O domingo amanheceu cinzento na Princesa do Sul. O frio que cortou o rosto de quem se atreveu a sair de casa trouxe também um anúncio que cortou, lá no fundo, o coração do futebol pelotense. O Coronel Ewaldo Poeta, que por décadas segurou firme com seu punho de origem militar o Grêmio Atlético Farroupilha, morreu aos 91 anos de idade, logo após ter realizado seu último sonho. Em 2018, o Farroupilha garantiu vaga na Divisão de Acesso do futebol gaúcho.
O que pode parecer pouco para uns foi a mina de ouro para quem, por 50 anos, assumiu a cara, os problemas e as dificuldades de viver em seu dia a dia o futebol em clube do interior do Rio Grande do Sul. Parece brincadeira do destino que, após grandes batalhas contra adversários que se sobressaíram aos gramados, o Coronel tenha tido tempo de vivenciar sua última grande alegria ao lado do seu grande amor tricolor. Foi dos bastidores que o maior apoiador do novo presidente do clube, Coronel Marcus Napoleão, orgulhou-se mais uma vez de viver sua vida em nome de três cores.
Falar do Farroupilha é falar do "Coronel Poeta". Falar de futebol em Pelotas é também rememorar seu nome. Poeta deu sentido verdadeiro à frase "dar o sangue pelo seu ideal". Viveu, respirou, lutou, honrou a história do clube no qual esteve à frente durante mais de metade de sua própria vida. Conquistas dentro de campo? Sua luta e história falam sobre muito mais do que apenas troféus. Foi ele o responsável por, em diversas vezes, não permitir que se fechassem as portas do Nicolau Fico, mesmo que para isso fosse preciso realizar empréstimos de seu próprio dinheiro ao clube ou colocar seu nome em empréstimos pessoais que visavam suprir as necessidades e despesas da instituição. Sabendo que este valor jamais voltaria integralmente a sua mão.
Ewaldo Poeta foi o passado, é o presente e sempre será o futuro do Grêmio Atlético Farroupilha. Tudo o que aconteceu, acontece e acontecerá com o tradicional clube pelotense sempre teve e terá o nome de seu maior e mais fanático torcedor. Um homem de aspecto doce, fala firme e pulso forte, foi exemplo para todos a sua volta. A história, a partir de agora, segue.
O Farroupilha ainda terá pela frente a final da Terceirona, a oportunidade de, dias após sua partida, presentear pela última vez seu grande Coronel. O clube certamente viverá dificuldades, inerentes a quem tenta, na garra, fazer futebol no Interior. No entanto, se em sua essência levar um pouquinho do que deixou de legado Ewaldo Poeta, a glória em algum momento voltará.