Todos haviam entendido que os treinos da dupla Gre-Nal precisariam ser suspensos com o novo decreto do estadual, que indica Porto Alegre como zona laranja na estratégia de combate ao novo coronavírus. A compreensão havia sido reforçada em entrevista coletiva do governador Eduardo Leite especificamente sobre o tema, ainda no sábado. Tanto que, na noite de domingo, os dois clubes anunciaram o cancelamento das atividades que estavam programadas para a manhã de segunda-feira.
Pois todos haviam entendido errado. O texto, publicado na madrugada de segunda, deixou aberta a porta para que nada mudasse no novo dia a dia de Grêmio e Inter. Na sequência, a participação de Leite no Jornal do Almoço, da RBS TV, esclarecia de uma vez por todas: da forma como vinham ocorrendo, os treinamentos para os atletas profissionais poderiam continuar.
A chave para manutenção dos trabalhos é a palavra "individuais". O texto do decreto afirma que clubes esportivos podem ocupar até 25% de sua capacidade para receber profissionais, em atendimento individualizado. Ou seja, nada diferente do que vinha sendo feito. No caso da Dupla, os atletas vão continuar sendo divididos em grupos e fazer atividades separados uns dos outros. E assim é com praticamente todos os times do Gauchão (ainda que só Grêmio e Inter tenham retomado os trabalhos em seus respectivos centros de treinamento). Apenas o São Luiz poderia fazer treinos coletivos, já que Ijuí é uma das cidades que foram classificadas como zona amarela, o que significa menos riscos.
— Temos um regramento e um protocolo específico para clubes esportivos. Alguns treinamentos nesse contexto são possíveis, outros não vão ser. Depende muito de quais treinamentos pretendem fazer. O que foi liberado é 25% (da capacidade de lotação para clubes esportivos). Se são treinamentos que permitem distanciamento de dois metros, isso poderia ser enquadrado — declarou o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa.
Para muitas pessoas envolvidas em todo esse processo, o que motivou a confusão no final de semana foi que o governador talvez não tivesse pleno conhecimento de como estavam sendo os treinos nos CTs Luiz Carvalho e Parque Gigante. Por ser um protocolo bastante específico em meio ao cenário de combate à covid-19 no Estado, o futebol não ficou exatamente entre as prioridades.
Assim, após reuniões entre departamentos de futebol e jurídico, Inter e Grêmio concluíram que era, sim, autorizada a volta aos treinos. Bastava, para isso, manter o sistema executado até então.
— O decreto, de fato, não toca nisso (proibição de treinos). Depende da bandeira. Se fosse a vermelha, não poderíamos. Me parece bem claro ali que os treinos estão liberados. Com restrições, mas liberados. Entendo que, em relação ao protocolo que já vínhamos seguindo, não vejo problemas — destacou o vice-presidente jurídico do Inter, Gustavo Juchem.
No Grêmio, a compreensão foi idêntica, segundo o gerente-executivo, Klauss Câmara:
— Nosso protocolo possui uma rigidez muito grande e contempla certamente as medidas preventivas necessárias. Então, penso que seguindo como estamos fazendo normalmente não teremos problemas.
Os treinos prosseguirão nos próximos dias e, até que haja uma mudança de cor na bandeira de Porto Alegre, não serão alterados. Os jogadores continuarão com atividades individuais, mas dentro de seus respectivos centros de treinamento. O governo do Estado planeja atualizar a situação e apresentar novo decreto até o final da semana, mas isso pode mudar de acordo com a necessidade.
Entenda o decreto
O que está autorizado para atletas profissionais em Porto Alegre?
Esportistas profissionais podem fazer treinos individuais com um acompanhante (treinador, personal trainer). Clubes estão autorizados a ocupar 25% de sua capacidade, desde que mantenham distância entre os atletas.
O que mudaria se a bandeira de Porto Alegre fosse amarela ou vermelha?
Se a bandeira fosse amarela, atividades com mais proximidade seriam permitidos (treinos táticos, por exemplo). Ainda não há clareza sobre treinos coletivos, até porque não foi necessário. Se a bandeira fosse vermelha, até mesmo as tarefas individuais estariam suspensas.
Até quando vale essa restrição?
O governo do Estado tem atualizado a situação a cada domingo. O cenário pode ser alterado antes conforme a necessidade.
No Interior, treinos só quando houver previsão de retorno do Gauchão
Os clubes do Interior não irão fazer treinos em suas sedes até que haja uma previsão de volta do Gauchão. Alguns, como Pelotas e Aimoré, que dispensaram jogadores, precisarão refazer contratos ou até buscar novos reforços e por isso continuarão, no máximo, orientando atividades a distância para os jogadores manterem a forma. No atual decreto, apenas o São Luiz, em Ijuí, poderia fazer treinamentos coletivos, mas não o fará sem a perspectiva do retorno do campeonato.
O São Luiz entende que o decreto pode mudar em menos de uma semana, já que há um crescimento de casos na cidade — e, por consequência, de lotação das UTIs. Por isso, a reconvocação dos atletas poderia resultar apenas no desgaste de levar para Ijuí quem está fora do município.
Hoje, uma reunião da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) deverá atualizar os panoramas do esporte no Estado. Existe uma expectativa de que algum dado concreto possa ser definido, como uma previsão de data ou algum esboço do calendário. O cancelamento do Gauchão ainda não entrou na pauta.