Na última quinta-feira (24), a coluna No Pódio mostrou que os esportes olímpicos do Brasil tiveram, em 2019, o melhor desempenho em Mundiais em temporadas que antecederam os Jogos, com seis ouros e 22 medalhas no total.
Se os resultados animam para Tóquio 2020, há preocupação em relação aos futuros ciclos olímpicos, principalmente pela queda dos investimentos após a Olimpíada do Rio. Em entrevista, o diretor de esportes do COB, Jorge Bichara, revela que o incentivo às categorias de base é um dos focos de atenção do comitê. Leia a entrevista:
Qual é o balanço dos esportes olímpicos do Brasil na temporada 2019?
É um balanço positivo. Entendemos e avaliamos que os esportes olímpicos tiveram bons resultados em 2019. Na nossa avaliação, foram 22 conquistas em eventos de referência em diversas modalidades neste ano. Um patamar que consideramos bom é o alcance de 20 conquistas. Então, dentro desse cenário, nossa avaliação é positiva.
E qual é a avaliação do desempenho dos atletas brasileiros em todo o atual ciclo olímpico?
É uma avaliação crescente. O Brasil melhorou seu resultado em relação ao ano anterior, esse é um indício positivo de evolução. Porém, temos de manter os pés no chão. Em 31 de dezembro, dentro de alguns dias, portanto, esse número zera e inicia-se a fase mais sensível da preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, onde o Brasil vai se apresentar com o que tem de melhor. Vamos trabalhar nesses próximos seis meses para tentar manter essa evolução.
O que explica os bons resultados dos atletas brasileiros nesta temporada?
Parte dos resultados obtidos neste ciclo é ainda proveniente dos investimentos que foram feitos nos dois ciclos olímpicos passados (2009 a 2012 e 2013 a 2016). O que explica esses resultados são a qualidade da preparação de vários atletas e equipes, a experiência adquirida ao longo dos anos em buscar o que existe de melhor na preparação e no suporte tecnológico, a participação em competições adequadas e períodos de treinamentos que resultaram em melhora técnica, tática e física das equipes. Um conhecimento mais adequado do cenário internacional, de potencialidades de busca de novas oportunidades de conquista. Enfim, o aprendizado que ocorreu de investimentos feitos no ciclo (olímpico) anterior possibilitou, mesmo diante de um cenário de redução de recursos, que o Brasil mantivesse um bom patamar de resultados. Ocorreu também, dentro do comitê olímpico, um direcionamento especial a essa preparação. Hoje, 84% dos recursos do COB estão tendo uma aplicação direta no esporte olímpico. Isso fez com que, mesmo com a redução de recursos no Brasil e no esporte já prevista para ocorrer após os Jogos do Rio, se mantivesse o nível de preparação adequado.
Naturalmente, o foco do COB agora é o desempenho dos atletas nos Jogos de Tóquio. Mas a redução dos investimentos verificada depois da Olimpíada do Rio poderá ter repercussão no próximo ciclo olímpico. Isso preocupa o comitê?
Você está certo. Realmente existe uma preocupação do comitê a respeito dos próximos ciclos. O COB tem uma atenção especial ao principal evento deste ciclo, de 2017 a 2020, que são os Jogos de Tóquio. Esse é o principal foco da nossa preparação em quatro anos de investimentos. O Brasil como um todo teve retração de investimentos e teve de se reinventar em vários segmentos. Com o esporte não foi diferente, ele teve de cortar na pele as suas estruturas, ser criativo e reinventar propostas de preparação. Isso causa efeito em algum grupo específico. Então, ao longo do tempo, principalmente no ciclo passado, ocorreu redução de investimentos nas categorias de formação em detrimento das categorias principais de muitos esportes. Uma redução de investimentos por um ano em uma determinada categoria de base de um esporte pode impactar todo o ciclo olímpico de uma modalidade. A redução de recursos pode "matar" uma geração inteira de novos atletas. Não estou dizendo que isso aconteceu, mas tivemos impactos em muitos esportes. Então, essa é uma ação que, na nossa avaliação, impactou nas nossas categorias de base.
Que ações estão sendo planejadas para compensar essa redução dos investimentos?
O COB está atento a isso e tem se reunido com as confederações brasileiras para alertar sobre essa situação. O comitê tem apresentado informações no sentido que sejam reavaliados projetos e redirecionados recursos para esse tipo de trabalho (desenvolvimento das categorias de base). Dentro da estrutura nacional, temos hoje outros organismos que também são responsáveis por esse tipo de investimento. É importante frisar que o COB não pode ser responsável unicamente por dar sustentabilidade a todo o sistema esportivo. Não nos cabe como função estatutária e nem teríamos capacidade para isso. O esporte tem as suas entidades representativas e também as suas camadas de atuação, como as secretarias municipais e estaduais de esporte, o governo federal, os clubes, o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC). Todos têm participação e, ao meu ver, estão atentos a essa situação.
O senhor poderia citar alguma ação específica para desenvolver as categorias de base?
O Comitê Brasileiro de Clubes tem contribuído bastante no desenvolvimento esportivo através do suporte que tem dado na realização de muitos campeonatos brasileiros, e esse número vai aumentar no próximo ano. Esse é um dado extremamente significativo porque esses novos jovens atletas precisam competir para se desenvolver tecnicamente. Então, essa oferta que está sendo feito pela CBC é muito valiosa para o desenvolvimento esportivo do Brasil. O COB, por sua vez, também criou uma área de desenvolvimento, na qual está alocando recursos para dar sustentabilidade às diversas confederações brasileiras para essa faixa específica. Neste ano, já fizemos investimentos nesse segmento e teremos um valor maior de recursos para investir nesse segmento em 2020. Para finalizar, o COB se mantém ainda responsável pela organização dos Jogos Escolares da Juventude, que é uma contribuição que o comitê faz significativa ao esporte estudantil, que tem crescido o seu número de participantes. Um número próximo de 2 milhões de jovens é atingido nas etapas municipais e estaduais por todo o Brasil. Que chega a uma etapa final de disputas em nível regional e nacional que alcança 3 mil jovens. Então, nesse aspecto, o COB também demonstra toda sua atenção a esse problema. É difícil, é complexo, estamos atentos a isso e buscando soluções.