Ao longo dos últimos 25 anos, acompanhei os passos de jogadores tidos como promessas nas categorias de base, mas que não chegaram à Primeira Divisão do futebol brasileiro. Talentos que se perderam na vida noturna com mulheres e bebidas. Outros alcançaram voos para times de ponta do futebol internacional. E ainda há aqueles que insistem em contrariar opiniões fáceis: os que não eram apostas e se firmaram como profissionais de sucesso.
O comportamento competitivo é um princípio básico do alto desempenho e do êxito no futebol. Durante o processo formativo, os futebolistas das categorias de base são condicionados a lutar diariamente pela permanência na base, pela titularidade no time e pela ascensão à categoria superior.
No decorrer da carreira, eles são motivados a competir, no ambiente interno, contra os companheiros de time e contra as próprias limitações; no ambiente externo, dentro de campo, contra os adversários, e, fora de campo, contra a pressão dos torcedores e da mídia. Muitos jovens jogadores, quando dotados de um diferencial técnico, são excessivamente protegidos por empresários, comissões técnicas e dirigentes. As benesses são superlativas e desproporcionais, as exigências são brandas dentro e fora do campo, e o paternalismo é acentuado. Esses privilégios desestimulam o espírito de luta, geram dependência e impedem a autonomia. Eles, em suma, afetam a conduta competitiva e dificultam a ascensão profissional.
Na cultura do futebol de alto rendimento, devem predominar a obediência com liberdade e criatividade, a dedicação e o esforço, e o desejo de jogar excepcionalmente. O corpo padece diariamente e a mente deve estar preparada para as incertezas, abdicar das acomodações, tolerar as dores e as pressões diárias. Junto a isso, deve prevalecer o espírito comum, derivado dos treinamentos, das experiências e da conscientização dentro do próprio grupo.
Os treinos devem estimular a criatividade e as tomadas de decisões, e de igual modo, provocar uma atitude combativa, autônoma, dinâmica e libertadora. As experiências de entrega, disciplina e desafio levam à auto compreensão e à maturidade psicoemocional. Isso os habilita a renunciar aos impulsos que prejudicam o rendimento competitivo e o crescimento profissional.