Foi o quarto jogo da Copa América realizado em Porto Alegre, mas, sem dúvidas, o mais especial. Primeiro porque a Arena do Grêmio teve sua maior lotação até então, com 48 mil torcedores, superando os 41 mil que assistiram à vitoria da Argentina sobre o Catar. Depois, porque teve a Seleção Brasileira como protagonista, pintando de amarelo e verde o azul predominante do estádio gremista.
Mas havia outras cores, com camisas de diversos clubes do país, como a do Flamengo, que vestia Irineu Finato, natural de Foz do Iguaçu, no Paraná.
— Lá (em Foz do Iguaçu) nós temos a tríplice fronteira com Paraguai e Argentina. A rivalidade maior é com os argentinos, mas quando os paraguaios nos eliminaram em 2011 e 2015, eles fizeram piadinhas e eu tive que aguentar. Agora será a nossa vez — disse o paranaense.
Só faltou combinar com Hernán Pérez, que logo no primeiro minuto de bola rolando chutou de fora da área, ao lado da meta brasileira.
Alguns torcedores, inclusive, sequer viram este primeiro lance, tamanha era a movimentação do lado de fora do estádio, com longas filas mesmo depois das 21h30min. Mas, conforme os minutos avançavam, a torcida brasileira ocupava as cadeiras vazias e empurrava a Seleção de Tite para cima dos rivais.
Everton era o centro das atenções. Grande revelação da equipe na competição, o atacante tocava na bola e a massa levantava para aplaudir. Quando ele finalizou prensado da entrada da área, aos quatro minutos, mesmo que tenha parado em defesa tranquila de Gatito Fernández, gremistas ensaiaram um grito que já estão acostumados a soltar. Entre eles, estava Ana Laura Cruz, de 29 anos, que mostrava orgulhosa a camisa do Grêmio.
— Quero ver um gol do Everton, até porque pode ser a última vez que ele jogue na Arena — afirmou ela.
Curioso é que ao seu lado estava o pai, Celso Cruz, com camisa do Inter. Ele contou que os dois chegaram mais cedo e, antes de entrar na Arena, foram comer um churrasco em um bar onde a filha costuma ir com os amigos, antes dos jogos do Grêmio.
— Parece torcida mista. Tu vens desarmado, bem tranquilo, sabendo que não vai receber ofensas — explicou Celso, de 64 anos.
O clima amistoso implodiu na metade do primeiro tempo, quando o gritos de "Grêmio, Grêmio!" surgiu em meio a vaias. Mas, com certeza, aos 26, até o mais fanático tricolor aplaudiu o ex-colorado Alisson. O goleiro fez defesa à queima-roupa em chute de Derlis González, que apareceu sozinho na área após cochilo da defesa brasileira.
Quem se animou mesmo foi o jovem João Felipe, acompanhado do pai Lúcio Neto. Os dois vieram de Salvador e fizeram a bandeira do Bahia tremular quando Daniel Alves teve uma bola à feição para chutar na entrada da área, mas preferiu driblar e acabou desarmado.
— Eu torço pelo Daniel porque ele é de lá (de Juazeiro, na Bahia). Achei que ia ser gol, me levantei e fiz: "Uhhhhh" — contou o garoto.
Mas veio o intervalo e uma mescla de vaias e aplausos se misturou nas arquibancadas. Um dos insatisfeitos era Gerson Schwonke. Ao lado do filho, os dois com camisa do Brasil-Pel, dava dicas a Tite.
— Tem que tirar o Gabriel Jesus, ele não está jogando na posição dele. Bota o David Neres! — reclamou o pelotense.
Mas o técnico da Seleção se limitou a trocar o lateral-esquerdo: Filipe Luís por Alex Sandro. Ainda assim, o Brasil se fazia superior. Mas claro, até os dois xavantes comemoraram quando o árbitro assinalou pênalti em Firmino, aos oito do segundo tempo. E, mesmo que o VAR tenha revertido o lance e marcado falta fora da área, inúmeros celulares tentavam gravar a cobrança de Daniel Alves que foi para fora.
A partir da expulsão do zagueiro paraguaio Balbuena, a Seleção encurralou os rivais. A Arena se enchia de expectativa. Já não importava mais quem marcaria o gol, desde que ele saísse. Gaúchos, paranaenses e baianos se uniam em torno da causa única.
Próximo dos 30 minutos, o grito uníssono de "Uh! Cebolinha" jogava o time ao ataque.
— O Everton joga muita bola. Sou colorado, mas tenho que falar isso – disse Leonardo Manera – Espero que a gente ganhe grana com ele, mas que saia só no fim do ano — completou o amigo gremista, Rodrigo de Lima, que estava ao seu lado.
Com o apito final e o empate em 0 a 0 sacramentado, a tensão pairava no ar. A vaga seria definida nos pênaltis. Era hora da consagração de Alisson. A estrela dele brilhou com uma defesa e um chute de Derlis González indo para fora, unificando gremistas e colorados em torno da festa brasileira em Porto Alegre.