Desempregado depois de uma temporada no Barcelona de Rondônia, o lateral-esquerdo Jeandro Nobre, o Kaká, recebeu uma mensagem no celular. De um número com código de área 77, referente ao interior da Bahia, uma pessoa dizia ser Gelson Conte, técnico do Aimoré, de São Leopoldo. O interlocutor dizia ter visto o material do jogador na internet e o convidava para se mudar para o Rio Grande do Sul, com salário de R$ 3,5 mil mais alimentação, moradia e academia. A contrapartida para o carioca de 32 anos, cujos olhos brilhavam com a oportunidade de aumentar sua renda e sustentar uma família de três pessoas, seria pagar R$ 1 mil pela transferência entre as federações.
Sem receber qualquer salário no período em que ficou no time rondoniense, Kaká não tinha esse valor. Combinou com o suposto técnico que pagaria metade e descontaria a outra metade do primeiro salário. Depositou R$ 500 na conta enviada pelo contato no WhatsApp. E, depois que o dinheiro saiu da conta, o atleta nunca mais conseguiu contato com o alegado treinador. Era golpe.
— Fiquei empolgado com a proposta. Era um salário razoável e fazia sete meses que não recebia, não conseguia mandar dinheiro para casa. Jogar contra Grêmio e Inter, na primeira divisão do Gauchão, seria um recomeço, um sonho — lamenta Kaká.
O jogador afirma que percebeu que era golpe no momento em que o diálogo com o suposto técnico, até então frequentes e imediatos, foi subitamente interrompido após o depósito. Na conversa, pelo WhatsApp, Kaká pede que o dinheiro seja devolvido. Outros colegas que chegaram a ser sondados pelo número procuraram o autor do golpe, mas as respostas escassearam. A reportagem de GaúchaZH também tentou falar com o contato do celular, mas não obteve resposta.
No mesmo golpe, outra vítima é Gelson Conte, o quarto treinador que confirma ter tido o nome usado por algum falsário que aplica golpes em jogadores. Além dele, China Balbino, Renê Marques e Waguinho Dias foram vítimas do estelionato. O diretor de esportes do Avaí, Joceli dos Santos, também teve seu nome utilizado no golpe.
Conte fez boletim de ocorrência na delegacia de São Leopoldo. O caso será investigado pela 1ª DP.
— Fiquei sabendo do acontecido através do Cléber Sgarbi, treinador de goleiro do São Luiz, de Ijuí. Ele me disse que alguém se passava por mim. Em um primeiro momento, até não dei tanta importância, estávamos na preparação para o Gauchão, em eleição. Mas depois, o Kaká entrou em contato comigo, me informou do acontecido. Coloquei em um grupo de WhatsApp com outros treinadores no Brasil. E eles também passaram por isso. Então fiz o boletim de ocorrência — diz Conte.
Por se tratar de um crime com ocorrências em todo o país — há relatos também em São Paulo, Santa Catarina e em Estados do Nordeste —, não é possível estipular quantos jogadores tenham sido vítimas. A orientação é procurar a delegacia mais próxima e registrar uma ocorrência.
— Tive de pedir dinheiro emprestado para fazer o depósito, não tinha nem contado para minha família ainda. Fiquei muito triste, decepcionado. Queria sustentar, dar uma vida melhor para o meu filho. Vida de jogador é difícil, mas dá um desânimo para seguir a carreira — comenta Kaká.
Por enquanto, ele continuará conciliando a carreira de atleta com a de auxiliar de serviços gerais no Complexo da Maré.