Nos fins de semana de minha pré-adolescência, anos 1960, costumava estar no campo do Primavera, no entroncamento das avenidas João Pessoa e Bento, que seria hoje vicinal ao Instituto de Cardiologia, para assistir a jogos de várzea. Às vezes, por uma marcação de impedimento ou de pênalti, acontecia ali um empurra-empurra ou uma briga, mas nada de mais. Depois, faz 30 anos, por crescente desinteresse, deixei de comparecer ao Olímpico para assistir ao meu Grêmio; mas, nas incontáveis vezes em que lá estive, foram raros os desentendimentos entre torcedores que chegaram a vias de fatos.
Hoje, limito-me a espiar jogos pela TV e, perplexo, vejo, também em noticiários, boçais lutas campais entre torcedores irados dentro e mesmo no entorno dos estádios, em muitos casos com vítimas fatais. Valeria investigar o porquê do avanço da violência humana ao longo dos últimos anos envolvendo torcedores futebolísticos. Essa conduta disparatada se deve a quê?
Não estava errado o fundador da psicanálise, Sigmund Freud, quando afirmou que os seres humanos estão longe de ser as criaturas gentis que cada um crê se constituir, senão que carregam uma carga natural de agressividade que às vezes extravasa. Aí estaria uma tênue explicação para tal comportamento. Mas apenas parcial, pois, creio, a inata agressividade de que ele nos falou não chegaria a tanto. Talvez pudéssemos nos aproximar de uma verdade, analisando a educação do torcedor médio. A escola brasileira, especialmente a estatal, há mais de 30 anos deixou de educar por meio da formação do indivíduo: somente pela educação seremos capazes, mediante a reflexão assentada na formação, de discernir e de agir coerentemente. Parece-me que a deseducação é o cerne do mal comportamento de hordas enraivecida nos estádios.
Na tentativa, que se mostrou vã, de mitigar essa violência, proibiu-se bebidas alcoólicas nos estádios. Agora, discute-se o afrouxamento de tal diploma legal. Ora, não é preciso pensar muito para concluir que aquela proibição vale tanto quanto uma imaginável lei que proibisse a venda nos açougues em finais de semana de costela gorda para o churrasco dominical, por causar aumento de colesterol nos comensais carnívoros renitentes.
O problema da violência nos estádios e arredores não é de norma: radica na educação.