Nos últimos anos, alguns atletas conhecidos do cenário gaúcho abreviaram suas carreiras. A despedida mais recente dos gramados foi a de Adilson Warken. Gaúcho de Bom Princípio, o ex-volante rodou por Juventude e Caxias antes de se profissionalizar no Grêmio. Foi no clube do coração que ganhou projeção. Já em 2007, fez parte do grupo gremista campeão gaúcho e vice da Libertadores.
Depois disso, vieram os melhores momentos. Entre 2009 e 2011, disputou 150 jogos, boa parte deles como titular. Maturidade e virtudes os levaram ao futebol russo.
— Foram cinco anos no Grêmio. Passei por muita coisa bacana. Lembro da minha estreia na Libertadores, em que fui melhor em campo num Olímpico lotado. Era torcedor desde moleque. Aquilo estava muito além do que eu tinha sonhado para o começo de carreira. Depois, fui para a Rússia. Tive momentos marcantes lá – recorda Adilson, 33 anos completados em janeiro.
Em 2019, quando estava no Atlético-MG, teve de encerrar a carreira por indicação médica. Um duro golpe para um atleta que sempre se preservou e que esperava por conquistas ainda maiores. No dia 12 de julho, foi diagnosticado com uma cardiomiopatia hipertrófica, doença cardíaca identificada durante exame realizado na pausa para a Copa América. O cardiologista Haroldo Aleixo anunciou:
— Fizemos uma avaliação agora, na intertemporada, que caracterizou e identificou uma cardiomiopatia, doença cardíaca que o impede de seguir como atleta profissional. Isso foi estabelecido agora. A partir de então, nosso primeiro cuidado foi discutir com o médico pessoal do atleta e também com uma terceira pessoa, um terceiro médico, para ouvir a opinião, discutir o diagnóstico e a conduta a ser tomada. Houve unanimidade sobre a decisão de abreviar a carreira.
O volante, que fez 99 jogos pelo time mineiro, foi às lágrimas durante o pronunciamento. Aplaudido pelos companheiros, declarou:
— Só tenho a agradecer. Até então, aqui tem sido tudo maravilhoso na minha vida pessoal e esportiva. Minha filha vai nascer em breve. Tenho muitos motivos para seguir, para ser feliz.
Daquele momento até agora, Adilson pouco falou. Nos primeiros dias, parecia anestesiado:
— Foi uma surpresa, porque eu fazia exames regulares desde o início da carreira, no Grêmio, na Rússia, no Atlético-MG. No meio do ano, fiz exame de rotina, estava normal, iria jogar o clássico contra o Cruzeiro pela Copa do Brasil. Depois do exame, foi pedido outro, perdi treino, até fiquei chateado. Depois, o médico pediu um terceiro dia de exames, vi que podia ter acontecido algo. Chegou o quarto dia de exames e fiquei bem preocupado. Eram do coração. E ainda restaria um quinto dia. Quando cheguei lá, havia três médicos do Atlético para conversar comigo. Me explicaram a gravidade, os riscos. Segui buscando opiniões e conversas com cardiologistas e cheguei ao consenso que a única forma segura de seguir a vida era largar o esporte de alto rendimento.
Se o nome no prontuário médico, cardiomiopatia hipertrófica, assusta, é por causa das consequências. Em 27 de outubro de 2004, o Brasil assistiu à morte do zagueiro Serginho. Durante partida contra o São Paulo, pelo Brasileirão, o jogador do São Caetano, aos 30 anos, foi ao chão e, em menos de uma hora, morreu no hospital.
Trata-se de uma doença do músculo cardíaco na qual uma porção do miocárdio (músculo do coração) está hipertrofiada (mais grosso) sem nenhuma causa óbvia, criando uma deficiência funcional. Isso pode provocar arritmias ventriculares em jovens atletas, podendo levar a desmaios, infarto e morte súbita.
— Vinha sendo muito mais profissional, com mais consciência, com perspectivas de uma vida longa no futebol. Queria passar dos 35 anos, treinava mais do que o normal. A notícia quebrou os meus planos. Brinco que tomei um carrinho com duas pernas por trás. Mas pensava no momento de parar também. Por isso, tenho vários projetos, estudei. Seguirei assim, com oportunidades dentro do futebol. A vida segue — comenta Adilson.
O ex-jogador chegou a assumir um cargo na comissão técnica do Atlético-MG, mas foi demitido antes mesmo do começo da pré-temporada de 2020.
— A recomendação médica dele era de encerrar a carreira. Como ele tinha um contrato em vigor com o Atlético-MG até o fim de 2020, o clube ofereceu a opção de ficar desempenhando alguma função na comissão técnica. Ele ficou até o fim de 2019, como auxiliar técnico. Neste ano, até pela chegada de uma nova comissão (liderada pelo técnico Dudamel), a função dele não podia mais ser desempenhada pelo número de profissionais. Então, o Atlético-MG propôs a ele a rescisão — informou o clube mineiro, por meio da assessoria de imprensa.
Como o próprio Adilson diz ter buscado atividades paralelas à bola, nelas estarão seu recomeço. Além de estudar idiomas e se envolver em assuntos financeiros, o objetivo é retornar ao futebol para "devolver" o que conquistou nas quatro linhas.
— Tenho de aproveitar, estudar, me especializar, porque os profissionais são muito qualificados nessa área. Não sei se serei treinador, porque é uma carreira que mexe muito com o coração. Existem várias maneiras de se trabalhar no futebol, como auxiliar, na parte de gestão. Vamos ver o que vai aparecer — projeta.
Enquanto espera por oportunidades e se atualiza nas questões extracampo, o sentimento que fica é o de dever cumprido, ainda que tenham sido apenas 13 anos no futebol profissional.
— Tudo valeu a pena. Por questão de comportamento, que sempre tive. Por ser um cara honesto, de trabalhar com seriedade e em frente, independentemente das dificuldades. Não foi à toa que fiquei cinco anos no Grêmio, quase seis na Rússia, tinha um contrato de quatro anos com o Atlético-MG. Isso é porque sempre crio uma raiz, e meu comportamento validou isso. É o que fica marcado — orgulha-se o agora atleta de futmesa e futvôlei, e que também se exercita com musculação e corrida na esteira.