– Alguns homens ridicularizavam o que eu dizia, mas concordavam com outro homem que havia falado o mesmo.
A frase da estudante de Direito Thaís Odorissi Oliveira, 24 anos, em entrevista ao GaúchaZH sobre a presença feminina nos estádios e nos ambientes de debate sobre futebol, provoca angústia e incomoda. É o relato cru do que muitas mulheres já sentiram trabalhando com o esporte – ou simplesmente torcendo. O lugar da mulher nas torcidas, nos clubes e no jornalismo esportivo ainda não se tornou natural. Prova disso, por exemplo, é que apenas 13% dos profissionais que aparecem nos canais de TV fechada são mulheres, segundo pesquisa feita pelo portal Uol há pouco mais de um ano.
Os cânticos que vêm das arquibancadas ainda estão carregados de machismo – mesmo que o volume de vozes a entoá-los seja bem menor do que anos atrás. "Essa aí eu já comi" é uma das manifestações mais leves. Exemplo de resistência há nove anos, a Força Feminina Colorada, única torcida organizada exclusivamente feminina registrada no Estado, luta para dizimar o preconceito e lança hoje a campanha "Torce que nem mulher". A justificativa: não admitem mais sofrer insultos e se sentirem diminuídas pelo fato de serem mulheres, garantiu a presidente Malu Barbará.
Na Arena, as gurias do Comando Feminino Gremista, criado em abril passado, reivindicam reconhecimento do clube para legitimar a primeira torcida organizada só de mulheres no Grêmio. Na primeira oportunidade em que se reuniram na arquibancada, não foram bem recebidas. Kelly Plaz, uma das fundadoras, não baixou a cabeça: empenhou-se para mais do que triplicar o número de integrantes – de 50 para 170 – e promove churrasco com pagode antes dos jogos para que a mulherada debata futebol. Já são 200 integrantes.
O mesmo movimento cresce nas redes sociais: cansadas de lidar com preconceito em grupos no Facebook, três torcedoras criaram o Gurias do Grêmio. O motivo? Pasmem:
– Me sentia invalidada em outros grupos. Em espaços com homens, acabava não me manifestando porque via várias meninas sofrendo preconceito e virando chacota – diz a estudante Laura Jasper, 24 anos.
Neste Dia da Mulher, há pouco avanço a se comemorar. Mas há um alento enorme: que mais Thaíses, Malus, Kellys e Lauras inspirem outras a entrarem e terem voz nesse mundo que é formado majoritariamente por homens. Já que o espaço é de todos, não queremos nada além do que é nosso.