A dupla Gre-Nal optou por sair de Porto Alegre para realizar os trabalhos de intertemporada durante a disputa da Copa América, que paralisou as principais competições entre clubes no continente. O Inter escolheu Atibaia, no interior paulista, enquanto o Grêmio decidiu ficar em um resort em Viamão. Ambos retornam à capital gaúcha no sábado (29).
Os motivos para as viagens são distintos. O Tricolor cedeu estádio e centro de treinamentos para a Conmebol. O hotel em que costuma realizar as concentrações pré-jogo também está cheio devido ao torneio entre seleções. Assim, precisou adotar um plano B, que satisfizesse os requisitos do clube e não fosse muito distante.
— Viemos para Viamão devido à impossibilidade de estarmos em Porto Alegre. Escolhemos um hotel que atendesse às necessidades que tínhamos, como um campo e uma estrutura que desse o suporte. Esse regime de concentração também serve como um elemento de integração — afirma o executivo de futebol do Grêmio, Klauss Câmara.
Já o Colorado preferiu sair do Estado para se isolar mais. O local escolhido foi o mesmo em que o clube fez sua pré-temporada no ano passado.
— Atibaia é uma cidade totalmente preparada para receber uma delegação de futebol. Tem ótimas instalações e campos de treinamento. Geralmente, este é um momento da temporada em que o clima lá é bom. Além disso, é importante reunir o grupo, deixar os atletas concentrados e realizar reuniões — explica o vice-presidente de futebol do Inter, Roberto Melo.
Mas esse afastamento faz mesmo diferença na preparação das equipes? No entendimento do técnico Celso Roth, mudar de ares neste período de retreinamento é uma boa alternativa para controlar sono e alimentação dos atletas, assim como identificar e corrigir problemas pontuais entre os jogadores.
— A intertemporada em um lugar isolado serve para aparar as arestas que surgem dentro de uma relação de grupo e traçar objetivos mais claramente. Além de termos mais facilidade pra conversar com os jogadores, sem aquela pressão de viagem e jogo — destaca o treinador, que trabalhou tanto no Grêmio quanto no Inter.
Os pontos colocados por Roth são corroborados pela psicóloga do esporte Juliane Fechio, que foi funcionária do Santos por sete anos. Ela ressalta, porém, que nem todos os atletas gostam deste isolamento, especialmente por ficarem longe de suas famílias. Segundo ela, os mais jovens costumam se agradar mais das concentrações, enquanto os mais experientes entendem como algo desnecessário.
— Alguns acham chato, outros veem como algo que traz desgaste ao longo do ano. Mas teve um jogador, uma vez, que relatou que na concentração ele conseguia dormir melhor, porque tinha bebê pequeno e acabava acordando muitas vezes quando ficava em casa — salienta a psicóloga.
O também psicólogo do esporte Eduardo Cillo, com passagens por Botafogo e Palmeiras, lembra que há vantagens e desvantagens neste afastamento da cidade-sede do clube. Ainda que possam ser trabalhadas questões táticas e físicas com mais privacidade, o período reunido e longe da família também pode gerar estresse.
— O isolamento na concentração não é algo fácil de lidar. Há uma tendência de desgaste de relacionamento pelo excesso de convivência. Acaba sendo algo monótono também, já que não tem muito mais o que fazer além de treinar. Chega uma hora que cansa. Por isso, é preciso que algumas atividades recreativas sejam feitas para os jogadores aliviarem a pressão e o estresse — avalia Cillo, que complementa:
— É preciso ficar de olho no clima entre os jogadores. Eles não têm de ser bons amigos, tem de ser bons colegas.