SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Melhor atleta brasileira de nado artístico, Maria Clara Lobo sofreu um baque durante o Mundial de Esportes Aquáticos do ano passado. Em meio ao torneio, recebeu a comunicação de que havia testado positivo para uma substância proibida. Suspensa por doping, perderia a oportunidade de disputar em Tóquio sua segunda Olimpíada.
No início do mês veio a notícia que ela tanto esperava. O TJD-AD (Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem) negou o recurso apresentado pela procuradoria da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) e confirmou uma suspensão de um ano, que acaba em 19 de junho. O advogado Marcelo Franklin comprovou que Maria Clara ingeriu a furosemida, um diurético, em um chá fitoterápico.
"Eu achava que sabia as coisas sobre doping porque tenho muita rinite e o que mais prestava atenção era nos remédios de alergia, nem usar suplemento eu usava. Vi que não sabia era nada", conta Maria Clara, que poderia a voltar a treinar já na semana que vem, se os centros de treinamento não estivessem fechados devido à Covid-19.
A pandemia, aliás, gerou nela um sentimento dúbio. É que o adiamento da Olimpíada, aliado à suspensão de um ano, permite a ela voltar a sonhar com os Jogos de Tóquio, que agora só serão disputados em 2021. "Me sinto egoísta de pensar que o que foi bom para o meu individual foi devido a uma pandemia mundial, que é muito triste e preocupante. Mas fico feliz de ter a chance de competir os Jogos", admite.
O doping também fez ela rever posturas, assim como o sul-africano Roland Schoeman. Maior crítico do julgamento que inocentou Cesar Cielo da acusação de doping em 2011, o campeão olímpico de 2004 recentemente teve um caso positivo e travou batalha nos tribunais para comprovar sua inocência. Gastou US$ 16 mil em sua defesa, recebeu 12 meses de suspensão depois de demonstrar não ter tido culpa pela ingestão, e pediu desculpas a Cielo.
Maria Clara diz que gastou "todo o dinheiro que tinha e que não tinha" para comprovar que não teve culpa. "Também aprendi muito com isso, porque já cheguei a julgar outras histórias sem saber como era tudo isso. Queria tanto limpar meu nome quanto ficar livre pros Jogos e seguir minha vida mesmo. Porque é muito pesado não ter todo o caso esclarecido. Durante um tempão parecia que eu não conseguiria seguir a minha vida até fora do nado, porque parece que uma pendência a se resolver", conta.
O resultado analítico adverso fez ela ser retirada no meio do Mundial e a ficar fora dos Jogos Pan-Americanos. Mas ela conseguiu liberação para participar, no fim do ano passado, da seletiva que formou a seleção brasileira que disputaria o Pré-Olímpico. Mesmo sem treinar, em meio à suspensão, recebeu a segunda maior nota, o que dá a ela o direito de integrar o conjunto. Em tese, Maria Clara também deverá retomar o dueto com Luisa Borges, dona da melhor avaliação, refazendo a dupla que disputaria o Mundial e ao Pan.
"Vejo como uma oportunidade de reconquistar uma vaga que era minha e que uma fatalidade tirou de mim", diz ela, ponderando que a decisão pela composição do dueto é da comissão técnica. Entre janeiro e fevereiro, Laura Micucci e Luisa Borges chegaram a passar duas semanas no Canadá treinando para o Pré-Olímpico, que seria no final de abril e acabou adiado.