O Campeonato Internacional Juvenil de Tênis de Porto Alegre é um celeiro de grandes craques e por ele passam grandes personalidades e técnicos de renome do tênis mundial.
Quem acompanha e treina um dos grandes nomes do futuro do tênis argentino, a 20ª do mundo, Maria Carle, é o técnico local Marcelo Gomez, que formou Juan Martin Del Potro, top 10 mundial e campeão do US Open em 2009. Ele teve um papel importante no retorno do tenista após cirurgias no punho.
Gomez, conhecido como Negro no meio do tênis, trabalhou com Del Potro dos 6 até seus 19 anos e esteve com a estrela argentina em Porto Alegre na 26ª edição em 2004 além de outras feras que formou na pequena cidade do país chamada Tandil como Juan Monaco, que foi top 10 mundial, e Mariano Zabaleta, que esteve entre 25 melhores do ranking.
– O Campeonato Internacional Juvenil de Tênis de Porto Alegre está cada vez melhor, antes não era o maior, mas quando virou passamos a vir ainda mais. É o torneio mais importante que temos no continente, agora estamos aqui com uma jogadora que nasceu na nossa escola e no ano que vem viremos com mais jogadores de nossa academia – disse Gomez que nunca se tornou um tenista profissional por falta de recursos financeiros, mas realizou o sonho de virar técnico e viajar o circuito ensinando aos mais jovens a se desenvolver para o profissional.
Gomez conta que os segredos para Tandil ser tão forte na produção de jogadores é o trabalho, humildade e resiliência no circuito.
– Meu pai foi viver em Tandil e fui com ele, comecei jogar aos 12 anos, me encantava, treinava muitíssimo, como comecei mais tarde tinha que treinar mais para alcançar os outros e isso me deu um ensinamento muito grande, que depois pude transmitir aos atletas, o esforço, dedicação, humildade e trabalho e isso é o que usamos no nosso sistema em Tandil , sistema que seguimos fazendo jovens, estamos com Maria Carle, já tivemos Monaco, Del Potro, Zabaleta. Chegamos a ter uma época com cinco jogadores no top 100 e um top 10 adicionando o Máximo Gonzalez e Diego Junqueira.
Gomez conta que desde oito anos de idade Del Potro dava sinais que se tornaria um jogador diferenciado: "Fiquei com ele a partir dos 6 anos até os 19. Aos 8 anos ele jogava 10 anos e já se via que era distinto, aos 10 já jogava 12 e 14 anos, ele dava mais do que o esperava, sempre empurrava por mais e isso ajudou na minha carreira em como ajudar um jogador e trabalhar como desenvolvê-lo. Sabia que teria um cara alto de 1,90m havia que jogar para baixo, plano e terminou jogando um tênis moderno que é o que gostamos", apontou.
E porque não ficou com Del Potro? Negro explica que o circuito profissional passou a exigir muito de viagens e ele preferiu ficar com sua família. Tinha três filhos pequenos para criar. Então indicou Franco Davin que já trabalhava na escola de Tandil onde deu seus primeiros passos com Raul Perez Roldan. Apesar de não ser mais o treinador do argentino há uma década, Gomez teve e tem importante participação no retorno que Juan Martin depois de seguidas cirurgias no punho: "Não poderia mais viajar no circuito, seu pai quis que eu ficasse por conhecê-lo desde pequeno, mas passei ao Franco Davin de nossa academia. Ficamos treinando os três juntos por dois meses até o Franco se acostumar com ele. Apesar disso tenho muito contato com o Delpo em vários verões, pré-temporadas ele vai treinar conosco. Fica uns 15, 20 dias depois vai para Buenos Aires e para o circuito. Ele teve que começar do zero com o backhand depois da última cirurgia, armando o golpe para poder voltar a bater e trabalhamos bastante nisso. Na trajetória de seu retorno pensávamos que ele não conseguiria poder bater mais o revés como batia e hoje em dia está saudável e batendo como quer o que é bom pra ele e o tênis argentino", apontou Marcelo que acredita que o jogador possa voltar uma grande alegria local com o título de mais um Grand Slam.
– Ele pode voltar a ganhar um Slam, necessita tempo de trabalhar seu físico e seu revés. Em algum momento desse ou próximo ano encontrará boas semanas para voltar a ganhar com mais chances no US Open.
Marcelo é um dos três treinadores que está com cerca de 15 atletas de seu país na capital gaúcha para jogar um dos nove maiores eventos do mundo. Oitenta por cento destes estão com passagens e alimentação pagas pela Associação Argentina de Tênis. Não é algo muito diferente do que ocorre no Brasil no sistema de apoio. Mas então porque que na Argentina há mais jogadores entre os 100 melhores do que em nosso país? Para Gomez, que hoje tem cerca de 60 atletas na academia em Tandil - alguns do Brasil, Equador, Chile e Bolívia que usam as oito quadras, todas de saibro e com seis técnicos -, a resiliência é um fator e outro é o número de grandes treinadores que foram grandes jogadores.
– O tênis argentino tem muitos bons treinadores e isso faz com que os garotos saibam o caminho para chegar lá e entendam o sacrifício para estar lá, muitas vezes sem muito dinheiro. Qual é o segredo ? Simples, muito trabalho. E acreditar que pode, e nós acreditamos muito, podemos chegar lá e isso nos ajuda muito. No Brasil tem excelentes profissionais, jogadores, técnicos, juvenis, 1º do mundo Orlando Luz, muitos bons, mas na transição tem que fazer um esforço muito grande e os jogadores não conseguem e às vezes atrasam. Daqui saíram Guga, Meligeni e eles sabem como é, seria muito bom ao tênis brasileiro que grandes figuras, jogadores que tenham jogado um bom tênis estivessem envolvidos com o desenvolvimento. Agora Daniel Orsanic que ganhou a Copa Davis como capitão com todos nossos grandes jogadores é diretor de desenvolvimento, é uma coisa muito importante para nós.
O trabalho de Gomez com Maria Carle é apenas um dos que o treinador faz também com o tênis feminino local. Ele é o capitão da Fed Cup, a versão feminina da Copa Davis, que perdeu do Brasil no mês passado em confronto no Paraguai. É também a preocupação do treinador: "Estamos tratando de ajustar um problema do feminino onde temos poucas meninas jogando, temos jogadoras pelos 200, 300 e não conseguimos essa quantidade, estamos trabalhando na base e desenvolvimento. Vocês têm uma jogadora como Bia Haddad Maia em um nível altíssimo. Não temos uma top 50 como vocês,mas o resto é bem parecido, a vejo muito focada o que tem que contagiar outras meninas, se ela conseguiu eu posso também".