Uma das máximas do futebol diz que "times vencem jogos, elencos ganham campeonatos". Essa sentença é quase um mantra da autoajuda em vestiários Brasil afora. Mas será mesmo que isso funciona para todos? Além da dupla Gre-Nal, Palmeiras, Cruzeiro, Flamengo e Athletico-PR, os demais clubes que por enquanto se dividem entre Libertadores e Brasileirão (a Copa do Brasil se inicia para eles em 15 de maio, quando começam as oitavas de final do torneio), têm grupo de qualidade para sustentar duas ou três campanhas?
Na estreia do Brasileirão, apenas o Inter utilizou o time B, seguindo à risca o planejamento de retorno do Peru. A escalação dos reservas — o goleiro Marcelo Lomba foi o único titular — na derrota em Chapecó estava prevista havia quase um mês. Grêmio e Cruzeiro mandaram as formações principais a campo, apesar das derrotas, bem como Flamengo, Palmeiras e Athletico-PR, que começaram com vitória no campeonato.
— A equipe descansou. Tivemos uma derrota que não esperávamos. O momento para descansar é esse — declarou o volante Patrick, um dos preservados no sábado na Arena Condá. — Precisamos pontuar, porque perdemos a outra partida. É um adversário forte, que vai brigar pelo título. Em pontos corridos, é preciso jogar cada partida como uma final — completou o meio-campista, sobre o confronto de quarta-feira (1º) contra o Flamengo.
No lado gremista, o planejamento é avaliar jogo a jogo. Depois de perder para o Santos, com força máxima, o vice-presidente de futebol, Duda Kroeff, afirmou que o clube não definiu um calendário de jogos para o time reserva. O técnico Renato Portaluppi disse que utilizará o que tiver de melhor à disposição sempre que possível, preservando quem estiver desgastado. O zagueiro Kannemann disse que os jogadores não sabem quem irá a campo contra o Avaí, nesta quarta, nem diante do Fluminense, no fim de semana:
— Sabemos dessa situação (várias partidas importantes em sequência). Mas o Grêmio sempre tenta tomar as melhores decisões, vendo como está cada jogador, quanto vem jogando cada um. O futebol hoje é muito rápido, então é preciso pensar para tomar a decisão e ver quem vai jogar.
Opções de sobra
Atual campeão brasileiro, o Palmeiras de Felipão largou com goleada sobre o Fortaleza e nada indica que pare de acelerar na tabela. Agora, sem Ricardo Goulart, que poderá ficar parado por longo período devido a uma contusão no joelho direito, um novo titular sairá do banco. Zé Rafael, ex-Bahia, deve assumir a posição.
— O Palmeiras é disparado o melhor elenco do Brasil, com 30 opções em nível de titularidade — entende Alexandre Praetzel, comentarista do Esporte Interativo/TNT e Yahoo Esportes. — A formação reserva do Palmeiras é superior a pelo menos 10 times do Brasileirão. E ainda há o terceiro escalão, com Jailson, Fabiano, Juninho, Jean, Guerra, Hyoran, Carlos Eduardo, Felipe Pires e Arthur Cabral. Seriam titulares em algumas equipes da Série A. Qualquer treinador gostaria de ter essa fartura.
O Cruzeiro de Mano Menezes, atual campeão da Copa do Brasil, se reforçou em 2019 para evitar a repetição do mesmo erro da última temporada.
— O Cruzeiro não brigou pelo Brasileirão no ano passado porque não tinha dois jogadores qualificados para cada posição. Houve uma grande melhoria, sobretudo nas laterais e na zaga. Neste ano, o Cruzeiro montou um elenco para ter dois times de fato. Mano pode usar titulares e reservas e manter um desempenho semelhante. Do meio para a frente, o grupo tem três jogadores por posição. Isso certamente fará a diferença na temporada — comentou Bruno Furtado, editor do portal Superesportes, de Minas Gerais.
