na história. Por exemplo, a audiência da TV aberta brasileira é a maior dos últimos dez anos. Tem muito espaço para eventualmente compensar, se for preciso. Isso se tiver uma falta de entrega de um determinado produto ligado ao futebol. Pode acontecer para mitigar um pouco este sentimento. Mas, por enquanto, não existe qualquer discussão em termos de renegociação de contrato. Isto pode acontecer em um momento em que tivermos uma visão mais clara do que vai ocorrer. Para você negociar alguma coisa, tem que entender qual será a entrega no futuro. E não sabemos qual é a entrega no futuro.
Empresas como Ambev, Itaú e Vivo patrocinam o futebol da Globo, que é responsável pela principal fonte de receita dos clubes, que é a cota de TV. Os contratos destas empresas vão até quando?
É contrato anual. São pacotes anuais. Então os contratos que estão em vigência vão até o final do ano.
Para 2021, a tendência é de queda nos valores pagos por estes patrocinadores?
Depende de muitas coisas. A tendência é que não. Se tiver partidas, mesmo com estádios vazios, as audiências serão altíssimas. Estamos vendo reprises de partidas históricas. E com audiência incrível. Você imagina a audiência que vai dar um clássico Gre-Nal. O estádio pode estar vazio, mas imagina como vai ser. Um Flamengo x Corinthians, mesmo que seja no Maracanã fechado. Vai estar todo mundo em casa de olho na televisão e feliz por ver uma partida de futebol depois de muito tempo. Imagina a audiência que vai ter. Estamos tendo audiências altas com as reprises. Uma partida para valer do Campeonato Brasileiro será fantástico. Teremos uma compensação pelo tempo parado.
Estamos vendo reprises de partidas históricas. E com audiência incrível. Você imagina a audiência que vai dar um clássico Gre-Nal. O estádio pode estar vazio, mas imagina como vai ser. Um Flamengo x Corinthians, mesmo que seja no Maracanã fechado. Vai estar todo mundo em casa de olho na televisão e feliz por ver uma partida de futebol depois de muito tempo
MÁRCIO SANTORO
CEO da agência África
Mas o jogo com portões fechados será realmente um produto atraente?
Eu acho que vai ser um produto sensacional em meio à pandemia que estamos vivendo. A própria NBA, nos Estados Unidos, vai voltar a jogar com ginásios fechados, e estão prevendo uma audiência altíssima na transmissão televisiva. Não é o ideal. O ideal é uma partida com estádio cheio. Mas você pode imaginar como será de novo ter uma partida com transmissão ao vivo. Independente de estar com portões fechados ou abertos, teremos audiências recordes. Eu não tenho dúvida disso.
Clubes correm risco de perder a parceria com seus patrocinadores principais?
Acho que os patrocínios serão mantidos. Isto porque os jogos dos Estaduais vão voltar, seja daqui a algumas semanas ou meses. E como eu já valei: apesar de os estádios estarem fechados para os torcedores, a partidas terão audiências incríveis pela televisão. O que vale muito para a visibilidade das marcas.
Diante da dificuldade de se reestabelecer campeonatos como a Libertadores, a publicidade tende a procurar e investir mais em Estaduais ou torneios regionais?
A volta dos Estaduais tende a ser em grande estilo, com belas audiências. Sem dúvida, as federações terão oportunidades de fazer bons negócios a partir da retomada do futebol, ainda que, num primeiro momento, sem público nas arquibancadas.
Isso poderia ajudar a compensar prejuízos que os pequenos clubes estão tendo? Ou grandes marcas só têm interesse em se vincular a grandes clubes?
O mercado publicitário de marcas nacionais está preocupado com clubes que tenham visibilidade e apelo em todo o país. Mas existem marcas locais, de determinadas regiões e cidades, que podem, sim, ver em clubes menores uma belíssima plataforma para agregar valor por meio de patrocínios.
A volta dos Estaduais tende a ser em grande estilo, com belas audiências. Sem dúvida, as federações terão oportunidades de fazer bons negócios a partir da retomada do futebol, ainda que, num primeiro momento, sem público nas arquibancadas
MÁRCIO SANTORO
CEO da agência África
Estamos vendo que algumas empresas já estão fazendo anúncios com mensagens sobre o que vivemos com o coronavírus. Quando chegar a hora da retomada, com a transmissão da primeira partida de futebol, será preciso um anúncio específico para o momento?
Não tenho a menor dúvida. Será o momento em que os patrocinadores irão se mobilizar e vão festejar o momento. A volta do futebol será um grande momento para a TV brasileira.
O futebol poderia ter aproveitado a onda das lives, que estão acontecendo principalmente com os músicos?
Acho difícil. Você tocou em um assunto legal. O que é uma live? É um cantor performando sem público nenhum na frente de uma câmera. É como se estivesse fazendo um show com portões fechados. E é um sucesso absoluto. O jogo sem público é uma live de futebol. É o mesmo princípio. Então o Inter e o Grêmio vão fazer uma live quando jogarem. Eu não tenho a menor dúvida que será um sucesso, como as lives são. Inclusive nós começamos as lives com público sertanejo, com os patrocinadores.
As pessoas estão carentes de ver conteúdo ao vivo. As pessoas querem ter algum tipo de estímulo que seja mais emocional. Essas lives do futebol, que serão os times jogando com portões fechados, têm tudo para ser um tremendo acontecimento
MÁRCIO SANTORO
CEO da agência África
Estamos vendo muita gente preocupada com o futuro do futebol. Mas você está otimista com a retomada, quando acontecer?
Estou muito otimista. Porque existe uma carência muito grande de conteúdos ao vivo. Se você parar para ver o que tem ao vivo, é o jornalismo, que está difícil de assistir porque as notícias estão muito duras. As pessoas estão carentes de ver conteúdo ao vivo. As pessoas querem ter algum tipo de estímulo que seja mais emocional. Essas lives do futebol, que serão os times jogando com portões fechados, têm tudo para ser um tremendo acontecimento.
Mesmo que o nível dos times e dos jogos não seja o ideal no momento do retorno?
Será um estímulo bom. O noticiário está muito duro. Por isso as pessoas estão correndo para as lives de música. As pessoas estão querendo ver. O futebol com portões fechados será um sucesso de audiência.