SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pela primeira vez em 20 anos, a próxima temporada do circuito mundial de tênis não terá o Brasil Open no principal calendário da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).
A saída do torneio, criado em 2001 na Costa do Sauípe (BA) e desde 2012 realizado em São Paulo, foi confirmada no último fim de semana pela entidade.
Nesta quinta-feira (21), Luis Felipe Tavares, diretor da competição e dono da sua promotora, a Koch Tavares, afirmou que o projeto é criar um novo evento, na semana do dia 23 de novembro do ano que vem.
De acordo com ele, a data já está confirmada pela ATP e o novo torneio, no ginásio do Ibirapuera (SP), será de nível challenger, que segue um calendário paralelo em relação aos maiores campeonatos --estes são classificados conforme a pontuação distribuída no ranking: 250, 500 e Masters 1.000.
Procurada, a entidade não se manifestou sobre a confirmação da data de novembro até a publicação desta reportagem.
Estão incluídos no pacote do novo Brasil Open, além do challenger de novembro, com premiação de US$ 162 mil, outros dois campeonatos prévios desse mesmo patamar e com premiações menores no primeiro semestre, em Olímpia (SP) e Florianópolis (SC). A edição deste ano do Brasil Open pagou US$ 550 mil.
As mudanças de data e formato (até então o evento era um 250) se deram porque a empresa Octagon, dona dos direitos da sua realização junto à ATP, optou por levar a competição para Santiago a partir de 2020.
"A empresa não é de filantropia, busca dinheiro e encontrou melhores condições no Chile, que tem tradição no tênis e vive um momento diferente do Brasil, apesar de tudo que está acontecendo [protestos contra a desigualdade] lá agora", afirmou Tavares à reportagem.
Torneio mais tradicional do país e que já viveu anos de pompa com as participações de nomes como Gustavo Kuerten e Rafael Nadal, recentemente o Brasil Open passou a ter dificuldades para fechar a conta da sua realização.
O evento é o único de nível 250 na temporada que concorre com dois 500 na mesma semana, no caso os campeonatos de Acapulco e Dubai, que oferecem premiações bem maiores e atraem as grandes estrelas do esporte.
Pesa contra a gira sul-americana de fevereiro (da qual também fazem parte o Rio Open e dois eventos na Argentina) ser disputada no saibro, piso com cada vez menos especialistas entre os melhores do mundo.
"Essa data é completamente infeliz", resume o empresário. O pleito de mudar o período e a superfície para uma mais rápida une todos os diretores de torneios disputados nesse período, mas esbarra na falta de peso político do grupo nas decisões da ATP.
Ele admite que a concorrência interna com o Rio Open, único 500 dessa gira, atrapalha na busca por patrocínios. Neste ano, após impasses em reuniões da Secretaria Especial do Esporte do governo federal, a autorização para captar verbas de empresas por meio da lei de incentivo ao esporte só saiu com a competição em andamento.
Relatos de atrasos de fornecedores são comuns, e a Koch Tavares está inscrita na Dívida Ativa da União no valor de R$ 16 milhões, segundo extrato ao qual a reportagem teve acesso nesta quinta.
"Conseguimos o milagre de vir até agora. Todas as empresas estão endividadas, qual o problema? Vamos enfrentar. Atrapalha [a realização do torneio], se você não tiver dinheiro você não faz. Neste ano nós fizemos com correria, não é o cenário ideal, mas agora que estamos atrelados a uma nova data vamos buscar isso", afirmou Tavares.
Apesar das diferenças da nova competição, o promotor não abre mão de dizer que se trata de uma continuidade: "O Brasil Open continua sendo o Brasil Open porque é uma marca registrada de propriedade da Koch Tavares, que idealizou, correu o risco e entregou durante os últimos 19 anos".
Ele defende que o novo torneio está mais ajustado à realidade do tênis brasileiro atual, com apenas um atleta entre os 100 primeiros do ranking, e pode se tornar melhor para os jogadores da casa do que o existente nos últimos anos.
"Vamos elaborar em conjunto com a ATP uma situação que vá beneficiar o Brasil Open. A sugestão de trazer o evento para São Paulo foi deles, então eles têm interesse", disse.
Segundo o empresário, o mesmo projeto para captação via lei de incentivo previsto para a antiga data está mantido e começará a a ser executado partir de agora.
"Se os patrocinadores apoiarem, você vai ter o dinheiro e continuará contratando os jogadores para virem. Como que o Nadal veio jogar aqui? Por que eu estava com um topete melhor? Não, porque a gente pagou para ele vir jogar", afirmou.
Sobre o fato de a temporada já ter praticamente acabado no fim de novembro e os tenistas precisarem abdicar das suas curtas férias para comparecer ao novo Brasil Open, ele se declara confiante: "Tudo bem, faz parte do risco, vamos tentar explorar as vantagens de estar nessa data".