Caixa reforçado à parte, o Flamengo também investiu pesado em reforços, mas não distribuiu bem os valores entre os três setores da equipe.
— O Flamengo tem um elenco forte, mas deixa a desejar quando analisamos o sistema defensivo. Léo Duarte e Rodrigo Caio são os titulares, sem reservas à altura. Rhodolfo se machuca muito, e Thuler é jovem ainda. As laterais são posições que deixam a desejar, em termos de suplentes — disse Venê Casagrande, setorista do Flamengo no jornal O Globo. — No setor ofensivo, o elenco é muito forte. Além de contar com um dos ataques mais talentosos do Brasil, tem reservas que também dão conta do recado — finalizou Casagrande.
Ousadia paranaense
Mas ninguém tem a ousadia do Athletico-PR no futebol brasileiro. Pelo segundo ano seguido, a equipe paranaense foi campeã Estadual com o time sub-23 — reforçado com reservas do grupo principal, com idade mais elevada.
— Independentemente do calendário, o Athletico-PR adota essa estratégia de rodízio e jogar algumas partidas com o time reserva há anos. Em 2018, por exemplo, acabou utilizando essa tática na reta final da Copa Sul-Americana, tanto em jogos dentro e fora de casa na Série A. Em algumas posições, como o ataque, o time tem peças de reposição ao menos equivalentes às titulares. Em outros setores, há diferença de qualidade. Mesmo assim, o clube adota o rodízio. É uma filosofia colocada em prática, mesmo sabendo dos riscos que corre — destacou Monique Vilela, setorista do clube na Rádio Banda B.
Com uma temporada longa ainda pela frente, o início da dupla Gre-Nal no Brasileirão foi distinto na relação titulares-reservas, porém, com o mesmo resultado: tropeço na estreia.
Compare os times reservas dos clubes da Série A ainda vivos na Libertadores e confira os resultados obtidos até agora na temporada:
GRÊMIO (4-2-3-1)
O Grêmio conquistou o Gauchão depois de usar time misto em quase metade dos jogos. Foram oito partidas com uma equipe inteiramente reserva ou com no máximo dois titulares. No Brasileirão, estreou com derrota em casa para o Santos, mas Renato Portaluppi apostou na melhor formação possível.
Escalação reserva:
Julio César; Léo Moura, Paulo Miranda, Michel e Juninho Capixaba; Rômulo e Thaciano; Walter Montoya, Luan e Pepê; Tardelli (Vizeu).
Em 2019
8 jogos
5 vitórias
3 empates
Destaque: Luan
Titular do Grêmio desde 2014 e melhor jogador da América em 2017, Luan virou reserva para recondicionamento físico, após resultados ruins na fase de grupos da Libertadores. Viu o time conquistar o Gauchão e se recuperar no torneio sul-americano com Jean Pyerre no seu lugar.
INTER (4-1-4-1)
Vice-campeão gaúcho, o Inter disputou seis partidas do Estadual com o time totalmente reserva ou, no máximo, com dois titulares (sempre Marcelo Lomba e mais um jogador de linha). Na derrota na estreia do Brasileirão, diante da Chapecoense, Odair Hellmann escalou apenas o goleiro entre os titulares — o zagueiro Rodrigo Moledo entrou nos minutos finais, devido à lesão de Emerson Santos.
Escalação reserva:
Daniel; Bruno, Emerson Santos, Roberto e Uendel; Rodrigo Lindoso; Rithely, Nonato, D'Alessandro (Neilton ou Parede) e William Pottker; Rafael Sobis.
Em 2019
7 jogos
4 vitórias
3 derrotas
Destaque: Rafael Sobis
Bicampeão da América com o Inter em 2006 e 2010, Rafael Sobis foi recontratado nesta temporada para reforçar o sistema ofensivo do time. Aos 33 anos, chegou a ser titular em algumas partidas como centroavante, enquanto Guerrero ainda estava suspenso por doping. Agora, é um importante reserva de Odair.
ATHLETICO-PR (4-4-2)
Foi campeão paranaense jogando todo a competição com o time sub-23, reforçado por reservas do grupo principal. Até mesmo o técnico é "reserva". Se o gaúcho Tiago Nunes comanda a equipe principal na Libertadores e no Brasileirão, no Estadual o treinador foi Rafael Guanaes.
Escalação reserva:
Caio; Khellven (Madson), Paulo André, Robson Bambu e Márcio Azevedo; Wellington, Léo Cittadini, Tomas Andrade e Marcelo Cirino; Braian Romero e Plata (Jaderson).
Em 2019
15 jogos
8 vitórias
3 empates
4 derrotas
Destaque: Paulo André
O experiente zagueiro de 35 anos, campeão brasileiro com o Corinthians em 2011, reforçou a equipe sub-23 no Campeonato Paranaense e ajudou o time a conquistar o título estadual. Ele disputou cinco partidas na temporada, sendo duas pela Libertadores — uma como titular e outra entrando no decorrer da partida.
CRUZEIRO (4-2-3-1)
O campeão mineiro utilizou o time quase todo reserva (dos titulares, apenas o zagueiro Dedé atuou) em apenas um jogo da temporada (venceu o Tombense por 2 a 0). O técnico Mano Menezes apostou em uma equipe mista em outros cinco jogos (quatro vitórias e um empate) do Estadual.
Escalação reserva:
Rafael; Orejuela, Fabrício Bruno, Murilo e Egídio (Dodô); Lucas Silva e Jadson; Rafinha, Thiago Neves e Pedro Rocha; Sassá.
Em 2019
6 jogos
5 vitórias
1 empate
Destaque: Pedro Rocha
Contratado por empréstimo junto ao Spartak Moscou, da Rússia, no início deste mês, o atacante ainda briga pela titularidade no time de Mano Menezes. Ele vem sendo utilizado com frequência, mas disputa uma vaga com Rafinha, Marquinhos Gabriel e Robinho.
PALMEIRAS (4-3-3)
Felipão rodou todo o grupo de jogadores no Paulistão. Porém, o técnico jamais mandou a campo um time totalmente suplente. Foram três jogos (vitórias sobre Bragantino, Ponte Preta e Novorizontino) com uma equipe formada por pelo menos nove reservas. O Verdão foi eliminado pelo São Paulo na semifinal do Estadual.
Escalação reserva:
Fernando Prass; Mayke, Antonio Carlos, Edu Dracena e Victor Luís; Thiago Santos, Matheus Fernandes e Lucas Lima; Zé Rafael, Borja e Raphael Veiga.
Em 2019
3 jogos
3 vitórias
Destaque: Borja
O colombiano vive seu momento mais difícil no Palmeiras desde que chegou ao clube, em fevereiro de 2017. Há dois meses sem marcar gol, o centroavante virou a terceira opção de Felipão para a posição, ficando atrás de Deyverson e Arthur Cabral.
FLAMENGO (4-2-3-1)
Na campanha vitoriosa no Campeonato Carioca, Abel Braga poucas vezes escalou um time totalmente reserva, mesmo contando com opções de qualidade no banco. Em cinco partidas, o Flamengo atuou com suplentes ou com pelo menos dois titulares em campo. Na estreia do Brasileirão, os titulares bateram o Cruzeiro por 3 a 1, a única derrota da equipe de Mano Menezes na temporada.
Escalação reserva:
César; Rodinei, Rhodolfo, Thuler e Miguel Trauco; Ronaldo e Hugo Moura; Piris da Motta, Diego e Vitinho; Uribe.
Em 2019
5 jogos
1 vitória
4 empates
Destaque: Vitinho
A segunda contratação mais cara da história do Flamengo, Vitinho é um reserva de luxo do técnico Abel Braga. O ex-atacante do Inter foi importante na conquista do Campeonato Carioca e tem sido escalado com frequência em um setor que conta com Everton Ribeiro, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa.